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DIAL P FOR POPCORN

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ALL ABOUT EVE (1950)



"All About Eve" foi o grande vencedor da noite dos Óscares em 1951, arrecadando 6 estatuetas (de entre as suas 14 nomeações no total), incluindo a de Melhor Filme. Infelizmente, nenhuma das suas protagonistas femininas, Anne Baxter e Bette Davis, ambas gloriosas no filme, conseguiram vencer Melhor Actriz, naquele que foi um ano atípico nesta categoria, com também Gloria Swanson, divinal em "Sunset Boulevard", a perder o prémio para Judy Holliday ("Born Yesterday") que era sem dúvida alguma a pior das cinco nomeadas.


Trailer (via YouTube):



Quem me conhece sabe o meu indelével fascínio por este filme. E não é para menos. Só quem não gosta de ver bom cinema é que ainda não viu "All About Eve". Não encontro outra explicação. Será talvez dos melhores filmes do século passado, ao nível de um The Godfather, Citizen Kane, Sunset Boulevard ou um Casablanca. E o que surpreende, acima de tudo, é que esta é uma comédia.


Uma comédia (dramédia, se quisermos) como poucas se fazem hoje em dia, claro está, mas não deixa de ser, de qualquer forma, uma comédia. O seu maior trunfo é o argumento. Joseph L. Mankiewicz criou, para mim, a maior obra-prima, em termos de argumento, do século passado - o diálogo é simplesmente genial, intelectual, fluído, sagaz e muito apropriado e aposto que deve ter sido uma maravilha para os actores darem de caras com aquele escrito, porque diz-se que caracterizava em pormenor TODAS as emoções e expressões que o personagem devia estar a apresentar naquele momento e no outro. Além disso, o próprio pano de fundo do filme e a forma bastante desapegada a estereótipos e a pré-estabelecimentos da escrita de Mankiewicz propiciam interacções brutais entre as personagens, de modo a que cada vez que se confrontam Margo e Eve, por exemplo, a tela pega fogo.


Bette Davis foi francamente estonteante como a über-diva Margo Channing, deliciosamente maléfica e com uma atitude dos diabos - já para não falar da sua falta de disposição para aturar gente inferior (além de ter sido o seu papel pivotal, aquele que nos fará recordá-la para sempre - nunca vi tão grande uso de olhos em expressões - terá sido a precursora de muitas víboras venenosas que terão agraciado o nosso ecrã desde então - comparada com ela, a Miranda Priestly de Meryl Streep em "The Devil Wears Prada" é uma doce criatura!) - mas também com enorme coração e coragem. Anne Baxter encarnou na perfeição a falsa ingenuidade de Eve Harrington, uma autêntica cobra venenosa disfarçada em cordeiro. A sua interpretação deixa-nos quase a cair do nosso assento, sempre à espera de que maldade ela há-de fazer a seguir. O engraçado é que nenhuma delas as duas era a escolha principal para os papéis. Claudette Colbert tinha inclusive já aceite o papel de Margo, até que um acidente a afastou e depois de quatro actrizes terem recusado o papel, este caiu nas mãos de Bette Davis. É inacreditável como isto aconteceu, tendo em consideração que a Margo Channing parece ter TUDO a ver com Bette Davis. O papel parece mesmo ter sido escrito para ela. Mas não foi.


O elenco de actores secundários, com grandes nomes à mistura, como Thelma Ritter, George Sanders, Gary Merrill, Celeste Holm e até uma certa indivídua de seu nome Marilyn Monroe, são excelentes e disputam bem as suas cenas. Nunca deixam que Davis ou Baxter os domine, conseguindo até desenvencilhar-se bastante bem nos duelos. Sanders (que venceu Melhor Actor Secundário - e justamente - pelo seu Addison DeWitt) e Ritter (que faz de Birdie, a amiga confidente de Margo com uma língua bastante afiada) são particularmente esplêndidos de ver. E todos têm momentos para brilhar. E todos têm falas de génio. Não é por isso de estranhar que o filme tenha tido cinco (!) actores nomeados para Óscar (as duas protagonistas, Baxter e Davis; o secundário Sanders - que venceu - e as secundárias Ritter e Holm).


Quanto à história... Margo Channing vê-se no meio de um pesadelo perturbador ao aperceber-se de que uma pobre rapariga que ela acolhe em sua casa, Eve Harrington, vai tomando o seu lugar, aos poucos e poucos, no seu trabalho, junto dos seus amigos e junto do seu marido. Se a princípio Margo pensava que estava a fazer um favor à coitada da jovem, ao ajudá-la a evoluir como actriz, as suspeições que mais tarde começam a surgir-lhe de que o objectivo de Eve poderá, não ser afinal, assim tão inocente quanto isso, levam Margo a libertar a sua fúria, mas ultimamente reclamando para si o que lhe pertencia. Entretanto, dotada de grande inteligência e de uma falsa naiveté que até irrita, Eve consegue penetrar no circuito social e nos píncaros de Hollywood, não olhando a meios para subir a pulso ao topo, nem que para isso tenha de pisotear todos aqueles que outrora lhe deram uma mão. Contudo, ela fica a perceber que a lealdade de todos para com Margo é bastante mais forte do que a admiração que todos lhe nutrem e compreende então que o negócio de ser uma estrela é muito solitário, rodeado de intriga e muita desconfiança.


Frase imortal:


«Nice speech, Eve. But I wouldn't worry too much about your heart. You can always put that award where your heart ought to be.»
- Margo Channing (Bette Davis)


Como é óbvio, um filme destes, ainda para mais com um tema destes - sobre os bastidores de Hollywood -, como é que não poderia ter-se tornado um clássico?


Nota: A


Argumento: A+
Realização: B+

Apreciação Individual:

Bette Davis - A+
Anne Baxter - B+
George Sanders - B+
Thelma Ritter - A-
Celeste Holm - B
Gary Merrill - B
Marilyn Monroe - B+