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DIAL P FOR POPCORN

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L'ILLUSIONNISTE (2010)



A história de um mágico francês, profundamente deprimido e solitário, que viaja pelo Reino Unido à procura de apresentações pouco convincentes dos seus dotes de magia, é o ponto de partida para uma belíssima e inesperada história de amor, que nos é dada a conhecer pela "mão" de um dos mais irreverentes e adorados realizadores/argumentistas europeus: Sylvain Chomet. Depois de ter surpreendido a sétima arte com Belleville Rendez-Vous, Chomet consolida o seu lugar com mais uma história fantástica, desenhada com um charme e uma classe apaixonantes, que o transformam, com toda a legitimidade, num dos realizadores de culto deste início de século. Não há ninguém com Sylvain Chomet no cinema e o que ele faz, mais ninguém consegue fazer.


Mais uma vez, tal como no seu primeiro filme, L'illusionniste é marcado por poucos diálogos. As emoções estão todas "no papel". Cada um dos desenhos, com os seus gestos, atitudes e emoções das personagens, conduzem a história de uma forma tão sentimental quanto melodiosa, transformando os seus breves oitenta minutos em pouco mais de cinco deliciosos minutos de cinema. L'illusionniste cativou-me. É uma história de um amor trágico (e infelizmente, já revelei mais do que pretendia) onde um decrépito mágico, abandonado pela sociedade e pela magia da vida, se arrasta pelo mundo sem objectivos ou desejos. Quando conhece a jovem Alice, que o segue depois de um espectáculo, aceita-a como amiga e acolhe-a como sua companheira de viagem. Alimenta-a e veste-a com bonitos e requintados mimos.


Toda a relação entre estas personagens é uma complexa incógnita. Por mais que se veja o filme, nunca ficarei totalmente esclarecido sobre os verdadeiros sentimentos que nutrem um pelo outro e o significado da dramática e inesperada cena final. Se o leitor gostou de Belleville Rendez-Vous, também vais gostar de L'illusionniste. Não o acho tão brilhante quanto o primeiro, mas é igualmente um óptimo pedaço de arte.


Nota Final:
A-



Trailer:





Informação Adicional:

Realização: Sylvain Chomet
Argumento: Jacques Tati
Ano: 2010
Duração: 80 minutos

Especial Animação: A ternura de DUMBO (70º Aniversário)

Nesta semana especial, que abre o mês de festividades, pedimos a amigos próximos e colaboradores de outros blogues que nos ajudassem a abordar um dos nossos temas preferidos: a animação. Todos eles foram limitados a um máximo de dez imagens ou um vídeo para a sua tarefa. Sete dias, sete colaboradores, sete títulos que festejam este ano o início de uma nova década de vida. Muita diversão, emoção e magia é prometida. A ver se cumprimos. 

A terminar, o brilhante Gonçalo Trindade (colaborador de vários espaços mas mais conhecido, em termos de cinema, pela sua colaboração no Ante-Cinema) ficou de falar de um clássico que encantou várias gerações: DUMBO - que celebra 70 anos de vida a 23 de Outubro deste ano. Eis o Gonçalo:


Sendo um dos mais simples, adoráveis e inocentes filmes da Disney, Dumbo é frequentemente considerado uma das maiores obras-primas do estúdio e, quer ascenda ou não a esse patamar (não ascende, a meu ver) é totalmente inegável que este é, simplesmente, um filme absolutamente lindíssimo.
É difícil não gostar de um filme assim, que vive à base de uma personagem tão mágica e inocente como Dumbo, aquele elefante bebé de orelhas grandes que não fala (uma inspiração para Wall-E, talvez), e que não compreende o porquê de todo o mal que lhe acontece, seja esse mal os que com ele gozam, ou o aprisionar da sua mãe que tem como consequência aquela que é, muito provavelmente, uma das mais tocantes cenas alguma vez feitas pelo estúdio de animação: aquela em que a mãe de Dumbo o embala com a tromba de dentro da carruagem onde está presa, enquanto ao mesmo tempo lhe canta uma canção. Todo o filme é, aliás, profundamente tocante na forma como retrata a relação mãe-filho, raramente abordade tão acertadamente num filme de animação. A cena, logo perto do início, em que a senhora elefante recebe da cegonha o jovem Dumbo é, por si só, um verdadeiro prodígio, que ainda hoje coloca facilmente um sorriso na face de cada um.
Se é verdade que este é o filme com a personagem mais adorável de todos os filmes da Disney (desculpa, Bambi, mas o Dumbo ganha), e que todos os amigos que vão surgindo na vida do pequeno elefante são encantadores (com destaque dado, claro, a Timothy, o rato), é também verdade que não é só aí que reside o triunfo do filme: o seu grande valor existe antes na forma como, através de um filme tão simples, que nem aos 80 minutos chega, e que tem uma personagem principal que nem sequer emite uma palavra, se conseguem mostrar alguns dos maiores males do mundo e ensinar algumas das mais belas lições da Humanidade. A forma como o grupo de elefantes diz mal da mãe de Dumbo após esta ter sido presa, por exemplo, ou a forma como os rapazes puxam as orelhas do jovem elefante enquanto gozam com ele, são momentos de cinema em que está ali exposto mais do que ao início pode parecer. Dumbo é, em grande parte, um filme sobre o preconceito e a forma como este afecta aqueles que, simplesmente, não o compreendem nem o merecem. Daí que tenha sido um golpe de génio em criar Dumbo como uma criança que nem falar sabe: é um paralelismo directo a um mundo onde muitos jovens nascem marcados desde o início, seja pela raça ou o que for, sem compreenderem o porquê dessas marcas. Marcas essas que podem ser trasnformadas em dons; afinal de contas, aquilo que mais dor causa a Dumbo, acaba por ser exactamente aquilo que o faz voar.

É uma lição de vida poderosa e importante, abordada de forma perfeita naquele que foi o quarto filme do estúdio, feito para recuperar as perdas geradas pelo incrível Fantasia. Foi o filme mais barato do estúdio até àquela altura, e acabou por ser um verdadeiro milagre monetário para Disney. É, no geral, sem dúvida um dos seus filmes mais simples, sem grande inovação a nível visual (os cenários não são muito elaborados, e não há cenas que sejam realmente espectaculares nesse aspecto, exceptuando talvez a cena em que o jovem elefante fica bêbado e… vê elefantes cor-de-rosa), sendo possível ver esse orçamento mais pequeno com que foi feito, mas é ainda assim uma pequena pérola visual nem que seja, claro, pelo próprio Dumbo, que encanta e parte corações com os mais belos olhos azuis que o cinema de animação alguma vez viu. Talvez seja essa mesma a palavra que melhor descreve o filme: é uma pérola. Pequeno, simples, mas de uma enorme beleza e uma complexidade moral que pode ser comparada à audacidade de ter, diga-se, uma personagem principal que nem abre a boca e que tem de criar uma ligação com o espectador apenas pelo seu aspecto e pelos seus movimentos (é necessário relembrar que este foi o quarto filme do estúdio: fazer algo assim tão cedo é, no mínimo, arriscado). E as canções, ainda que muito, muito longe do melhor que o estúdio já fez (excepção dada a "Baby Mine", a música da cena já mencionada em que a mãe embala o filho), são completamente encantadoras.


Uma história de amor entre mãe e filho, uma história de preconceito, e uma história de inocência, este "Dumbo" é, de longe, um dos mais encantadores filmes da Disney. Sim, não tem a complexidade visual de um "Branca-de-Neve", nem a trama bem-pensada de um "Rei Leão" ou um "Bela e o Monstro", mas tem uma alma do tamanho do mundo, uma inocência presente do primeiro ao último segundo, e uma personagem principal que tornaria qualquer filme mau num bom. Lindíssimo e tocante, é uma obra intemporal que deverá, se houver justiça e sabedoria no mundo, fazer parte da infância de muitas mais gerações ao longo de longos, longos anos. Afinal de contas, não é só o facto de ser adorável: Dumbo é, também, uma lição de vida ensinada de uma forma que consegue chegar a todos. Se isso não é sinal do triunfo de um filme (seja ele de animação ou não), então não sei o que o será.



Obrigado, Gonçalo, por teres aceite o convite! Belo texto!
E a vocês, também comove assim ver a história de Dumbo?

 

Especial Animação: Chegamos ao fim

Pois é, a Semana Especial de Apreciação da Animação chegou ao fim. Com muita pena minha, não consegui abranger todos os filmes que queria (à custa dos problemas de rede que andei a ter, não falámos de "Persepolis", "Finding Nemo", "Ratatouille", "The Iron Giant", "Coraline", "Fantastic Mr. Fox" e outros que tais) e por isso talvez possa surgir, mais para a frente, uma espécie de sequela desta semana. 

Resta-me agradecer a todos os convidados que participaram de bom grado na iniciativa e ao número elevado de visitantes e comentadores que tivemos nos últimos dias. É sempre simpático saber que lêem e aprovam o que escrevemos. Deixo-vos com aquela que, penso eu, é a música mais adequada para encerrarmos a semana com estilo. Obrigado a todos.


Especial Animação: Melhores Vilões Disney

A acompanhar os sete artigos dos nossos convidados para a nossa Semana de Apreciação à Animação, vamos ter outros artigos especiais dedicados ao tema, que se debruçarão sobre diversos componentes que fazem da animação dos géneros mais excitantes do cinema contemporâneo. No dia de encerramento - e aproveitando que os últimos filmes abordados cá pelo blogue possuem, de facto, vilões memoráveis (Cruella, Ursula, Queen of Hearts) - propus-me a compilar num artigo aqueles que são, para mim, os dez maiores vilões do universo Disney.

Menção Honrosa:
Mother Gothel ("Tangled") 

 
Já expressei a minha admiração pela categoria que esta vilã tem por diversas vezes, como sabem. Não foi incluída nesta lista por uma simples razão: não posso compará-la com vilões que são memoráveis há já muito tempo. Daqui a uma década, reavaliando, talvez já seja justo contá-la nesta lista. Para já... fica de fora. Mas fiquem sabendo que se a tivesse colocado seria seguramente a #3.

#10:
(empate)
HADES ("Hercules")
YZMA ("The Emperor's New Groove")


 Não sendo propriamente estereotipados vilões maléficos, os neuróticos, vaidosos e egoístas Hades e Yzma conseguem ser, cada um à sua maneira, bastante manipuladores, melindrosos e malvados. Os mirabolantes esquemas que engendram, as patetices em que se envolvem mais os seus ridiculamente desajeitados ajudantes e as suas ambições desmedidas não nos deixam, felizmente, levá-los muito a sério, transformando-os em brilhantes antagonistas para os protagonistas dos seus respectivos filmes. Bónus: James Woods e Eartha Kitt conferem uma personalidade poderosa aos seus vilões através das suas características vozes e os toques de génio na entrega das falas revelam-se hilariantes.


#9:
QUEEN OF HEARTS ("Alice in Wonderland")

Desconcertante, rude e com a mania de ser o centro das atenções, a Rainha de Copas não é má per se; ela só gosta que lhe obedeçam. Ou isso... ou cortem-lhes a cabeça. Uma personagem tão peculiar quanto assustadora, psicótica, pomposa e colérica, a Rainha de Copas é uma das vilãs mais originais e estranhas que o universo Disney possui. Acaba por resultar num bom complemento à rebeldia e capacidade imaginativa de Alice, ao ser a primeira pessoa que lhe nega tais comportamentos e devaneios.

#8:
SCAR ("The Lion King")

Ao contrário dos vilões anteriores, Scar é realmente cruel. Alguém que não tem valores nem moral, alguém que atraiçoa tudo e todos - incluindo o irmão e o sobrinho - para chegar aonde quer. Intriguista, mentiroso, corrosivo, de um enganador porte físico, ar irónico e descontraído, Scar é não só o vilão mais fantástico que a Disney tem como também o mais porreiro. Ele é pura e simplesmente frio, desprovido de sentimentos. 
#7:
LADY TREMAINE ("Cinderella")


A vilã mais realista da Disney, Lady Tremaine é, por um lado, uma personagem bastante unidimensional. Por outro lado, funciona na perfeição para o que o filme precisa. Incorporando brilhantemente o estereótipo de madrasta má, Lady Tremaine é uma autêntica bruxa malévola, ambiciosa e sem escrúpulos. Abusiva, terrível e assustadora, de uma elegância e frieza letais, não queria tê-la pela frente, pois pelo que faz a Cinderela, nota-se que é capaz de tudo pelos seus objectivos.

#6:
GASTON ("Beauty and the Beast")


Como antagonista ao duo central de protagonistas em "Beauty and the Beast", Gaston personifica a mensagem principal que o filme quer passar, que a beleza interior é muito mais importante do que o se vê no exterior. Gaston é-nos descrito, numa fase inicial do filme, essencialmente como o homem perfeito, mas vai-nos sendo mostrado que Gaston perde largamente para o Monstro em termos de personalidade, de carácter e de bondade, num fio narrativo que caminha passo a passo com a progressão da relação entre Bela e o Monstro e a descoberta de que o Monstro, afinal, não é o mau da fita.  Gaston é que é. Vil, vulgar, rude, Gaston é uma alma perturbada.

#5:
CRUELLA DE VIL ("101 Dalmatians")


A vilã que mais odiamos amar, Cruella de Vil é uma personificação do mal até no nome. Sem qualquer remoso ou pingo de amabilidade, Cruella só vive para as peles, o seu único conforto, não se importando com nenhum ser vivo, seja pessoa ou animal, a não ser ela. Com um aspecto físico horrendo a combinar com o seu nome ameaçador e o seu semblante arrepiante, Cruella, é como o seu nome diz, verdadeiramente cruel e vil. Histriónica e até cómica (por vezes), icónica e memorável pela sua ferocidade e tenacidade, Cruella é, sem dúvida, uma das mais fenomenais criações da casa Disney.

#4 e #3:
JUDGE FROLLO ("The Honchback of Notre Dame")
EVIL QUEEN ("Snow White")

Sessenta anos separam estes dois lendários vilões Disney e a sua história entrecruza-se de várias formas. Ambos adoptaram o filho de alguém que desprezavam. Ambos se têm em demasiado elevada consideração. Ambos pagam, no final, pelas injustiças e maldades cometidas. E o mais curioso é que cada um, à sua maneira, considera que o que faz é justificado, tal a imersão no seu mundo à parte. Capazes de cometer os piores e mais desumanos actos (como ordenar a queima em praça pública de milhares de inocentes ou mandar matar alguém e arrancar o seu coração como prova), Frollo e a Evil Queen são dois espécimes inacreditáveis, que sucumbiram à corrupção e à sede de poder do mundo.

#2:
URSULA ("The Little Mermaid")


Ursula, a vilã da história, que assume a forma de um intimidativo polvo, que, ao contrário do que se possa pensar, não é só feia, temível e maléfica. É também detentora de um mordaz, negro sentido de humor, de um inesquecível egocentrismo e vaidade (uma verdadeira diva no sentido literal da palavra) e de uma impressionante imaginação que acompanha os seus malvados planos. Uma vilã versátil, que além de mal-intencionada é inteligente e criativa, Ursula é única no universo Disney. Completamente bipolar, miserabilista, vingativa e sedenta de poder, Ursula não olha a meios para atingir os fins, o que faz dela uma das vilãs mais perigosas da história dos estúdios.


#1:
MALEFICIENT ("Sleeping Beauty")

"You thought you could defeat me, the mistress of all evil!"
 
Nunca considerei mais ninguém para o meu lugar cimeiro. Uma vilã de impor respeito a vários dos vilões mencionados acima, quanto mais a meros humanos. O seu aspecto é, por si só, garantia suficiente de medo e susto, com a sua face esverdeada, o seu manto preto e roxo, os seus cornos e os seus lábios carnudos vermelhos. De uma elegância e sofisticação espantosas. A sua gargalhada gélida e maldosa, a sua voz imperial capaz de trespassar qualquer um, a impotência de todos os outros perante o seu óbvio poder e o medo que instiga são, de facto, características inolvidáveis daquela que é a maior vilã da Disney. Maleficient não é como os outros vilões, que agem por causa disto ou daquilo. Ela gosta de ser má. Ela gosta de ser vingativa. Ela gosta de ser o centro das atenções pelas razões erradas. Ela gosta que tenham medo dela. E isso faz uma diferença enorme. Ela é, numa só palavra, a epítome de todo o mal, uma assassina a sangue frio e tudo porque não foi convidada para uma festa.


Agora vocês: qual o vosso top-10 de vilões?

Especial Animação: O mundo de ALICE IN WONDERLAND (60º Aniversário)

Nesta semana especial, que abre o mês de festividades, pedimos a amigos próximos e colaboradores de outros blogues que nos ajudassem a abordar um dos nossos temas preferidos: a animação. Todos eles foram limitados a um máximo de dez imagens ou um vídeo para a sua tarefa. Sete dias, sete colaboradores, sete títulos que festejam este ano o início de uma nova década de vida. Muita diversão, emoção e magia é prometida. A ver se cumprimos. 

Continuando a nossa viagem pelos estúdios Disney, a nossa sexta convidada, a Ana Luísa Cardoso, que vem falar de um filme que tanto eu como ela e o Samuel Andrade, o convidado anterior, partilhamos como favorito e que curiosamente festejou 60 anos de vida há dias (28 de Julho): ALICE IN WONDERLAND. Deixo-vos ficar com a Ana, a quem agradeço desde logo ter aceite o convite:

Quando fui informada que teria de escolher imagens que representassem o filme, pensei em escolher imagens de vários momentos, demonstrando as várias personagens (tantas e tão maravilhosas) e as diversas situações (tantas e tão absurdas). No entanto, acabei por me decidir pela queda da Alice na toca do coelho. Afinal, é quando começa a viagem dela e a nossa também; when we go among mad people.


"Alice in Wonderland" é o filme da Disney que mais me lembro de ver na minha infância e aquele que, à medida que ia crescendo, se foi cimentando como o meu filme favorito da Disney. E, sinceramente, duvido muito que alguma vez saia desse lugar.

Para mim ver este filme é, e sempre foi, uma aventura. Uma aventura absurda e maravilhosa. Para uma criança com uma imaginação hiperactiva, este filme era o paraíso: biscoitos que fazem crescer, bebidas que fazem encolher, flores que cantam, exércitos de baralhos de cartas, o gato mais aterrador e fantástico que alguma vez tinha visto, e festa de chá mais mirabolante de sempre.

Em criança, ver "Alice in Wonderland" era despoletar um festival de fogo-de-artifício no meu cérebro. Sentava-me o mais próximo possível da televisão e assistia, maravilhada, àquela miríade de absurdidades sem fim, que me deliciava como nunca. Era como se, de cada vez que o via, descobrisse um pormenor novo. Hoje, ver o filme é como voltar a casa. As situações e personagens, apesar de mirabolantes, são familiares. Com tantas visualizações, acabei por encontrar uma certa ordem no meio de todo aquele caos. Mas o fogo-de-artifício na minha cabeça continua. E suspeito que nunca se vai extinguir.
Penso que descreveste na perfeição o que sentimos ao ver este filme, Ana! Obrigado por teres aceite o convite!

E agora vocês: que pensam do mundo encantado de Alice?

Especial Animação: THE LITTLE MERMAID (1989)



"Watch and you'll see... One day I'll be... Part of your world."


Em busca de renascer de um período negro de parca qualidade a nível dos seus estúdios de animação, a Disney decidiu, em 1989, fazer regressar um dos tipos de histórias mais queridos do seu público-alvo: os contos de fadas. E para isso apostou numa história que já havia passado pelas mãos de Walt Disney e por vários argumentistas dos estúdios mas que havia sido arquivada e descartada. Era uma história baseado num conto algo sombrio de Hans Christian Andersen sobre uma sereia que sacrificava os seus dons mais preciosos para poder viver uma vida normal como humana ao pé do homem que amava. Essa história era, como hoje sabemos, "The Little Mermaid" e seria ela que iria trazer uma nova alma e glória aos velhos estúdios Disney e provocar uma revolução que culminaria no seu período mais inspirado de sempre.


Até em termos do processo de desenvolvimento e produção do filme se nota uma diferente inspiração e positivismo no ar. Howard Ashman e Alan Menken juntaram-se de bom grado ao projecto para produzir uma das melhores bandas sonoras que um filme de animação alguma vez viu; Glen Keane, um dos maiores animadores dos estúdios, que normalmente se dedicava a desenhar e animar figuras mais masculinas e normalmente vilãs pediu veementemente que o deixassem animar a protagonista Ariel. E muitos outros exemplos - se estiverem interessados - podem ser vistos no documentário "Waking Sleeping Beauty", que conta a história da nova era da animação Disney.


"THE LITTLE MERMAID" é, mais que um retorno ao grandes velhos clássicos de animação de outros tempo, uma divertida (diria festiva até) e curiosa aventura repleta de sonhos, de criatividade, de imaginação que nos deixa encantados e hipnotizados. O filme narra a história de Ariel, uma sereia diferente do habitual, cujo sonho era virar humana para poder encontrar-se com o homem que amava, o príncipe Eric, que ela uma vez salvara de morte certa e por quem ele se apaixonou ao ouvir cantar. Claro que tal conto de fadas era impossibilitado pela diferença de espécies de ambos. É aqui que a história do filme diverge do conto de Christian Andersen, criando um fio narrativo secundário no qual nos apresenta a malvada vilã Úrsula, permitindo a Ariel trocar o seu maior dom pela possibilidade de viver uma vida normal como humana. O que Ariel não sabe é que Úrsula deseja o trono do seu pai, Tritão, rei dos sete mares e pretende assim usá-la como moeda de troca.



O que tantas vezes falhou nos filmes dos estúdios que precederam este "The Little Mermaid" é, neste caso, o seu ponto forte: a caracterização das personagens, em especial de Ariel e Úrsula. Ariel é, acima de tudo, uma protagonista realista e credível. Não é uma heroína passiva, que desespera sem nada fazer em busca do seu príncipe encantado e que é impedida, de alguma forma, pelo vilão, de atingir o seu objectivo. Não. Ariel é rebelde, tem defeitos, nem sempre toma as melhores decisões e não aceita injustiças. Ela pensa e age independentemente, o que nos leva desde logo a simpatizar com a sua história e com a sua angústia. Para isso ajuda muito que Ashman e Menken tenham ressuscitado um dos velhos costumes dos grandes clássicos de outrora: a canção central que estabelece o objectivo da protagonista e em que ela nos abre as portas do seu coração. E ajuda sobretudo que essa canção seja "Part of Your World", uma lindíssima balada que nos despedaça o coração pela cintilante e alegre voz de Jodi Benson. 


O outro grande ponto forte é, sem dúvida, o detalhe e o cuidado que os animadores e os argumentistas tiveram em conferir bagagem ao vilão. Úrsula é, também ela, uma personagem realista e completamente formada, com uma história e um fio narrativo bem estabelecidos e, com uma grande actriz e voz por detrás como Pat Carroll, uma brilhante comediante e diva dramática. Cada fala que sai da sua boca é dita com tanta faísca, tão carregada de segundas intenções, que nos faz sorrir mesmo não querendo. E, claro, mais uma vez Ashman e Menken realizam um fabuloso trabalho criando aquela que é, para mim, a melhor canção que a um vilão alguma vez foi permitido cantar num filme da Disney: "Poor Unfortunate Souls". A canção é rica em piadas, em mensagens nas entrelinhas, em poder, força e vigor. Três minutos depois e Úrsula é, perante nós, igual a uma qualquer pessoa que todos nós conhecemos (ou vamos conhecer) ao longo da nossa vida: uma diva diabólica, invejosa, vaidosa, manipuladora, descarada e ambiciosa.



Apesar destes indiscutíveis méritos, o argumento nunca deixa esmorecer o calibre do filme. Inteligente e cheio de reviravoltas mais ou menos inesperadas, tem ainda o mérito extra de nos apresentar mais personagens secundárias que nos envolvem ainda mais no filme, como o stressado e disciplinador caranguejo Sebastião e o alegre e engraçado Linguado (Flounder na versão original) e a distraída e precipitada gaivota Sabidão (Scuttle) que providenciam vários momentos de descontracção e de riso, bastante necessários para dosear os momentos mais sérios da segunda metade da película. A animação, essa, é energética, refrescante, colorida e inovadora, que explora na perfeição os belíssimos cenários marítimos e cria um majestoso e impressionante castelo para o príncipe Eric, conferindo um pano de fundo riquíssimo em termos visuais para a história se desenvolver. Finalmente, voltar a falar (porque nunca é demais) de Howard Ashman e Alan Menken. Prodigiosos talentos da música, Ashman e Menken foram uma verdadeira lufada de ar fresco na animação contemporânea (como se veio a comprovar mais tarde), contribuindo, além da música, com várias ideias e mudanças a nível da animação do filme. "Part of Your World" e "Poor Unfortunate Souls" seriam razão suficiente para aplaudir uma fantástica banda sonora, mas quando esta ainda contém músicas tão inesquecíveis como a contagiante e reggae-esca "Under The Sea", cantada sublimemente por Samuel Wright e as maravilhosas músicas de abertura e encerramento do filme, é um acontecimento mesmo raro.


Muitas vezes se usa descuidadamente as palavras "inspiração" e "êxito" para definir muita coisa na vida. No entanto, no caso de "The Little Mermaid", somos obrigados a admitir: é o clássico da Disney mais orgânico e apaixonado, mais contagiante e envolvente, mais inspirado e revolucionário. Não é por nada que num ano bastante competitivo chegou a ser considerado como um dos grandes candidatos ao Óscar de Melhor Filme (criando o buzz que levaria a que isso acontecesse para o próximo filme da dinastia Disney, "Beauty and the Beast"). E não é por nada que, ainda hoje, muitas crianças se deixem levar e encantar pelas aventuras de uma marota sereia que só queria, na verdade, ser parte do nosso mundo, ser igual a qualquer um de nós.



Nota: 
A-

Ficha Técnica:
Realização: Ron Clements, John Musker
Ano: 1989
Elenco: Jodi Benson, Kenneth Mars, Pat Carroll, Samuel Wright, Rene Auberjonois, Buddy Hackett
Música: Alan Menken, Howard Ashman

Especial Animação: A vilã de 101 DALMATIANS (50º Aniversário)

Nesta semana especial, que abre o mês de festividades, pedimos a amigos próximos e colaboradores de outros blogues que nos ajudassem a abordar um dos nossos temas preferidos: a animação. Todos eles foram limitados a um máximo de dez imagens ou um vídeo para a sua tarefa. Sete dias, sete colaboradores, sete títulos que festejam este ano o início de uma nova década de vida. Muita diversão, emoção e magia é prometida. A ver se cumprimos. 

O nosso quinto convidado é dono de um dos espaços mais interessantes e irreverentes da nossa blogosfera, o qual me dá imenso prazer visitar: o Samuel Andrade (Keyser Soze's Place) que, na senda dos clássicos Disney, nos vem falar de um filme que atingiu a meia centena de vida no passado dia 25 de Janeiro, 101 DALMATIANS. Aqui vos deixo com o Samuel:



Rever "101 DÁLMATAS" é reconhecer que, de toda a Sétima Arte de animação, a Disney perfilou um impressionante conjunto de vilãs: a Rainha Grimhilde de "BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES", a Ursula em "A PEQUENA SEREIA", a Yzma em "PACHA E O IMPERADOR", a Mãe Gothel em "ENTRELAÇADOS". Contudo, nenhuma terá sido tão bem construída — e a vários níveis — como Cruella De Vil.

O próprio nome indica estarmos perante uma “criatura” capaz de emprestar pleonasmo ao conceito de antagonismo e, no que toca a vilões, apresenta todo os seus traços habituais: o penteado de um louco, compleição quase inumana, vícios (nomeadamente, o cigarro na ponta de uma boquilha), gargalhada infame e a discutível apetência por casacos feitos a partir da pele de adoráveis cachorrinhos dálmatas.

Mas Cruella é uma vilã particular pelos subtextos que não são imediatamente destacados na sua caracterização, numa provável estreia dos argumentistas da Disney em apelar à consciência social do espectador. A saber, uma tremenda e deliciosa condenação à sociedade consumista dos anos 60, através de uma figura que, a certa altura, parece protagonizar uma campanha publicitária a favor dos casacos de pele: «My only true love, darling. I live for furs. I worship furs! After all, is there a woman in all this wretched world who doesn’t?». Cruella De Vil é, portanto, mais do que a antagonista com um plano diabólico a ser executado pelos seus ineptos empregados que ela agride constantemente; é a extrema caricatura do ideal (bastante mundano, por sinal) de parecer que nunca temos tudo o que precisamos.


No geral, é de lamentar que 101 DÁLMATAS não tenha investido mais tempo neste e noutros conceitos. Afinal de contas, não existe “universo” mais simples e puro que o reino animal. E, por acaso, o filme até é narrado por um dálmata…


Obrigado, Samuel, por teres aceite o convite!
E vocês, que pensam da Cruella? E do filme em si?


Especial Animação: O Cinema Numa Cena de THE LION KING

A acompanhar os sete artigos dos nossos convidados para a nossa Semana de Apreciação à Animação, vamos ter outros artigos especiais dedicados ao tema, que se debruçarão sobre diversos componentes que fazem da animação dos géneros mais excitantes do cinema contemporâneo. Estando a semana terminar, falta-nos dedicar alguns artigos a esse grande estúdio de animação e aos fantásticos filmes que nos proporcionaram. 

Como sabem já, "O Cinema Numa Cena" tenta mostrar uma cena fora-de-série que englobe algo que nos extasie, que nos fascine e que nos faça amar ainda mais o filme. Há duas cenas em particular em filmes da Disney que gostaria especialmente de abordar. Esta é a primeira.


Seja pela magnanimidade da situação, pela perfeita união de música, desenho e poderio visual ou pela beleza da paisagem e da dedicação ao detalhe, esta cena de "The Lion King" é icónica. Uma cena que transcende o ecrã, um momento único de cinema, uma experiência fortíssima e tudo isto logo a abrir um filme. Que o filme pegue neste prólogo fabuloso e construa a partir daí - nunca perdendo a qualidade que este início portentoso estabelece - diz muito do nível desta animação da Disney. O ponto alto da nova vaga da Disney (a Disney Renaissance), "The Lion King" pode não ter sido nomeado para Melhor Filme como "Beauty & the Beast"; contudo, é sem dúvida o filme mais indelével e irreverente da história dos estúdios de Walt Disney.



Especial Animação: A beleza de BEAUTY AND THE BEAST (20º Aniversário)

Peço desculpa por isto andar com menos publicações nos últimos dois dias mas a minha Internet tem sofrido alguns problemas e, com isso, não tenho conseguido agendar publicações. Espero que a situação se normalize hoje. De qualquer forma, avante com os especiais animação!

Nesta semana especial, que abre o mês de festividades, pedimos a amigos próximos e colaboradores de outros blogues que nos ajudassem a abordar um dos nossos temas preferidos: a animação. Todos eles foram limitados a um máximo de dez imagens ou um vídeo para a sua tarefa. Sete dias, sete colaboradores, sete títulos que festejam este ano o início de uma nova década de vida. Muita diversão, emoção e magia é prometida. A ver se cumprimos. A nossa quarta convidada, por quem nutro especial apreço, como ela sabe, é a Ana Alexandre (também do Split-Screen), que nos vem falar de um dos mais lindos contos de fadas de sempre: BEAUTY AND THE BEAST, que comemora 20 anos a 22 de Novembro. Deixo-vos então com as suas palavras:




A minha relação com este filme é um pouco diferente da habitual: durante vários anos, o acesso que tive a esta versão da estória consistia na BD, pelo que todas as cenas me ficaram na cabeça quase por imagens fixas e não pelas cenas em si. Contudo, este Natal ofereceram-me a edição diamante e pude ver finalmente o filme. Agora, uns anos mais velha, acabei por ter um olhar bem diferente do que teria tido e acabei por analisar mais o filme em contexto.

Para os que não sabem, este é o terceiro filme da fase Disney Renaissance, o regresso da Disney a produções de grande sucesso e foi também o primeiro filme de animação a ser nomeado para o Óscar de Melhor Filme. Feitas as apresentações teóricas a este texto, passemos então àquilo que realmente interessa, o filme em si.

Primeiro que tudo, há que referir o pormenor de que mais gostei neste filme (e chamem-me feminista se quiserem): Belle. Pela primeira vez num filme Disney vemos a personagem principal a fazer algo além de cair adormecida e esperar pelo príncipe encantado. Além deste pormenor, há que referir o facto de ela ser provavelmente a "Princesa Disney" mais inteligente de todas e a única ligada a livros. Uma das imagens de que me recordo mais facilmente ao pensar no filme/BD é a alegria de Bella quando vai à biblioteca buscar um livro e o entrega do topo da escada. A outra, obviamente, é a da enorme biblioteca no castelo. Para uma crominha dos livros como eu, aquilo é praticamente pornografia.

Entretanto, como não podia deixar de ser, tenho também de falar da cena de dança, provavelmente a mais bonita de todos os filmes Disney que vi até hoje (cuja conta deve andar à volta dos 50-60). Acho que nenhuma cena é tão mágica, tão cumpridora do "o que conta é a beleza interior", porque por momentos não se consegue sequer ver que está uma rapariga a dançar com uma criatura monstruosa, mas sim duas pessoas apaixonadas. É um culminar de todo um crescendo nesse sentido, cuja minha cena preferida é aquela em que estão a comer juntos e onde o monstro faz um esforço enorme por parecer civilizado e tenta comer com a colher.







Uma outra cena que me marcou foi quando a Belle descobre a rosa, o facto de ser tão irónico que a fraqueza do monstro seja uma rosa, bem como a reacção do monstro ao descobrir que ela sabia da existência da rosa. É impressionante como o filme consegue ser tão simbólico, conter tanta realidade representada iconicamente.



Chega também a altura da parte menos boa, de Gaston e uma turba enfurecida pelo preconceito e estupidez. Gaston já por si é detestável, mas após conseguir convencer toda uma multidão a fazer o seu trabalho sujo apenas porque se sente ofendido torna-se pior ainda. A verdadeira personificação do ódio e ganância.



Por fim, e para terminar bem... a cena final. Poucas palavras são necessárias para a descrever, não só a cena entre ambos, mas também toda a transformação do pessoal da casa, especialmente de Mrs. Potts e do filho.


É impossível para mim considerar que alguém que veja o filme não goste dele. É tudo aquilo que se espera de um filme de animação para crianças: bonito, bem feito, com todo um conceito moral por trás e acima de tudo, mágico. É o verdadeiro espírito dos filmes Disney tornado filme.


Obrigado por teres aceite o convite, Ana! 
E em vocês, que sentimentos desperta este conto de fadas imortal?


NOTA: Deixo cá ficar AQUI o link para o meu próprio texto sobre o filme, da minha participação na rubrica do The Film Experience, "Hit Me With Your Best Shot".