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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

Brincar à imitação dá direito a Óscar?

É uma aflição que me dá este "The Imitation Game". Filme de Óscar que mais quer ser filme de Óscar não há. Todavia, não duvido que o Morten Tyldum lá tenha lutado contra todos esses instintos o mais que possa, porque o filme mostra-se muito mais do que o Harvey Weinstein merecia.

 

Por um lado, bastante para gostar e degustar, nomeadamente a melhor interpretação da Keira Knightley em muito tempo, a acertar todas as notas que o filme lhe pede e a emprestar muito necessário carisma e personalidade a uma personagem que construída por uma actriz com menos capacidades, ia acabar como ruído de fundo e uma história pouco conhecida e de inegável valor, que aborda um prisma diferente da II Guerra Mundial e, acima de tudo, com um personagem caricato e difícil de ler que acaba, de forma surpreendente, por ter um papel muito activo no desfecho de uma das grandes calamidades sócio-políticas do passado século.

 

Por outro lado, a quantidade ridícula de "imitações" de má espécie que o filme contém tira-me do sério, desde Cumberbatch a roubar truques ao Sherlock, o moço de "Downton Abbey" que deve ter-se enganado no set de gravações, o Matthew Goode a aperfeiçoar a arte de ser o Matthew Goode em tela grande, o Charles Dance a dosear o veneno que costuma dispensar ao seu Tywin Lannister, o Mark Strong em mais um papel em que não se sabe bem se é vilão, se é boa pessoa e sobretudo - o pior dos crimes - a primeira vez que vejo o Alexandre Desplat a reciclar material. Tira-se o trecho de abertura e o resto é uma amálgama de tudo aquilo que faz dele o maior compositor do século XXI (sim, tenho dito). O filme também pede emprestado umas dicas aos seus colegas britânicos contemporâneos, sobretudo a uma certa e respeitável película que venceu o prémio máximo da Academia há cinco anos, que tenta imitar à força toda - mas pelo menos fá-lo naquilo que esse filme é bom. De tão bem que imita, "The Imitation Game" não aprende a lição fundamental, sofrendo também do mesmo mal de "The King's Speech": tem um protagonista que é paradigmático de uma dicotomia (ou indecisão) do filme entre abordar mais especificamente - e mais aprofundadamente - o seu protagonista. Se em "The King's Speech" pouco se retira de George VI, em "The Imitation Game" temos um filme com um protagonista homossexual que tem medo de mostrar esse mesmo protagonista nesse ângulo. 

 

 

Resumindo: é uma aflição que me dá este "The Imitation Game". Um filme indubitavelmente sólido e um bom produto de entretenimento, muito arrumado e apresentável (impecável trabalho a todos os níveis por parte de praticamente toda a gente), prazeiroso e inteligente em vários momentos, mas que me deixa com um ataque de azia quando me lembro o que poderia ter sido esta história e esta personagem nas mãos de alguém mais temerário a escrever e a realizar.  

STILL ALICE* (ou o filme que deu o Óscar à Juli)

Há três anos escrevi um dos artigos mais visitados no antigo estaminé sobre esta maravilhosa artista que é Julianne Moore. Na altura disse:

"Uma actriz sem nada mais a provar, JULIANNE MOORE continua a mostrar, ano após ano, mesmo aos cinquenta e dois anos, por que razão é considerada uma das maiores actrizes da indústria e, diria até, de sempre."

 

Hoje reitero este apreço que tenho por ela, que mais dois anos volvidos, juntou ao seu naipe de cartas as interpretações em "Game Change" e sobretudo este ano em "Maps to the Stars" e "Still Alice", pelo qual futuramente será coroada como melhor actriz de 2014. Alice Howland, Havana Segrand, Cathy Whitaker, Laura Brown, Linda Partridge, Barbara Baekeland, Sarah Miles, Amber Waves, Marian Wyman, Carol White. Além de brilhantes retratos de mulheres especiais, todas partilharam a alma com a atriz que lhes deu vida: Julianne Moore, que faz o seu trabalho parecer espectacularmente fácil.

 

 

Não é fácil atravessar a ténue linha entre a farsa e a naturalidade quando se interpretam personagens com deficiências ou doenças. Julianne Moore fá-lo com a simplicidade e a precisão com que consegue tudo o resto. A sua Alice é indescritível, única, completa. Um ser humano com uma vitalidade e uma clareza que só uma actriz de imenso gabarito a poderia envolver de tanto amor, tanto afecto, tanta coragem, tanta solidão. A sua Alice tem uma vida cheia - e nós só a conhecemos já ela está a terminar. Um espírito imenso, inquebrável pelo declínio irreversível e fulminante provocado por esta terrível doença. 

 

Quando a abandonamos, Alice já quase não é "Alice" e o silêncio que perdura vale mais que mil palavras de um diálogo, deixando-nos visivelmente destroçados. A última vez que me senti tão comovido por uma interpretação que envolve esta magnitude de transformação física e psíquica envolvia uma octagenária (Emmanuelle Riva) no seu último suspiro de vida. Também aí o coração parte-se-nos ao ver uma mulher outrora independente e presente desaparecer perante os nossos olhos.

 

 

A profunda tristeza que nos assome é mais do que natural - o sufoco e desespero que Alice sente ao ver toda a sua história, todas as suas memórias, tudo aquilo que faz ela ser o que é, passa para o lado de cá do ecrã como uma valente bofetada. No bom sentido.

 

Compassivo, sensível e doce, "Still Alice" é um filme modesto, pequeno, com um objectivo muito bem definido, no qual sucede admiravelmente. Competentemente realizado, fotografado, editado e interpretado, poder-se-ia ambicionar que o filme quisesse mais para si próprio. Abordar melhor o papel do cuidador, as emoções e as tribulações que atravessam a cabeça do marido e dos filhos de Alice. Focar-se mais em outras pessoas em redor de Alice que não a sua família directa. O mundo parece fechado em "Still Alice" - e dado que Lisa Genova, autora do livro, procurava mostrar o lado do paciente, é mais que natural. O filme, seguindo o mesmo rumo, acaba por nos propiciar um verdadeiro espectáculo a solo de Julianne Moore. Penso que ninguém se terá importado.

 

Uma menção final para Ilan Eshkeri. Trabalho sólido há anos, a merecer subida de escalão para as grandes produções.

 

 

 

 

WHIPLASH, de Damien Chazelle

À Birdman:

"WHIPLASH, ou O Inesperado Narcissismo de um Artista" 

 

 

Eu gosto de um bom filme sobre o sacrifício na arte. E gosto de jazz. Não gosto, contudo, quando um filme que tanto é aclamado por abordar estes temas não tem uma ideia que de jeito se aproveite sobre eles, nem sobre originalidade, criatividade, talento ou inspiração. Um filme que ironicamente celebra a moral de que ser um sacana intratável é que resolve as situações e que apresenta uma ideia tão distorcida quanto parva de um vale tudo entre um artista torturado (Milles Teller a contrariar registo recente e a fazer de choninhas) e um louco sadomasoquista desde que no final o rapaz chegue "lá" (onde, especificamente, não importa). 

 

Olhem para o esforço do gajo. Tanto suor, tanta bolha, tanto sangue. Não vai aguentar, não tem hipótese. Olha para aquele mentor, que sádico, que demoníaco, que tortura física e psicológica, não se faz. E olha esta música tão acelerada. E olha para ele a dar-lhe cada vez mais rápido. Até a mim me está a dar uma taquiarritmia. Só que não.

 

 

Cinco minutos do JK Simmons (que está bem, de facto, embora só lhe dêem uma nota para entoar ao longo de todo o filme) e já dá para tomar o gosto a todo o arco da personagem. Claramente que o Sr. "ninguém estraga a minha banda" faria precisamente isso só porque acredita que um dos seus alunos pode ir mais além. Plausibilidade. Um grande problema deste "Whiplash".

 

(esperem, ainda estou a palpitar com a sequência do moço a praticar para o grande espectáculo final, a fazer inveja à sequência de treino do "Rocky"...Também tocou a "Eye of the Tiger" lá pelo meio dos tambores e dos pratos a serem percutidos a alta velocidade ou fui eu que imaginei coisas? Não?)

 

E que dizer de uma cena na transição do segundo acto que é tão ridícula quanto surreal que só serve para repisar - uma vez mais, porque as vezes que já tinham sido intuídas ao longo do filme não eram suficientes - que o rapaz é capaz de morrer pela sua arte. Que dizer ainda da introdução da personagem feminina que só serve para o filme poder cumprir uma checklist de eventos narrativos (bem como o pai) para poder avançar o enredo (momento! momento! momento! - uma manta de retalhos de cenas críticas, coladas com a perfeição de um relógio suíço, disfarçadas na coesão pelo conteúdo musical que ensurdece até o mais atento dos espectadores). Que dizer, só para terminar, daquela cena final (depois das múltiplas vezes que revirei os olhos por não conseguir conter mais o meu cepticismo) que só pode ser possível no mundo de um esquizofrénico? É que no mundo real não é seguramente.

 

 

Se calhar o problema é meu por não me ter embrenhado na experiência. Style over substance. Será isso? Este Chazelle parece que andou a ver como imitar o "Black Swan" e outros semelhantes. Até técnicas semelhantes às do Aronofsky usa. Só que onde este usa a iconografia e simbolismo para acrescentar profundidade à cada vez maior deteroriação psíquica da sua protagonista, Chazelle aplica para relembrar (como se fosse preciso) que o esforço do rapaz na sua busca pela perfeição está a ser demasiado para ele aguentar. Uma vira louca, o outro colapsa da ansiedade e cansaço. Nem comparemos a riqueza estilística de ambas as abordagens.

 

No final do dia, pouco sumo consegui retirar do que "Whiplash" quer dizer, mesmo sobre a sua própria história do custo de ser uma lenda. O que é, afinal, ser grande? Não deu para perceber. Não desminto que o filme é interessante, todavia tentar fazer dele uma obra prestigiante, sobretudo quando nos lembramos da queda virtiginosa da plausibilidade da película quanto mais o filme progride e quando, no fundo, o filme pouco mais parece do que a curta-metragem que lhe deu origem em loop... É esticar a corda.

[Caça ao Óscar]: Montanha Russa

A Caça ao Óscar é uma nova rubrica (que espero lançar todas as segundas) em que discutimos as movimentações, qual tabuleiro de xadrez, na corrida aos principais prémios - sobretudo os Óscares da Academia.

 

Estamos num ano de corrida aos Óscares bastante interessante. Bem, quer dizer, se excluirmos a previsibilidade de Julianne Moore ser coroada melhor actriz (e até que enfim, bem merece ela um ano de rolo compressor), bem como J.K. Simmons e Patricia Arquette limparem tudo o que é prémio à face da Terra. Arrumando esses três troféus que estão, de facto, já resolvidos, a situação adensa-se, com a atribuição dos Screen Actors Guild (SAG) e dos Producers Guild Awards (PGA), os prémios dos actores e dos produtores, esta semana, a darem umas pinceladas de mistério a duas corridas que pareciam decididas. Eu sei que parece pouco, mas com a Academia, é gigante.

 

 

O Eddie Redmayne, assim devagarinho, vai arrancando o troféu das mãos do Michael Keaton. Parece impossível, pensam vocês, como é possível um veterano actor tão respeitado como o Keaton não ter a estatueta quase garantida. Pois. É que o pintarolas do Redmayne é britânico (pontos bónus instantâneos - ou não fossem os SAG lembrar-nos ontem que ainda passa na televisão Downton Abbey, tal a obsessão que os americanos têm com o reino de sua Majestade), tem charme na carpete vermelha (coisa em que o pobre do Keaton já não se safa) e faz de Stephen Hawking - que, caso não saibam, é uma pessoa viva (mais pontos), famosa (mais pontos), com uma deficiência/doença grave (pontos infinitos). As contas não estão muito favoráveis para o antigo Batman, não é verdade?

 

A situação até parecia bem encaminhada: cada um levou o seu Globo para casa, depois um Critics' Choice para o Keaton e parecia que os SAG também iam tombar para o Keaton (actores a premiar actores, seria natural que aquele que trabalhou com mais gente na sala ganhasse) e os BAFTA iam coroar o Redmayne, levando a corrida até ao fim. Ora que os SAG, tão dados a seguir a corrente (ou não), premiaram o Redmayne. Resta-me dizer que 17 dos últimos 20 vencedores do SAG levaram o Óscar para casa, os últimos dez consecutivamente (incluindo moços como o Jean Dujardin). Logo... Pobre Michael Keaton. É possível recuperar? Bem, eu acho melhor o Eddie começar a preparar o discurso...

 

 

A outra grande reviravolta na corrida que saiu dos SAG ontem à noite foi a vitória de "Birdman" para melhor elenco. À partida, não quer dizer nada ("American Hustle" venceu em 2013, por exemplo; "The Help" em 2012). Mas se juntarmos a vitória nos PGA começa a cozinhar-se aqui algo de interessante. É que com isto tanto "Boyhood" como "Birdman" têm um precedente peculiar que se coloca contra eles na corrida - e para um deles ganhar, vão ter que quebrar recorde. 

 

"Birdman" será, vencendo o Óscar, o primeiro filme em 26 anos (desde "Ordinary People") a vencer o prémio sem nomeação para melhor edição (uma das categorias da parte inicial dos Óscares que costuma indicar qual o vencedor; uma espécie de boost das apostas, se quiserem). "Birdman" tem ainda a agravante de ter perdido o Globo (para "Grand Budapest Hotel") e o Critics' Choice (para "Boyhood"). Há uma semana atrás estava arrumado. Agora, parece muito em jogo. Game point: Boyhood.

 

Mas esperem lá: o PGA normalmente alinha sempre com o vencedor do Óscar, só não o tendo feito em 3 anos (2003-2006) nas últimas décadas. E o PGA é o único precursor, como o Óscar, que é votado por boletim preferencial. Se somarmos o SAG, a percentagem de acerto ainda cresce mais. "Boyhood" seria o primeiro filme desde "The Departed" a vencer o troféu sem vencer o PGA. Estou a ver um "The Social Network"-gate a repetir-se. Game point: Birdman.

 

Ficamos à espera do que o DGA e os BAFTA ditarem. O primeiro, apesar de ser o prémio dos realizadores, consegue ser o melhor precursor para adivinhar o Óscar de melhor filme (uma ironia parva, a meu ver). Os segundos adoram ser patriotas por isso não se admirem de ver "The Imitation Game" fazer um saque nas categorias quase todas, salvo Redmayne.

 

O que ao menos me deixa contente é que se a corrida for entre "Birdman" e "Boyhood", todos ganhamos. São duas grandes conquistas por parte dos respectivos realizadores. Um deles um empreendimento brutal construído do nada ao longo de doze anos, uma experiência vital e efervescente do que é o cinema independente norte-americano. O outro uma quase obra-prima de um realizador na plena posse das suas capacidades, que englobando um elenco de luxo constrói uma lição sobre o narcissismo e espírito crítico do ser humano e do seu infinito potencial para se reinventar e ultrapassar obstáculos. Nenhum é o típico "filme de Óscar". Ambos me admiram conseguirem chegar a esta fase com aspirações legítimas a vencer. 

 

Eu só espero é que o "American Sniper" não venha arruinar os festejos. É que aquele pastelão do Clint já vai com 200 milhões de dólares ganhos na bilheteira. Já devia saber que o Dirty Harry não é para brincadeiras, mesmo aos 84 anos.

 

Um breve regresso com os meus favoritos de 2013


Não podia ficar sem vir cá no dia mais importante do ano para o cinema, não é? Eu nem cheguei a avisar da minha pausa, por isso fica aqui oficializado: até a inenarrável Prova Nacional de Seriação ter sido realizada (que deverá ocorrer por volta da quarta semana de Novembro), o Dial P For Popcorn está em hiato. Depois disso, a festa retoma cá no estaminé - de preferência, já com o João e o Gustavo de volta. Espero que não se zanguem com a nossa ausência - e que voltem quando nós regressarmos.

Dito isto: logo à noite são os Óscares! E depois de um ano descolorido e desprovido de magia na categoria principal, eis que voltamos a ter duelo de titãs à 2010, só que desta vez os protagonistas são o irrepreensivelmente emocional "12 Years a Slave" e o visualmente impressionante "Gravity" (com o entretido "American Hustle" a correr por fora). Qualquer um que ganhe, será um excelente filme, o que reflecte claramente, para mim, o óptimo ano cinematográfico que tivemos. E é nesta onda que eu decidi voltar ao blogue: agora que encerrei as minhas visualizações de 2013 (ainda me faltam alguns títulos mas vão contar como 2014 para futura referência) com "Nebraska" e "Museum Hours", pensei em deixar cá em dia de Óscares os meus dez filmes favoritos de 2013. E eles são...

Finalistas:
Se a lista se estendesse a vinte, incluiria...
"12 Years A Slave" | "All is Lost" | "American Hustle" | "Before Midnight" | "Child's Pose"

"Gloria" | "La Grande Belezza" | "Jagten" | "Stories  We Tell" | "Wadjda"


O meu top-10 de 2013:

10. O SOM AO REDOR / Mendonça Filho, 2012





9. POST TENEBRAS LUX / Reygadas, 2013


8. FRANCES HA / Baumbach, 2013


7. THE ACT OF KILLING / Oppenheimer, 2013


6. THE SELFISH GIANT / Barnard, 2012


5. GRAVITY / Cuarón, 2013


4. PRINCE AVALANCHE / Gordon Green, 2012


3. HER / Jonze, 2013


2. INSIDE LLEWYN DAVIS / Coen, 2013


1. SHORT TERM 12 / Cretton, 2013 


Tal como com "Beginners" em 2011 e "Moonrise Kingdom" em 2012, muitas vezes eu apaixono-me facilmente, sem grande explicação. Voltou a acontecer este ano. Um filme destes, que remexe com o coraçãozinho e o deixa apertadinho, vale tudo. Tudo. Não há nota ou lista suficiente para expressar o meu amor por este pequeno grande filme.



Previsões Óscares 2013 (II): Filme


Continuemos a saga das previsões (eu bem sei que me devia deixar disto que o pessoal não gosta mas depois penso "porra o blogue é meu e eu gosto de tagarelar sobre os Óscares!" portanto pensem assim, quanto mais artigos eu despejar sobre o tópico durante o fim-de-semana, mais depressa acabo de falar sobre o tema, por isso aguentem que já passa) e falemos das duas categorias mais interessantes (não para mim, mas para o público em geral, que dos Óscares só quer saber quais são os melhores filmes e pouco mais): melhor filme e melhor realizador. Comecemos pela categoria rainha.


Com tanta desistência, o ano não se está a adivinhar muito famoso. Verdadeiros competidores só temos três e ambos vão estrear no mercado norte-americano nas próximas semanas: "Captain Philips" de Paul Greengrass (sim, é o moço que realizou o "United 93" e dois dos filmes do Jason Bourne), protagonizado por um senhor que dispensa apresentações (Tom Hanks) e muito elogiado pelos críticos que viram o filme em antestreia e há dias no Festival de Nova Iorque; "Gravity" de Alfonso Cuarón, protagonizado por Sandra Bullock e George Clooney (star power!), aclamado criticamente tanto em Veneza como em Toronto; "12 Years a Slave" de Steve McQueen (realizador dos estupendos "Shame" e "Hunger"), com um elenco vastíssimo encabeçado por Michael Fassbender, Sarah Paulson, Chiwetel Ejiofor e Lupita N'yongo, carregado de Oscar buzz e já rotulado como favorito depois da resposta entusiástica de Toronto. 


Entre os já estreados, é melhor contarem com "The Butler" de Lee Daniels, que em receita de bilheteira já fez mais que metade dos filmes que cá vou mencionar vão fazer em conjunto e tem a Oprah Winfrey como trunfo importantíssimo do seu lado. Também ajuda que a temática do filme seja a história dos Estados Unidos lado a lado com o movimento anti-segregação racial. Outro filme já nos cinemas (americanos, não portugueses - as if!) é "Fruitvale Station", sensação de Sundance que parecia estar a caminho de materializar-se na mais recente história de sucesso do festival (seguindo os passos de "Beasts of the Southern Wild", "Precious" ou "Winter's Bone"), mas a bilheteira não ajudou e a conversa em torno do filme... esfumou-se. Ainda vem a tempo de fazer um comeback mas irá convencer os votantes? Duvidoso. Finalmente, há que mencionar "Prisoners". Boas críticas em Toronto, bom elenco (Gylenhaal, Jackman, Davis, Leo), bom realizador (Villeneuve) e aparentemente a crescer na receita de bilheteira. Cuidado com este filme se ultrapassar a barreira dos cem milhões. Com os adversários mais fortes da corrida a tombar e a fugir para 2014, não me admirava nada... Hipóteses mais remotas são "Before Midnight" (que devia ser presença obrigatória na corrida mas dificilmente não passará ao lado) e "Blue Jasmine" (que merecia que o pessoal visse para além de Cate Blanchett; but that ain't happening, folks!) - e nem falemos, por exemplo, de outros bons filmes do ano, como "Short Term 12" ou "Frances Ha"


Cannes pode voltar a fazer mossa na corrida (depois de "Amour" e "The Tree of Life" terem sido premiados no belo paraíso mediterrânico e conquistado múltiplas nomeações junto da Academia), com vários pretendentes. "Inside Llewyn Davis" é a aposta sensata, porque é dos irmãos Coen, porque já passou pelos festivais de fim-de-ano em território americano continuando as boas indicações e porque tem no elenco nomes conhecidos como Carey Mulligan, Oscar Isaac e Justin Timberlake, que sempre ajuda na altura de comparecer em carpetes vermelhas. A aposta dos "tolos", por assim dizer, é "Blue is the Warmest Color", que continua a fazer manchete nas notícias, mesmo do outro lado do Atlântico - o problema é que as notícias não são propriamente as mais simpáticas nem têm nada a ver com o filme propriamente dito. Acabarão por auxiliar o filme a encontrar audiência? Veremos. Pode pelo menos chamar mais gente à procura de saber de que se trata a confusão toda em torno de Adele Exarchopoulos e descobrirem uma interpretação passível de ser nomeada. Caladinhos mas firmes estão "Nebraska" e "All is Lost". Produtos americanos com selo de qualidade, o primeiro vem de Alexander Payne ("Sideways", "The  Descendants") que provavelmente ficou perto do prémio máximo pelo seu último filme e que escolheu esta história de uma road trip entre pai (bêbedo negligenciador) e filho para seu próximo projecto. Digamos que promete. O segundo vem de J.C. Chandor, que espantou muitos com a sua nomeação para argumento original pelo seu anterior filme ("Margin Call") e que desta vez opta por um filme sem diálogo, em torno da lenda americana Robert Redford. A aclamação crítica que recebeu deixa-me a pulga atrás da orelha. De Toronto não abordei também "August: Osage County" e "Dallas Buyers Club", que emparelho aqui por uma razão muito simples: as críticas fazem principalmente referência às interpretações, não ao filme, o que me faz suspeitar que daqui só vão sair nomeações para os actores (se o filme resultar na bilheteira, a minha opinião muda, obviamente, especialmente se tal filme for "Dallas Buyers Club", porque combina vários pontos que fazem a Academia estremecer de satisfação, desde ser uma história verídica a ser protagonizada por um actor que sofreu uma grande transformação física para interpretar um homem doente) - o mesmo digo de "Labor Day".


Do que ainda está para vir, realço dois caça-Óscares óbvios. O novo filme de David O. Russell (que parece estar em estado de graça com a Academia agora), "American Hustle", conta com Jennifer Lawrence, Amy Adams, Christian Bale, Jeremy Renner e Bradley Cooper nos principais papéis (uau, eu sei) e com uma narrativa que tresanda a potencial. Será este the one para O. Russell? Ou será de novo batido por uma história baseada em factos reais, uma história do triunfo do espírito humano, mais leve e com dois enormes actores de classe mundial no topo de um elenco cheio de nomes conhecidos? Sim, estou a falar de "Saving Mr. Banks", que quem já viu deixa antever um filme fantástico mas cuja aparência me deixa mais prever um "Hitchcock" que outra coisa melhor. Todavia, não será a combinação Hanks + Thompson + Mary Poppins impossível de resistir, mesmo que o filme seja mau?


Falando de histórias mais leves, a corrida assim parece tender muito para o pesado, só dramas e thrillers, correcto? Parece que falta cá qualquer coisa mais esperançosa, mais simpática (pensem "The Blind Side"). O ano também tem algumas ofertas dessas. A começar por "Philomena", de Stephen Frears, que conta com Judi Dench no papel titular, uma idosa que parte à procura do filho que teve de entregar para adopção cinquenta anos antes; "Rush" é um nível diferente de satisfação, uma película desportiva alucinante sobre a história da rivalidade entre Nikki Lauda e James Hunt, pela mão de Ron Howard (uma das minhas kryptonites cinematográficas); "The Book Thief" é baseado na obra-prima "The Girl who Stole Books" de Marcel Zusak, em pezinhos de lã lançou um trailer e com um elenco com Emily Watson e Geoffrey Rush, um lançamento pleno de oportunismo na época natalícia e um estúdio disposto a lutar pela candidatura - 20th Century Fox, que o ano passado levou "Life of Pi" a dez nomeações e parece confiante que terá desfecho igual com este filme... E se não for com este, poderá ser com "The Secret Life of Walter Mitty", realizado por Ben Stiller (esse, o actor de "There's Something About Mary" e os mil filmes dos Fockers), a proposta mais intrigante da temporada cinematográfica (com um trailer que, confesso, deixou-me maravilhado com as possibilidades). Muito por onde escolher.

Falta falar da que é para mim a maior incógnita: "Her" de Spike Jonze. Já ouvi de tudo. Estreia em Nova Iorque dentro de dias, pelo que não teremos de esperar muito para saber com o que contar. Os elogios de Aronofsky surpreenderam-me. Um filme romântico pela mão de Spike Jonze? Quem diria. Pode ser espectacular e ganhar rios de nomeações... ou ser ignorado e ficar sem nada. A rever, quando soubermos mais do filme.

Organizando então as opções por probabilidade, fico com alguma coisa deste género (a verde os meus nomeados previstos):

MUITO PROVÁVEIS
American Hustle
Captain Phillips
12 Years a Slave

PROVÁVEIS
The Butler
Gravity
Saving Mr. Banks
Philomena

COM ALGUMAS RESERVAS
Her
Rush
Inside Llewyn Davis

PARA LÁ DOS 10...
Fruitvale Station
Dallas Buyers Club
Nebraska
Prisoners
The Book Thief
The Secret Life of  Walter Mitty
All is Lost
August: Osage County
Blue is the Warmest Color
Before Midnight

Agora deixo com vocês - que trocas faziam nas minhas previsões?

Previsões Óscares 2013 (II): Actualizações


Como sempre cá pelo estaminé, deixei as previsões a meio e entretanto já passaram os festivais de Veneza, Toronto e Telluride e ainda houve tempo para começar o de Nova Iorque, que basicamente deram um rodopio em várias categorias da corrida aos Óscares, pelo que era essencial que eu me obrigasse a sentar à secretária e destilar uns raciocínios inspirados sobre o que me parecem ser agora as principais figuras de cada categoria. Comece-se então por actualizar as quatro categorias que já tinha cá abordado, as quatro categorias de representação.


MELHOR ACTRIZ



Em Agosto profetizava-se a força que Cate Blanchett teria nesta corrida. Depois de visto o filme, posso dizer que muito dificilmente o Óscar lhe será roubado. Era preciso uma Amy Adams do outro mundo em "American Hustle". É que nem Meryl Streep (críticas boas, mas não os hossanas que seriam precisos para ganhar um quarto troféu), nem Judi Dench (só se os Weinstein arranjarem uma narrativa que apele ao lado sentimental dos votantes por uma das maiores actrizes da actualidade não ter um Óscar de melhor actriz) parecem candidatas à altura e Sandra Bullock precisa que "Gravity" seja um sucesso geral, com várias nomeações. A categoria perdeu Nicole Kidman, Marion Cotillard e Jessica Chastain para 2014, Naomi Watts foi pisoteada pelos críticos no Reino Unido (e acontecerá o mesmo nos Estados Unidos), Kate Winslet vai provavelmente sofrer pelas más críticas a "Labor  Day" (aconteceu o mesmo a Theron e "Young Adult"), Berenice Bejo perdeu o lançamento que Cannes deu a "Le Passé" (muito menos apreciado em Toronto) e diz tudo da categoria quando para preenchermos os lugares de candidatos precisamos de recorrer a jovens como Brie Larson, Shailene Woodley e Adele Exarchopoulos. A corrida atingirá provavelmente o pico de interesse quando Adams e especialmente Emma Thompson estrearem, na época natalícia. Será que alguma delas tem o que é preciso para destronar Blanchett? Provavelmente não. 

Previsão:
Amy Adams, "American Hustle"
Cate Blanchett, "Blue Jasmine"
Judi Dench, "Philomena"
Meryl Streep, "August: Osage County"
Emma Thompson, "Saving Mr. Banks"


MELHOR ACTOR



Curiosamente, a melhor das quatro corridas. Nada por resolver, muitos candidatos sérios ao lugar do topo. Que fazer, que fazer... Em Agosto a minha opinião era esta. Não mudei muito. Mantenho que Robert Redford é provavelmente o favorito, Bruce Dern terá na nomeação um bom prémio de carreira e Tom Hanks volta ao Dolby pela sua melhor interpretação (dizem) da última década (já vão treze anos desde "Castaway") - se não tivesse já dois, acredito que vencesse facilmente (algo que, como Day Lewis provou o ano passado, não é impossível). Chiwetel Ejiofor recebeu críticas magníficas pela sua interpretação em "12 Years a Slave" e portanto já quase nem há questão - tendo em conta que o filme está na posição principal para o Óscar de melhor filme - que será nomeado. A questão reside agora em três pontos fundamentais: (1) "Wolf of Wall Street" estreará em 2013? Os últimos rumores dizem que não, o que significa que até ver DiCaprio salta da lista. (2) Que tipo de papel é o de Christian Bale em "American Hustle"? Será suficiente para ganhar a nomeação? Os protagonistas de O. Russell costumam ser os mais 'quietos', por assim dizer. E (3) entre Oscar Isaac e Matthew McConaughey, quem vai ser o contemplado para ocupar a última vaga (isto se a corrida se revelar tão simples)? De fora fica Michael B. Jordan, à espera que "Fruitvale Station" seja melhor sucedido com a Academia do que tem sido com o público e a crítica. Parece-me mesmo que Melhor Actor vai ser a categoria mais difícil de decifrar, andando em fluxo entre os diversos prémios precursores.

Previsão:
Robert  Redford, "All is Lost"
Tom Hanks, "Captain Philips"
Chiwetel Ejiofor, "12 Years A Slave"
Bruce Dern, "Nebraska"
Matthew McConaughey, "Dallas Buyers Club"


MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA



A categoria com menos entusiasmo e, diria mesmo, com maior falta de concorrentes em condições. Temos Oprah e temos Lupita N'yongo e depois vem o resto. Sarah Paulson só não tem sido mais falada porque custa a crer que "12 Years a Slave" consiga dupla nomeação mas do jeito que a categoria está só se aparecer agora algum filme no Outono que desafie as expectativas. Do contingente "August: Osage County" há-de sair alguém (do filme elogiadas mesmo só as interpretações, algo que não é incomum às produções John Wells), mas quem? Margo Martindale ou Julia Roberts numa interpretação secundária "falsificada"? Ou Scarlett Johansson por "Don Jon"? Os festivais, tirando N'yongo, não ajudaram a categoria em nada, dando apenas sugestões - além de Paulson, também June Squibb tem os seus apoiantes, bem como Carey Mulligan (precisa que o filme dê o clique com os votantes), Viola Davis (precisa de bilheteira para "Prisoners") e Octavia Spencer (o buzz de "Fruitvale" foi-se mesmo abaixo). De Linney a Harris, tudo o resto passou ao lado. Falta ainda vermos das meninas de "The Counselor", em especial Cameron Diaz (embora se possa contar sempre com a Penelope Cruz para roubar um filme), de Blanchett em "The Monuments Men", Moore em "Carrie" (o que parecia ridículo começa a desenhar-se como uma possibilidade viável agora) e Jennifer Lawrence em "American Hustle". E com tudo isto, será que alguém ainda se lembra do quão fantástica está a  Sally Hawkins em "Blue Jasmine"?

Previsão:
Jennifer Lawrence, "American Hustle"
Lupita N'yongo, "12 Years a Slave"
Sarah Paulson, "12 Years a Slave"
Octavia Spencer, "Fruitvale Station"
Oprah Winfrey, "The Butler"


MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO



A mais preponderante adição à corrida é a de Daniel Brühl, com "Rush" a ser uma surpresa tanto para a crítica como o grande público, que na semana de estreia tem aderido em massa ao novo filme de Ron Howard (para meu desencanto, que não suporto o estilo do realizador). Continuam a parecer boas opções Bradley Cooper e Michael Fassbender (este até reforçada pelos elogios à interpretação e ao filme), enquanto que à semelhança do raciocínio feito acima para DiCaprio, até ter notícias salta fora McConaughey daqui (e agora até começo a questionar se Jonah Hill não será melhor hipótese, pelo mesmo filme) e também vai fora Ruffalo com a mudança de "Foxcatcher" para 2014. A estreia de "Captain Philips" esta semana traz a incógnita Barkhad Abdi, numa interpretação aparentemente memorável mas difícil de digerir (o que lhe retira o automático coro de "nomeação garantida!" com que seria brindado de outra forma). De resto, mantenho a opinião que a corrida ainda tem muito que desvendar, porque os concorrentes que temos agora disponíveis são pouco convincentes para serem nomeados (não que não o mereçam, é diferente). Vistos até agora temos os rapazes de "Blue Jasmine" (Cannavale, Baldwin e Dice Clay, mas a algum merecer menção, será Cannavale), Josh Brolin por "Labor Day", McConaughey por "Mud", Jared Leto com boas críticas por "Dallas Buyers Club" (mas precisará, assumo eu, que McConaughey também consiga a nomeação para sonhar ele próprio em ser nomeado), George Clooney ("Gravity"), Steve Coogan ("Philomena" - mais provável em argumento), Benedict Cumberbatch e Chris Cooper ("August: Osage County"), Will Forte ("Nebraska)", Cooper e Gosling por "Place Beyond the Pines", James Franco por "Spring Breakers", David Oyelowo ("The Butler") e John Goodman ("Inside Llewyn Davis"). Falta sabermos dos rapazes de "The Monuments Men" e "The Counselor", de "American Hustle", de "Saving  Mr. Banks"... Resumindo, sabemos muito pouco, para já.

Previsão:
Barkhad Abdi, "Captain Philips"
Daniel Brühl, "Rush"
Bradley Cooper, "American Hustle"
Michael Fassbender, "12 Years A Slave"
Jared Leto, "Dallas Buyers Club"