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DIAL P FOR POPCORN

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THE HELP (2011)




"You is kind. You is smart. You is important."



Quando penso que "THE HELP" podia ter sido o típico filme inspirador e emocional sobre a luta entre raças na véspera do movimento dos direitos civis, que se podia ter contentado em ser um filme inofensivo, bonito e optimista sobre a vida das criadas de raça negra no Mississipi dos anos 60, aquele género de filme que põe o género feminino todo de lágrima ao olho e de coração cheio e o público masculino à beira de um ataque de nervos, tal o sentimentalismo ao qual não consegue escapar, dou um suspiro de alívio. O livro de Kathryn Stockett está longe de ser perfeito (aliás, tendo em conta as reacções bastante díspares que obteve da crítica, nem sequer se pode dizer que o filme reúne consenso) e o pedido à Disney que apostasse no inexperiente Tate Taylor podia ter corrido terrivelmente mal. Felizmente, tudo se conjugou na perfeição para nos proporcionar um dos melhores filmes deste Verão, que agrada a todos, que faz pensar sem ser rigoroso na análise que faz à sociedade (nem Taylor deixa, cobrindo o filme de uma fotografia colorida, bonita e superficial que se sobrepõe à necessidade que poderíamos ter de abordar assuntos sérios, revelando uma falta de panache impressionante - mas que se percebe) e que, acima de tudo, nos presenteou com aquele que terá forçosamente de ser o melhor elenco do ano e uma das melhores interpretações femininas do ano.


Que o filme traga em si tanta faísca, tanto poder, tanta pujança deve-se em grande parte à cintilante interpretação de Viola Davis, que alcançou proeminência há três anos com um papel secundário em "Doubt" e que lhe deu a sua primeira nomeação para os Óscares da Academia. Com uma introdução daquelas e vinda esta de uma grande senhora do teatro, era de esperar que quando chegasse a sua hora de brilhar, Viola Davis entrasse com tudo. E assim foi. A sua Aibileen é a força motriz do filme, íntegra e impassiva, fazendo-nos ao mesmo tempo admirar a sua personagem e preocuparmo-nos com o seu destino. Aibileen Clark é uma ama e empregada doméstica de raça negra que já cuidou de mais de dezassete crianças de famílias brancas mas que tragicamente ainda não superou a perda do seu próprio - e único - filho. A sua vida nunca mais é a mesma quando ela aceita o desafio de Eugenia "Skeeter" Phelan (Emma Stone, a emprestar autenticidade e cor a uma personagem algo banal e estereotipada) - uma recém-graduada de Ole Miss que pretende deixar a sua marca no mundo do jornalismo e que não compreende os preconceitos dos da sua espécie para com as mulheres que de facto os criaram - de relatar o seu dia-a-dia enquanto criada das famílias brancas de Jackson, Mississipi. A ela se junta a sua melhor amiga e confidente Minny Jackson (a revelação, Octavia Spencer) que, no desespero do desemprego após confrontar a sua patroa Hilly Holbrook (uma firme e cruel Bryce Dallas Howard), vê a esperança corresponder-lhe ao arranjar trabalho junto de Celia Foote (uma incandescente e hilariante - mas de coração limpo - Jessica Chastain), uma bombástica loura que foi rejeitada, algo inexplicavelmente, pela restante alta sociedade. A estas mulheres se juntam ainda Sissy Spacek, Allison Janney e Cicely Tyson em papéis menores mas todos importantes no desenrolar da história - o filme é especialmente sagaz em conferir vitalidade e frescura a todas estas mulheres, de modo a que nenhuma acaba por parecer uma caricatura barata.


Embora a interpretação de Viola Davis não nos encha de gargalhadas como cada vez que a igualmente genial Octavia Spencer abre a boca, é-lhe permitido aqui "abrir o livro", pese a expressão: histérica, calma, temerosa, divertida, irada, ela percorre toda a palete de emoções e transforma a história de Aibileen e da sua amizade com Minny e Skeeter em algo mais, como se a sua vida e o relato de Aibileen por vezes se fundissem e se tornasse difícil compreender se o que Davis nos deixava antever das suas expressões, da sua luminosa face, das palavras que pronunciava é fruto da profundidade da sua caracterização ou são mesmo resultado das mágoas bem reais que Davis conheceu quando era mais nova.


Um retrato íntimo, caloroso, empático e emotivo de uma mulher demasiado destemida para o seu tempo, uma mulher de coração cheio de alma e amor, trazida à vida por uma actriz que é uma verdadeira força da natureza, ladeada por um elenco de imenso talento e qualidade do qual se destaca a tremendamente versátil Jessica Chastain (que está a ter um 2011 épico) e a extraordinária comediante que é Octavia Spencer, que rouba todas as cenas em que surge, "THE HELP" não procura fazer-nos pensar nem busca culpados ou vítimas. Só se preocupa em contar a verdade. Um filme longe de ser perfeito, ainda assim merece ser visualizado, mais não seja pela imagem valente e corajosa que projecta de mulheres que mesmo subjugadas nos mostram que lá por não terem nascido da raça certa não quer dizer que a sua dignidade não seja igualmente importante. 
Nota Final:
B/B+

Informação Adicional:
Realização: Tate Taylor
Argumento: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard, Allison Janney, Sissy Spacek, Cicely Tyson, Ahna O'Reilly
Banda Sonora: Thomas Newman
Fotografia: Stephen Goldblatt
Ano: 2011


DAFA 2010: Melhores Cenas e Encerramento




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

(Se pretenderem ver os prémios para trás, cliquem AQUI)

Chegamos, com as categorias de Melhor Cena Inicial e Melhor Cena Final, ao fim da minha premiação dos melhores de 2010. Esperemos que para o ano corra melhor e que seja mais rápido e organizado. Vamos a MELHOR CENA INICIAL.


Melhor Cena Inicial:
ANOTHER YEAR
BLACK SWAN #2
I AM LOVE 
THE KING’S SPEECH
THE SOCIAL NETWORK  #1
THE TOWN #3

É preciso um realizador com muita confiança para principiar um filme, também ele, a transbordar de confiança. A cena inicial de The Social Network, uma troca acesa de ideias quase impossível de acompanhar, tamanha a rapidez, e as consequências que despoleta esta discussão são a porta de entrada perfeita para um grande filme. A abertura de Black Swan, com Nina a sonhar, uma vez mais, com o Lago dos Cisnes que um dia sonha dançar como primeira bailarina da companhia, é também ela uma entrada de sonho para um filme com um foco muito intenso na psique, no sonho, na ilusão da mente. Finalmente e embora "The King's Speech", "Another Year" e "I Am Love" tenham muito boas cenas de abertura, escolhi a de The Town para fechar o pódio, porque consegue ser reminiscente, quase instanteamente, de outra grande cena de abertura de um dos melhores filmes de acção da última década ("The Dark Knight") e, ao mesmo tempo, completamente irreverente e original.


Falemos agora da MELHOR CENA FINAL:


Melhor Cena Final
BLUE VALENTINE  
L’ILLUSIONISTE
RABBIT HOLE #3
THE GHOST WRITER #2
THE KIDS ARE ALL RIGHT 
TOY STORY 3 #1

Resumindo isto de forma muito simples: seis finais perfeitos. Um que me deixa em total estado de desespero ("L'Illusioniste"), com o seu protagonista finalmente a sucumbir e a aceitar que a sua arte, outrora tão querida, não é mais admirada como devia e a partir para outra. Outro ("Toy Story 3") que é tão perfeito e humano e real e faz doer tão profundamente e nos estupefacta - afinal, estamos a chorar por brinquedos? Dois finais previsíveis, expectáveis e até mesmo desejáveis ("Blue Valentine" e "Rabbit Hole") - o primeiro, porque só assim poderia terminar aquela relação, desprovida já de amor, de afecto, de união, só a filha resta como símbolo do amor que já lá vai; o outro, porque depois da calamidade, depois da negação, depois da frustração, vem a aceitação, a paz interior, a esperança em dias melhores. Depois vem o outro, um retrato perfeito da família moderna, uma cena imaculada retirada da nossa vida de todos os dias: os pais deixam o filho na universidade, o casal dá as mãos, a família está bem e unida. Finalmente e talvez o mais enigmático de todos ("The Ghost Writer"): um homem nada extraordinário é, por força das circunstâncias, silenciado. A sua morte, que iria revolucionar todo o secretismo patente no filme inteiro, porque finalmente havia descoberto o segredo,  acaba por deitar por terra a esperança do espectador em ver solucionado o mistério. A passagem do envelope entre as pessoas, o choque patente na cara do político, folhas a esvoaçar quando o carro atropela o escritor fantasma. Poético, assombroso, real. Uma cena brilhante.


Aqui termino, então, as festividades de 2010. Agradeço por me terem acompanhado ao longo de quase um ano. "The Social Network" foi o filme mais galardoado, com cinco vitórias, seguido de "Black Swan" com três. Cá ficam as contas finais:

Filme: THE SOCIAL NETWORK
Filme Português: JOSÉ E PILAR
Filme Estrangeiro: LOLA
Animado: HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
Documentário: EXIT THROUGH THE GIFT SHOP

Elenco: THE KIDS ARE ALL RIGHT
Actor: BLUE VALENTINE (Ryan Gosling)
Actriz: RABBIT HOLE (Nicole Kidman)
Actriz Secundária: ANOTHER YEAR (Lesley Manville)
Actor Secundário: THE FIGHTER (Christian Bale)

Realizador: BLACK SWAN (Darren Aronofsky)
Argumento Original: THE KIDS ARE ALL RIGHT
Argumento Adaptado: THE SOCIAL NETWORK

Fotografia: I AM LOVE
Direcção Artística: THE GHOST WRITER
Guarda-Roupa: I AM LOVE
Maquilhagem: THE RUNAWAYS
Efeitos Visuais: INCEPTION
Efeitos Sonoros: INCEPTION
Edição: THE SOCIAL NETWORK

Peça Musical: BLACK SWAN (Perfection)
Banda Sonora: THE SOCIAL NETWORK
Banda Sonora Não-Original: TRUE GRIT
Canção Original: HOW TO TRAIN YOUR DRAGON

Poster: BLACK SWAN
Trailer: THE SOCIAL NETWORK

DAFA 2010: Melhor Realizador, Filme Estrangeiro, Filme Português e Filme




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Mais três categorias, sobre as quais não me vou alongar muito. Vamos primeiro a MELHOR FILME ESTRANGEIRO. Esta foi uma categoria relativamente pobre este ano, devido aos poucos bons filmes estrangeiros que nos chegaram a Portugal. Ainda assim, consegui compilar uma lista de 6 nomeados e 4 finalistas. Apetecia-me nomear os dez, mas na verdade decidi que tinha de ser coerente e reduzi para seis apenas. De fora ficaram "Biutiful", "In A Better World", "Incendies" e "The Edge", todos merecedores de uma nomeação, mas que infelizmente tive que abandonar em detrimento das minhas seis escolhas. Os meus nomeados são:



DOGTOOTH
EVERYONE ELSE #3
I AM LOVE
L'ILLUSIONISTE
LOLA #1
WHITE MATERIAL #2


Quem viu a minha lista dos melhores filmes de 2010 teria que suspeitar que para aqui passariam os filmes estrangeiros lá mencionados e portanto não é surpresa nenhuma ver cá "Lola", "L'Illusioniste" e "White Material". De "L'Illusioniste" disse: "Os últimos momentos do filme, em que seguimos um desapegado mágico sem nada que o prenda à sua vida antiga deixar tudo e todos e partir com fim incerto, abandonando assim subitamente a arte que tanto promoveu por tantos anos, são de trespassar o coração com uma faca. O resto do filme não é igualmente fácil de engolir - uma incrível metáfora de como tudo na vida, inclusive os gostos e as pessoas, mudam". Sobre "Lola": "Uma história de luta, de sobrevivência, "Lola" é mais uma peça inolvidável que Brillante Mendoza nos traz.". De "White Material": "Paisagens apaixonantes, mensagem apolítica, enigmática e bizarra película. Mesmo pairando a sensação de perigo eminente e revolução, Isabelle Huppert aí continua, firme, serena e impávida, como se nada a deitasse abaixo. Um filme extraordinário. Uma interpretação prestigiosa.". Os outros três filmes foram paulatinamente aparecendo como nomeados em outras categorias. "I Am Love" é de uma qualidade técnica prodigiosa, uma estreia de sonho do realizador Guadagnino e com uma enorme interpretação de Tilda Swinton no seu centro. "Dogtooth" pode ser estranho, misterioso, difícil de compreender, mas é também uma peça formidável de cinema e um dos retratos mais impressionantes e irónicos que já vi do que é a paternidade e do efeito que os pais têm nos seus filhos. "Everyone Else" foi uma adição tardia à lista dos melhores do ano. Se eu o tivesse visto antes, teria aparecido nos meus melhores do ano. Ainda assim, veio a tempo de figurar em várias categorias. Mesmo não abordando nada de novo, "Everyone Else" conta a história do fim-de-semana deste jovem casal como se narrasse toda a sua vida conjunta, alternando tristeza, raiva, delicadeza, paixão, sensibilidade, fragilidade, humor, conflito, angústia com aparente leveza e facilidade, explicando-nos que a base de qualquer relação são, acima de tudo, os pequenos detalhes, que tão facilmente juntam duas pessoas como as separam.


Um certame ainda mais pequeno serviu de base aos meus nomeados para MELHOR FILME ESTRANGEIRO. Admito que não vi muito cinema português em 2010 e gostava de ter visto mais. Ainda assim vi cinema português suficiente para perceber que 2010 foi um ano algo atípico e, por isso, ímpar na história do nosso cinema. Cá estão os nomeados, os três galardoados internacionalmente e todos com aclamação crítica (optei por três nomeados apenas porque penso que não tinha base para votar em seis):


JOSÉ E PILAR #1
MISTÉRIOS DE LISBOA #2
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA #3

Um dos meus nomeados é a obra épica - e última - de Raul Ruiz, "Mistérios de Lisboa", que condensa a prosa de lento passo e novelesca de Camilo Castelo Branco num monstro cinematográfico que nos consume, que nos incandesce e que nos persegue, do primeiro ao último minuto. Nenhum segundo é desperdiçado nas mais de quatro horas de filme. O outro nomeado é o nosso candidato aos Óscares de 2011, "José e Pilar", uma história de amor invulgar em formato de documentário, que narra a escrita do último livro de José Saramago, "A Viagem do Elefante" mas, mais do que isso, aborda de frente as fortes convicções e o temperamento difícil do Nobel português e, em simultâneo, nos faz perceber como foi fácil a Saramago apaixonar-se por Pilar. Finalmente, o meu terceiro nomeado é o mais recente filme do nosso velho mestre do cinema português, Manoel de Oliveira. "O Estranho Caso de Angélica" é enigmático mas encantador, simples mas puro e espiritual. Maravilhoso. Nunca a visão do sopro da morte foi filmada de forma tão bela.

Faltam duas categorias, possivelmente as mais importantes. Penso que, como até partilham bastantes semelhanças, vou anunciar as duas categorias juntas.




MELHOR REALIZADOR:

Darren Aronofsky, BLACK SWAN #1
Derek Cianfrance, BLUE VALENTINE
Ethan e Joel Coen, TRUE GRIT
David Fincher, THE SOCIAL NETWORK #2
Christopher Nolan, INCEPTION
David O’Russell, THE FIGHTER #3

Este ano, os Óscares acertaram em cheio nos nomeados. O único que eles nomearam e que eu não menciono aqui - aquele que, coincidência ou não, venceu - foi Tom Hooper ("The King's Speech"). De resto, estão cá todos: Darren Aronofsky, Ethan e Joel Coen, David Fincher e David O'Russell. Acrescentei a estes dois mestres máximos de controlo da atmosfera, do tom, da história, da direcção de actores e da realização: Derek Cianfrance e Christopher Nolan.

Se tivesse que falar de uma característica que trouxe cada realizador especialmente cá: diria que O'Russell está aqui pelo ritmo que imprimiu ao seu filme, Nolan pela mestria com que realiza o seu trabalho, Fincher pela confiança que transborda e que imprime no seu filme, os irmãos Coen pela qualidade inegável com que cozinham os seus filmes, Cianfrance pela naturalidade com que as cenas (e as interpretações) no seu filme surgem e se entrecruzam e finalmente Aronofsky pela sua extravagância e talento, bem exibidos em "Black Swan", do qual é sem dúvida para mim a parte mais forte. E é por este contributo tão valioso para o seu filme que é o meu vencedor ("Black Swan" não sairia assim nas mãos de mais ninguém).

E finalmente... MELHOR FILME. Não vou tecer grandes comentários, até porque já os fiz AQUI. Deixo-vos com os meus seis melhores filmes do ano e os meus três preferidos (se me seguem há algum tempo, saberão certamente quais são).



MELHOR FILME:

BLACK SWAN
HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
BLUE VALENTINE
#2
THE FIGHTER
THE KIDS ARE ALL RIGHT #3
THE SOCIAL NETWORK #1
 
 

L'ILLUSIONNISTE (2010)



A história de um mágico francês, profundamente deprimido e solitário, que viaja pelo Reino Unido à procura de apresentações pouco convincentes dos seus dotes de magia, é o ponto de partida para uma belíssima e inesperada história de amor, que nos é dada a conhecer pela "mão" de um dos mais irreverentes e adorados realizadores/argumentistas europeus: Sylvain Chomet. Depois de ter surpreendido a sétima arte com Belleville Rendez-Vous, Chomet consolida o seu lugar com mais uma história fantástica, desenhada com um charme e uma classe apaixonantes, que o transformam, com toda a legitimidade, num dos realizadores de culto deste início de século. Não há ninguém com Sylvain Chomet no cinema e o que ele faz, mais ninguém consegue fazer.


Mais uma vez, tal como no seu primeiro filme, L'illusionniste é marcado por poucos diálogos. As emoções estão todas "no papel". Cada um dos desenhos, com os seus gestos, atitudes e emoções das personagens, conduzem a história de uma forma tão sentimental quanto melodiosa, transformando os seus breves oitenta minutos em pouco mais de cinco deliciosos minutos de cinema. L'illusionniste cativou-me. É uma história de um amor trágico (e infelizmente, já revelei mais do que pretendia) onde um decrépito mágico, abandonado pela sociedade e pela magia da vida, se arrasta pelo mundo sem objectivos ou desejos. Quando conhece a jovem Alice, que o segue depois de um espectáculo, aceita-a como amiga e acolhe-a como sua companheira de viagem. Alimenta-a e veste-a com bonitos e requintados mimos.


Toda a relação entre estas personagens é uma complexa incógnita. Por mais que se veja o filme, nunca ficarei totalmente esclarecido sobre os verdadeiros sentimentos que nutrem um pelo outro e o significado da dramática e inesperada cena final. Se o leitor gostou de Belleville Rendez-Vous, também vais gostar de L'illusionniste. Não o acho tão brilhante quanto o primeiro, mas é igualmente um óptimo pedaço de arte.


Nota Final:
A-



Trailer:





Informação Adicional:

Realização: Sylvain Chomet
Argumento: Jacques Tati
Ano: 2010
Duração: 80 minutos

DAFA 2010: Melhor Fotografia, Direcção Artística, Maquilhagem e Guarda-Roupa





Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Arrumando agora com as categorias técnicas, cá vão quatro categorias de uma só vez: Melhor Fotografia, Melhor Direcção Artística, Melhor Maquilhagem e Melhor Guarda-Roupa. O comentário não vai ser muito alongado em cada uma para não ficar um artigo muito comprido.




MELHOR FOTOGRAFIA:
 
BLACK SWAN (Matthew Libatique)
ENTER THE VOID (Benoît Debie) #2
I AM LOVE (Yorick Le Saux) #1
SOMEWHERE  (Harris Savides) #3
WHITE MATERIAL (Yves Cape)
WINTER'S BONE (Michael McDonough)

Este ano foi especialmente forte em cenas e imagens memoráveis e por isso me custou tanto excluir da conversa fabulosos feitos como os de Harris Savides em "Greenberg", Jeff Cronenwerth em "The Social Network", Wally Pfister em "Inception", Anthony Dod Mantle em "127 Hours", Robbie Ryan em "Fish Tank", Pawel Edelman em "The Ghost Writer", Roger Deakins em "True Grit", Robert Richardson em "Shutter Island" e Adam Arkapaw em "Animal Kingdom". Não havia, no entanto, forma de negar a inegável qualidade do trabalho de Yorick Le Saux, delicado, luxuoso, sumptuoso e tão vivo e expressivo como a intepretação de Tilda Swinton. A fotografia de Benoît Debie de "Enter the Void" é, como o filme, electrizante e camaleónica, fruto de uma mente genial mas completamente louca. Igualmente enérgica é a fotografia de Matthew Libatique para "Black Swan", que em conjunto com a direcção artística e a edição ajudam a conferir um tom sombrio, cheio de suspense à trama. Harris Savides oferece a "Somewhere" um ar vibrante e encantador, quase poético até, que serve de pano de fundo a uma história que ganha muito da sua atmosfera e tom. "Winter's Bone" passa uma imagem fria, soturna e desconfortável muito graças à fotografia de Michael McDonough. E "White Material" apresenta-nos um excelente trabalho de Yves Cape, que nervosamente alterna entre as fantásticas paisagens africanas e os close-ups nas personagens.



MELHOR DIRECÇÃO ARTÍSTICA:
 
BIUTIFUL (Marina Pozanco) #3
DOGTOOTH (Stravros Hrysogiannis)
EVERYONE ELSE  (Silke Fischer e Volko Kamensky) #2
SHUTTER ISLAND (Dante Ferretti)
THE GHOST WRITER (Albercht Konrad) #1
THE KING'S SPEECH (Eve Stewart)
 
Engraçado que eu este ano tenha ficado muito mais impressionado com o exibicionismo do que com o minimalismo que é o meu tipo de direcção artística favorita. Marina Pozanco ("Biutiful") não poupou esforços em fazer tudo parecer o mais miserável, nojento e peculiar possível. Stravros Hrysogiannis ("Dogtooth") faz-nos recear o familiar e abraçar o esquisito. Eve Stewart ("The King's Speech") toma particular cuidado à estrutura e ao espaço e confere um acolhedor conforto a edifícios que de outro modo parecem frios, distantes, o que não serviria a história. Dante Ferretti ("Shutter Island") é a grande estrela do último filme de Scorcese, com uma produção artística impressionante, assombrosa e misteriosa, a fazer jus ao tom sombrio da película. Inicialmente queria obrigar-me a optar entre Albrecht Konrad ("The Ghost Writer") e Fischer e Kamensky ("Everyone Else") para o último lugar dos nomeados. A razão pela qual é-me difícil dissociar ambos é a semelhança no seu trabalho, em ambos os casos minimalista e em ambos os casos com segundas intenções, dado que as geniais casas que orquestraram para os respectivos filmes funcionam também como uma espécie de prisão metafórica de onde ninguém pode escapar incólume. Acabei por colocar os dois e excluir outro merecedor nomeado, "I Am Love", que seria a minha sétima escolha, por uma razão muito simples: é que eu considero que a fotografia ajuda mais ao ar sofisticado do filme do que a produção artística, ao contrário do que acontece com "The King's Speech", por exemplo (daí a exclusão deste dos nomeados para Fotografia) e por isso decidi por estes nomeados.
 


MELHOR GUARDA-ROUPA:
 
BLACK SWAN (Amy Westcott)  #3
I AM LOVE  (Antonella Cannarozzi) #1
INCEPTION
(Jeffrey Kurland)
MADE IN DAGENHAM (Louise Stjernsward)
THE RUNAWAYS (Carol Beadle)   #2
TRUE GRIT
(Mary Zophres)

A gradação de cor e a brilhante (literalmente) indumentária das bailarinas são mostra do belíssimo trabalho de Amy Westcott em "Black Swan". Também é a cor, mais vibrante e berrante, das roupas um dos grandes factores de sucesso de "Made in Dagenham", de uma diversidade e de uma originalidade impressionantes. Um espectacular exemplo de guarda-roupa moderno e contemporâneo pode ser visto em "Inception", no qual Jeffrey Kurland veste a equipa comandada por Cobb de forma visualmente sofisticada. Mary Zophres acerta na mouche no visual e no aspecto dos cowboys e foras-da-lei de "True Grit", num guarda-roupa memorável. Antonella Cannarozzi ("I Am Love") foi uma das boas surpresas do ano, ao conferir sensualidade e profundidade emocional à sua protagonista através dos vestidos que usa. Roupas gloriosas e luxuosas, arrojadas e sumptuosas, ao nível da Casa Recchi. Menos pomposo mas não menos fabuloso é o guarda-roupa de "The Runaways". Carol Beadle recria visuais icónicos para estas roqueiras extraordinárias com um enorme sentido de época, cor e estilo.



MELHOR MAQUILHAGEM:
 
127 HOURS #2
BIUTIFUL
BLACK SWAN
#3
THE FIGHTER
THE RUNAWAYS #1
THE WAY BACK


Nomeados estes fáceis de explicar, sendo um ano fraco para o pessoal da maquilhagem e penteados. "The Fighter" e "The Way Back" são escolhas óbvias, com cicatrizes e marcas de desidratação, que os personagens de ambos filmes transportam como símbolos da sua capacidade de auto-superação. "Biutiful" passando-se nos bairros pobres de Barcelona, ruas cheias de miséria e podridão. A transformação física de Bardem enquanto homem doente e a morrer é também um trabalho louvável. "127 Hours" ganharia sempre cá lugar, sobretudo depois da icónica cena da amputação. O resultado final, em termos visuais, é bastante credível. Juntem-lhe marcas de desidratação, face cheia de areia e terra e corpo dorido e cheio de cortes e pequenas feridas e cá têm um vencedor. Sofrimento físico é também palpável em "Black Swan", ao qual se junta uma magnífica cena em CGI com a saída das asas do corpo da bailarina. Por fim, chegamos ao melhor que esta categoria tem para oferecer. Num filme com estrelas - e maquilhagens - tão icónicas como as do grupo "The Runaways" de Cherry Currie e Joan Jett, era natural que o pessoal da maquilhagem brilhasse. E de facto a maquilhagem transforma-as completamente.



DAFA 2010: Melhor Actor




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

O bom de ter deixado os prémios principais para agora (não que tivesse sido propositado) é que posso olhar para 2010 com novos olhos, em retrospectiva, em busca de algo que não tivesse visto bem há meio ano atrás, quando redigi as minhas nomeações. Em resultado disto, esta categoria - Melhor Actor - teve uma mudança curiosa, a adição de uma interpretação que eu pensava que não ia permanecer comigo durante muito tempo.







MELHOR ACTOR:
Javier Bardem, BIUTIFUL  #2
Jesse Eisenberg, THE SOCIAL NETWORK  #3
Colin Firth, THE KING’S SPEECH
James Franco, HOWL (também por: 127 HOURS)
Ryan Gosling, BLUE VALENTINE  #1
Edgar Ramirez, CARLOS 


Ao contrário das actrizes, o ano não foi propriamente forte em grandes interpretações de actores. Não foi, por isso, uma tarefa assim tão complicada escolher estes seis nomeados. A merecer menção de qualquer forma, de fora ficou o trabalho quieto e subtil de Ewan McGregor ("The Ghost Writer"), a raiva controlada de Aaron Eckhart ("Rabbit Hole"), a forma impressionante como Jeff Bridges ("True Grit") transforma um papel inolvidável que deu um Óscar a outro numa personagem inteiramente sua, a interpretação medida, honesta e natural de Mark Wahlberg ("The Fighter") e a irrepreensível viagem de Lars Eidinger ("Everyone Else") de carinhoso e afectuoso a um autêntico mau carácter.

"127 Hours" e, especialmente, "Howl" mostraram-me um lado de James Franco que ainda não tinha visto. Se por trabalhos mais recentes já sabíamos que era talentoso, a transformação em estrela de cinema surgiu definitivamente com estes dois trabalhos, tão distintos e originais. Variedade, brilho e profundidade emocional são características que qualquer bom actor deve possuir, mas capacidade de conduzir um filme de duas horas sem nunca aborrecer o espectador só poucos actores de calibre conseguem. Franco é um deles. E fê-lo duas vezes este ano. Numa, foi subtil, misterioso e pensativo. Noutra, exuberante, entusiástico, humorado. Em ambas sucedeu plenamente. Jesse Eisenberg ("The Social Network") foi a descoberta do ano para muitos - não para mim que já tinha visto o que ele consegue fazer em "The Squid and the Whale", "Adventureland" e "Zombieland". Em "The Social Network", Jesse Eisenberg não falha uma vez na entrega das falas, não perdoa nas expressões e reacções e é capaz de mostrar desprezo, indiferença e simpatia quase em simultâneo, no espaço de segundos. Custa admitir que admiramos uma pessoa tão rude, arrogante, prepotente e condescente. Com uma confiança e uma naturalidade anormais para quem tem que intepretar alguém tão instantaneamente genial e icónico como Mark Zuckerberg contudo aproveitando para em certos momentos mostrar o quão fraco, invejoso, desconfiado e vulnerável ele realmente é, Eisenberg oferece-nos uma das maiores interpretações da década. De Colin Firth ("The King's Speech") já meio mundo falou e por isso eu pouco preciso de dizer. Não sendo tão impressionante como a sua interpretação em "A Single Man", é ainda assim um trabalho excepcional da sua parte. A química que tem com Geoffrey Rush e a forma como soube exibir tanto as qualidades como as fraquezas do seu Rei fazem desta interpretação uma das melhores da sua carreira e, por isso, merecedora do Óscar que recebeu.

Javier Bardem ("Biutiful") proporciona-nos a experiência mais realista, desconfortável e confrontadora que tive numa sala de cinema em 2010. Em "Biutiful", Javier Bardem entrega-se por completo a Innaritú e mergulha bem fundo na humanidade da sua personagem, fazendo-nos ver o mundo pelos seus olhos e chorar e sofrer com ele. Em termos de imersão, nesta categoria, só Ryan Gosling compete com ele. Em "Blue Valentine", Gosling está absolutamente irreconhecível. Disse eu na crítica ao filme, "imerso profundamente no personagem, conserva todos os elementos fundadores da sua personalidade ao longo das duas partes distintas da história, conferindo no entanto características diferentes aos dois estados de Dean. O primeiro Dean é um ser-humano completo. O Dean mais velho é uma sombra, um fragmento do seu "eu" passado, um homem de coração partido, destruído pela vida e pela dificuldade em manter uma relação que desde o início se revelou imensamente complicada de gerir e pela qual fez tudo. A sua dor é palpável e o seu sofrimento ao sentir a indiferença da mulher, mesmo ele dando tudo por ela, é de partir o coração." Mantenho tudo aquilo que disse. Finalmente, Edgar Ramirez. "Carlos" é, na sua essência, uma exposição dos talentos do actor que interpreta Carlos o Chacal. Ramirez não foge da imagem do bruto e temível terrorista, pincelando a sua interpretação de humanidade e calor que não deixam ninguém ficar indiferente e torna complicado detestarmos a pessoa.

Agora vocês: em retrospectiva, quais as interpretações de 2010 que ainda vos enchem as medidas?

DAFA 2010: Melhor Actriz




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Bem sei que é uma vergonha ainda não ter acabado isto mas tenham paciência, quero ver se levo finalmente algo até ao fim cá no blogue. Mais uma categoria - hoje uma das principais - Melhor Actriz


MELHOR ACTRIZ:

Annette Bening, THE KIDS ARE ALL RIGHT #2
Isabelle Huppert, WHITE MATERIAL
Nicole Kidman, RABBIT HOLE #1
Natalie Portman, BLACK SWAN
Paprika Steen, APPLAUS
Michelle Williams, BLUE VALENTINE #3
 
Num ano relativamente forte em termos de grandes intepretações femininas, foi difícil limitar-se a estes seis nomes para escolher as nomeadas para esta categoria, tendo em conta que de fora ficou Greta Gerwig, que foi perfeita e curiosamente inesquecível em "Greenberg", Ruth Sheen com um trabalho de uma subtileza e naturalidade admiráveis em "Another Year", a tempestuosa e impulsiva interpretação de Katie Jarvis em "Fish Tank", a taciturna e complexa Ree Dolly (Jennifer Lawrence) de "Winter's Bone", a brilhante e exuberante Birgit Minichmayr em "Everyone Else", a assustadora Kim Hye-Ja em "Mother" e ainda as interpretações honrosas e potentes de Tilda Swinton em "I Am Love" e de Julianne Moore em "The Kids Are All Right".

Arrumadas que estão as minhas menções honrosas, passemos às nomeadas. Annette Bening ("The Kids Are All Right") descobriu a comédia e a humanidade por detrás de uma mulher teimosa, desagradável e pouquíssimo altruísta, de difícil convivência e compreensão, de reacções imprevisíveis, sempre fazendo tudo parecer tão fácil. Natalie Portman ("Black Swan") força o seu físico até ao máximo numa interpretação fantástica, repleta de sensualidade, arte e emoção. Na busca incessante pela perfeição da sua personagem, a artista entrega-se de corpo e alma ao desafio. Como habitualmente, Isabelle Huppert ("White Material") nunca nos desaponta - uma mulher dura e complicada que luta ardentemente por se impor num local em que não desperta grandes simpatias. Que ela encontre formas de nos mostrar calor e simpatia através daquele exterior de pedra é um dom que poucas actrizes na actualidade possuem. Ela é, felizmente, uma delas.

Paprika Steen ("Applaus") é uma descoberta fascinante que credito na integridade a Nathaniel Rogers do The Film Experience, pois se ele não a tivesse mencionado e encorajado a visualização do filme, nunca teria visto "Applaus". Uma interpretação extraordinária, cheia de nuance e conflito, cheia de drama, desespero e auto-comiseração de uma actriz que agora, no fim de carreira, se vê perdida no mundo que nunca quis conhecer a fundo: a vida real. Se Ryan Gosling é absolutamente brilhante e impressionante em "Blue Valentine", é-o parcialmente porque tem uma parceira também ela a trabalhar a um nível bem elevado. Michelle Williams pega numa personagem ambivalente, indecisa, desconfortável na sua própria pele e transforma-a numa pessoa genuína, complexa e bondosa que consegue, por outro lado, ser totalmente auto-destrutiva e corrosiva para todos com que se cruza. Muita classe. Finalmente, a minha escolha para melhor do ano. Toda a gente sabe que Nicole Kidman é das mais ousadas e geniais actrizes que alguma vez surgiu no panteão do cinema. O que poucos ainda acreditavam é que Nicole Kidman pudesse conseguir, depois de vários falhanços que sucederam uma primeira metade da década inacreditável, uma interpretação tão fabulosa que iguale ou até ultrapasse os toques de brilhantismo com que polvilhou "Moulin Rouge!", "Birth", "Dogville", "The Hours" ou "The Others". Em "Rabbit Hole", ela mergulha na profunda depressão e tristeza da personagem, nunca nos deixando perceber o que vai na mente de uma mulher em luto pelo filho tão amado que acabou de perder. Por isso a escolha cuidada de cada reacção, de cada emoção. Incrível a forma desorientada como fica quando perde o seu norte, quando a obrigam a falar sobre o assunto. E inacreditável a serenidade e calor que emanam de uma mulher a quem parece ter sido arrancado as entranhas.


E vocês, que interpretações femininas vos chamaram a atenção em 2010? (agora em retrospectiva: que interpretações ainda permanecem convosco do ano passado?)

DAFA 2010: Melhor Poster e Trailer




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.

Em mais uma tentativa de acabar (finalmente) com os prémios de cinema - até porque os premiados em televisão estão já ao virar da esquina - aqui vão mais duas categorias dos meus prémios, Melhor Poster e Melhor Trailer.




MELHOR POSTER:
BLACK SWAN - #1
CATFISH
FISH TANK
I AM LOVE - #2
THE ART OF THE STEAL
THE RUNAWAYS - #3

Finalistas:
"Enter the Void"
"Happythankyoumoreplease"
 "Monsters"
"The Social Network"


Pelo impacto, pelo arrojo e pelo belíssimo efeito artístico presente em todos os posters, principalmente o conjunto internacional (aqui, aqui e aqui), "Black Swan" é presença obrigatória nesta lista. Para representar toda a colecção, escolhi este que é o meu favorito. Pela beleza, pela elegância, pela grandiosidade e pelo lírico estilo de letra, "I Am Love" é outra escolha inquestionável. O efeito aquário no poster alternativo de "Fish Tank" é merecedor de menção só por si, mas a ousadia por detrás do conceito torna-o realmente especial. "The Runaways" é exímio na forma como promove o assunto do filme não se impondo nenhum limite, vendendo pura sexualidade e irreverência. Icónico. "Catfish" consegue executar um conceito que poderia ter sido bastante errado, criando curiosidade pela forma como interliga as redes sociais e a expressão "Don't let anyone tell you what it is". O uso do estilo de letra e formato do Facebook e os usa para criar uma sombra estranha é um bónus delicioso. Finalmente, o design de "The Art of the Steal", reminiscente deste design de "Small Time Crooks", é inteligente, inspirado e apropriado, usando recortes de jornais. Brilhante impressão que deixa em quem vê o poster, criando interesse para o documentário.


MELHOR TRAILER:
BLACK SWAN - #2
INCEPTION (aqui)
SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD (aqui)
SHUTTER ISLAND (aqui)
THE SOCIAL NETWORK - #1
TRUE GRIT - #3

#1:



Ousado, emocionante e, admitamos, um pouco bizarro.

#2:



Provocante, louco, chocante? Isso tudo e muito mais.

#3:



Poderoso, excepcionalmente bem editado, excitante. Tudo aquilo que um bom trailer deve ser.

Especial Animação: HOW TO TRAIN YOUR DRAGON (2010)


Há filmes especiais. Há filmes que parecem surgir na tua vida em determinada altura por pura circunstância do acaso mas que, no entanto, parece mais trabalho do destino. Este "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" é um deles. E agora vou ter que contar isto para vos pôr dentro do contexto: Recentemente adquiri um gato. Eu, que sempre gostei de animais mas nunca me havia aventurado a tomar realmente conta de um. E desde que o tenho que me apaixonei perdidamente pelo bicho. De tal modo que imaginar agora a minha vida sem ele põe-me logo num semblante triste. É por isto que a narrativa e a mensagem deste filme me dizem tanto. Porque na verdade quando olho para Toothless vejo o meu gato. E vai-me ser impossível ver o filme com outros olhos, não importa quantos milhares de vezes eu repita essa visualização.


Além desta circunstância feliz, "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" marca também a primeira incursão da Dreamworks em territórios e temas mais sérios, mais adultos, como a perda da inocência com o fim da infância e a entrada na adolescência, como a perda de um amigo e como a capacidade de sobrevivência. Coincidência ou não, é hoje o filme mais criticamente aclamado e aplaudido da Dreamworks, a milhas dos dólares que a franchise "Shrek" fez entrar nos cofres da empresa de Steven Spielberg mas, para compensar, uns bons furos acima, em qualidade, do velho ogre verde.


O filme narra a história de Hiccup, um jovem guerreiro viking, caçador de dragões aprendiz, que dá de caras com um dragão ferido, o perigoso Nightfury, que ele passa a chamar por Toothless e com quem forja uma improvável e poderosa amizade que irá expor a cada um deles o mundo do outro por outros olhos. Através dele, Hiccup começa a perceber que os dragões não são os seres maquiavélicos e demónicos que o seu povo considera, mas sim animais inteligentes, afáveis e até carinhosos, se tratados de forma respeitosa. Juntos, terão que ser eles a força que faz a diferença e mudar a mentalidade do povo viking para quem os dragões são pouco mais do que objecto de caça. 


Uma das razões pela qual "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" resulta tão bem reside na inventiva animação do dragão Toothless. Com maneirismos próprios do nosso gato ou cão de estimação, com movimentos majestosos e com um aspecto a princípio ameaçador mas em seguida dócil e fofinho, Toothless é, sem dúvida, o primeiro motivo pelo qual nos apaixonamos pelo filme. A segunda razão é o facto da narrativa premiar Hiccup pela sua atitude gentil e amigável perante os dragões. Poucos protagonistas de histórias de acção são tão corajosos quanto bondosos, tão bravos quanto sensíveis. Ele não é atlético - é forte mentalmente. Ele é um pacifista - só se envolvendo na guerra entre vikings e dragões porque é obrigado. A sua relação com o seu dragão é das mais comoventes que eu já vi na grande tela - no fim de contas, ele é um rapaz que ama o seu animal e tudo faz por ele. Quem não se iria identificar com isso? Um pequeno milagre, este argumento de DeBlois e de Sanders. O terceiro motivo - e talvez o mais importante para que tanta criança goste do filme - são as épicas, mágicas e intensas sequências de voo e cenas de acção, do mais alto quilate em termos de animação. A Dreamworks finalmente mostra alguma evolução a este nível, com a fotografia - sob supervisão de Roger Deakins - a ser um dos pontos altos do filme. E um dos poucos filmes que posso dizer que faz bom uso do 3D.


O quarto ponto alto é a prodigiosa banda sonora de John Powell. Confesso que pouco conhecia da carreira deste compositor em Hollywood, tendo-me forçado depois de ver o filme a escutar outras bandas sonoras da sua autoria e a concluir o óbvio: apesar de ele ter trabalhos muito bem conseguidos antes, nunca atingiu o nível de brilhantismo e consistência, durante um filme inteiro, como o fez aqui. A banda sonora é entusiasmante, eleva-nos o espírito, alegra-nos ou entristece-nos em meros segundos. É absolutamente brilhante - e imensamente merecido que tenha recebido a nomeação para o Óscar. De resto, só uma pequena palavra para o elenco - e que elenco! Jay Baruchel encaixa na perfeição no corpo e no tom de Hiccup, Kristen Wiig e TJ Miller são hilariantes como os gémeos Ruffnut e Tuffnut, America Ferrera dá um toque de classe a Astrid, Jonah Hill e Christopher Mintz-Plasse, como de costume, providenciam a comédia física e mesmo Craig Ferguson e Gerard Butler destacam-se positivamente pela desinibição em aparvalhar um pouco as suas personalidades mais sérias.

De qualquer forma... Faz-me feliz que a Dreamworks tenha finalmente encontrado um filme no qual tudo aquilo que faz de positivo realmente ajuda a dar uma cor e um toque diferente a uma história invulgar e que tenha conseguido juntar um grupo imenso de gente de qualidade em torno do projecto. Não, não é tão bom como alguns Pixar - ainda assim... quão errado pode ser amar tanto um filme assim, querer abraçá-lo e jamais largar? Quero um Toothless só para mim - e isso, meus caros, diz tudo. Este filme não é perfeito, longe disso até. Mas era o filme que eu precisava na altura em que ele me surgiu e, por isso, nunca hei-de esquecer as emoções que vivenciei no dia em que o vi. "Toy Story 3" pode ser a história de sucesso do ano em termos de animação; contudo, para mim, o ano trará sempre a memória de como aprendi a treinar o "meu" dragão.

Nota: 
A-

Ficha Técnica:
Ano: 2010
Realizador: Dean DeBlois, Chris Sanders
Argumento: Dean DeBlois, Chris Sanders, William Davies
Banda Sonora: John Powell
Elenco (vozes): Jay Baruchel, Gerard Butler, America Ferrera, Jonah Hill, Christopher Mintz-Plasse, TJ Miller, Kristen Wiig, Craig Ferguson, David Tennant, Ashley Jensen



SENNA (2010)



"O facto de eu acreditar em Deus, o facto de eu ter fé em Deus, não quer dizer que eu seja imortal, não quer dizer que eu seja imune. Eu tenho tanto medo quanto qualquer outra pessoa de me machucar."


Senna é um documentário intenso e emocionante, obrigatório para qualquer fan do automobilismo e, em especial, da Fórmula 1. Relata, de uma jeito muito fiel e pessoal, os principais anos da carreira de um dos mais marcantes desportistas da história, cuja vida terminou de forma precoce e fatal num brutal acidente de automóvel quando este liderava o Grande Prémio de San Marino, em 1994.


A grandeza da figura de Ayrton Senna, para os mais sépticos, pode ser facilmente testemunhada nos relatos e imagens que este documentário nos faculta. Senna marcou, sem dúvida, uma das mais gloriosas páginas da história do Brasil. Um corredor de uma destreza invulgar na pista, com uma coragem e bravura que o tornavam capaz de arriscar nos momentos decisivos, à qual se aliava uma simpatica e humildade incaracterísticas em personalidades do seu calibre, transformou-no num ídolo do povo, amado, admirado e profundamente respeitado. Um exemplo para uma sociedade em reconstrução num período pós-ditaturial, que se agarrou há imagem de um jovem, cujo talento e personalidade, o permitiram chegar ao ponto mais alto do automobilismo mundial, sendo reconhecido como um dos mais especiais pilotos de sempre.


Senna está muitíssimo bem produzido e estruturado. É uma homenagem que respeita e dignifica o estatuto que Ayrton conseguiu em vida e garante que a sua mensagem, a sua história e o seu valor não fiquem, nunca, esquecidos.


Nota Final:
A-


Trailer:





Informação Adicional:
Realização: Asif Kapadia
Argumento: Manish Pandey
Ano: 2010
Duração: 162 minutos