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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

Estabelecer uma conexão - último artigo de 2012!




Eis que o ano chega ao final. Um ano muito positivo, sem dúvida, mas que pelo menos a nível do blogue ficou muito aquém. A desculpa que o trabalho não deixou fazer mais, apesar de verdadeira, custa-me. Custa-me porque quando nos propusemos a este projecto, sempre achámos que teríamos tempo. E custou-me imenso ver o nosso blogue em suporte de vida até Setembro. Enfim. Tempos melhores virão. Que 2013 nos traga, sobretudo, tempo. E bons filmes. Isso sim é sempre importante.


Queremos aproveitar para agradecer a todos quantos contactaram, de uma forma ou outra, com este blogue durante 2012 e nos ajudaram a crescer. E queremos sobretudo desejar bom ano novo e boas festas para todos os leitores, colaboradores e amigos do Dial P For Popcorn!

Há ainda que agradecer uma vez mais ao Miguel Reis e ao José Soares por mais um magnífica cerimónia dos TCN Blog Awards e por mais um troféu para o estaminé. Bem, não foi bem para o estaminé mas foi para o staff, portanto é quase a mesma coisa. Consequentemente, agradeço ao Gustavo por ter aceite o desafio proposto pelo João de se juntar a nós. E pela resposta positiva com que foi recebido, agradeço a todos os nossos leitores. Os comentários nem sempre surgem (na blogosfera portuguesa, uma pessoa já está habituada; se não há passatempos e não há críticas a antestreias, não há comentários) mas o número de visualizações está lá.


Olhando de relance para a minha lista de filmes vistos em 2012, posso dizer que o balanço não está mau. Ao contrário de outros anos, não me apareceu ainda um filme que me encha as medidas como "Beginners" ou "The Social Network" haviam feito recentemente. Também contrariamente a anos anteriores, o ano cinematográfico de 2012 foi bem mais forte. Muitos filmes com notas elevadas cá no DPFP, de diferentes épocas do ano. Poucas desilusões (mas as que foram, doeram). Várias surpresas. 



O meu ano cinematográfico de 2012 resume-se este ano a uma só coisa: estabelecer uma conexão. É isso que todos os filmes que admirei este ano fizeram. E mesmo aqueles de que não gostei mesmo têm partes que considero essenciais para explicar o que 2012 teve de especial para mim. 2012 foi o ano que encerrou a trilogia de Christopher Nolan, com "The Dark Knight Rises", com o filme mais lamechas de toda a franchise. Curiosa a opção do realizador britânico em querer encerrar aquela que até agora tinha sido a trilogia mais cerebral, mais asexual e mais negra da história do cinema contemporâneo com o seu filme mais atípico até ao momento, que basicamente vai contra todos os seus instintos enquanto realizador. Foi como se quisesse emparelhar com "The Avengers", o filme mais sério e dedicado da Marvel. Tinha que ser Joss Whedon, claro.


A banda sonora de "Cloud Atlas" (assumo que por esta altura já terão percebido que é a música que acompanha este artigo) sobrevive ao restante filme. É qualquer coisa de extraordinária. Digna de ser celebrada. Um feito especial. O mesmo digo dos efeitos especiais de "Prometheus", da química de Emma Stone e Andrew Garfield em "The Amazing Spiderman", da interpretação para todo o sempre de Liam Neeson em "The Grey" ou de Denis Lavant em "Holy Motors", do elenco de "Argo" (e quem diz esse diz o de "Lincoln", o de "Moonrise Kingdom" ou de "Bachelorette" - sim, o de "Bachelorette"!). Filmes que, independentemente do quanto eu os aprecio, não existiriam da mesma forma sem isto.



Refrescante é também ver actores de idade avançada com filmes que os respeitam e, mais que isso, lhes dão que fazer. Do enorme e surpreendente elenco de "Best Exotic Marigold Hotel" ao pas de deux de Meryl e Tommy Lee em "Hope Springs", já para não falar dos brilhantes Riva e Trintignant em "Amour". Prova que o talento não tem nada a ver com a idade. A comprovar isso também: quão fantástico é um filme tão peculiar e original como "The Perks of Being a Wallflower" ter tido o sucesso que teve, tendo em conta o tópico da juventude já ter sido mais que gasto? E que bom é ver também "Pitch Perfect" juntamente com ele? 


E já que falamos em filmes inesperadamente originais, como é possível não festejar o sucesso de "Beasts of the Southern Wild"? E de "Holy Motors"? Que enormes realizadores, que vão a jogo com all in, não importando o grande risco que correm. Pegando em riscos elevados... Num ano de crise profunda e de saturação, um ano que praticamente garantiu a insolvência do cinema português, Portugal consegue mais dois filmes com visibilidade internacional: "Sangue do Meu Sangue" foi candidato a nomeação aos Óscares, não a conseguiu mas o objectivo - ser visto e adorado por mais gente - foi conseguido. A história do ano, contudo, foi a de "Tabu". Aparecer em tanta lista de melhor do ano é obra. Miguel Gomes, a minha mais profunda vénia. É um filme especial, este. Espero que os anos o tratem bem. A estes dois junto a obra majestosa de Vicente Alves do Ó, "Florbela". Ó Dalila, foste tudo o que podia ter pedido e mais. Que monumento, essa performance.



A animação também voltou em grande. O ano abriu morno com "Brave" mas até ao fim trouxe ainda "Paranorman", "Frankenweenie" (o Burton mais inspirado em quinze anos!) e "Wreck-it Ralph", em que a Disney finalmente aprendeu a dançar ao som da Pixar. É bom ver que o subsidiário da Disney já serviu para empolgar e trazer de volta inspiração aos escritórios com mofo dos herdeiros do tio Walt. Já tinha feito o mesmo com a Dreamworks em anos recentes. 


Hora de agradecer aos muitos outros realizadores que deixaram marca no ano. Muitos agradecimentos para Sarah Polley ("Take this Waltz") e a Joe Wright ("Anna Karenina") por nunca se desencorajarem de fazer filmes diferentes. O mesmo digo a David Wain ("Wanderlust"), a Judd Apatow ("This is 40") por tentarem sempre mais que a simples comédia. E palmas aos velhos mestres Oliver Stone ("Savages"), David Cronenberg ("Cosmopolis") e Ridley Scott ("Prometheus") por tentarem não enferrujar - nem sempre resultou, caríssimos, mais gostei da tentativa.

Bem-vindo de volta, Sam Mendes ("Skyfall"). É bom saber que a criatividade ainda aí mora. Olá, Soderbergh ("Magic Mike"). Espero que a reforma espere mais alguns anos. E não me posso esquecer do sr. Spielberg e da superestrela - agora superrealizador - Ben Affleck. Onde vão aqueles lindos tempos da Jenny from the Block. Se com "The Town" me surpreendeste, com este "Argo" arrumaste-me para canto. Onde foste desencantar esse talento?

E Steven. Depois de "War Horse", veio o "Lincoln". Ainda não estamos lá - não me esqueço de "Crystal Skull" e de "War of the Worlds" - mas o caminho para a tua redenção comigo está mais pequeno. Olha, aproveita e dá uns conselhos ao Woody ("To Rome With Love"), que ele está bem necessitado. E Ang Lee. Uff. Obrigado por seres único. "Life of Pi" junta-se a "Brokeback Mountain" no grupo dos  filmes mais incompreendidos do nosso século. Ame-se ou odeie-se (e há muitos que odeiam, infelizmente), Ang Lee é o realizador mais talentoso da sua geração.


Agora, umas palavras aos actores. Obrigado Léa e Marion, deusas francesas, vocês terão sempre um lugar no coração pela vossa irreverência. Meryl, tu e eu já sabes, é para sempre. Mais um ano em que calas quem não te suporta. O teu génio não tem par. Nicole, palmas para ti também. Por ires a sítios que a maioria dos actores teme sequer chegar perto. Riva e Trintignant, que assombro. Ao ver-vos actuar a minha vida avançou cinquenta anos e fizeram-me imaginar e, pior que isso, trouxeram-me de volta a mim da forma mais horrenda possível. Mas é assim a vida e vocês cumpriram o vosso papel. Palmas para a Keira e para a Kirsten. Nunca mudem. Mandem os críticos levar num sítio que eu e vocês sabemos.

Kristen e Robert, agora que aquela franquia acabou, é sempre fascinante ver que sabem, de facto, actuar. Continuem. Emma, o mesmo digo de ti.

Day-Lewis, Day-Lewis. Não há palavras para descrever a tua arte. Obrigado por trazeres a Sally Field e o Tommy Lee Jones ao teu nível. É deste tipo de colaborações que eu gosto. 


Amy Adams. Charlize Theron. Javier Bardem. Michael Fassbender. Garrett Hedlund. Matthias Schoenaerts. Diane Kruger. Jude Law. Bryan Cranston. Rachel Weisz. O ano não foi muito generoso convosco, dada a qualidade do vosso trabalho. O meu muito obrigado de qualquer forma e um desejo que 2013 seja o vosso ano. Rosemarie deWitt, Emily Blunt, um aviso, depois deste 2012: o vosso talento merece tanto mais! 

Foi este o meu 2012. Um ano estranho. Um ano diferente na minha vida, que deixou marca no cinema que me marcou. "Amour". "Life of Pi". "Beasts of the Southern Wild". "Argo". "Holy Motors". "Moonrise Kingdom". "Farewell My Queen". "Tabu". "Sister". "Take Shelter". "Margaret". "Shame". "Weekend". "Elena". Religião, filosofia, fé. O amor, puro e simples. A inevitabilidade da morte e a sobrevivência. O quão sozinhos estamos realmente no mundo. O triunfo da condição humana. A procura de algo mais. A comunhão entre as pessoas. Temas universais que identifico transversalmente nos filmes que mais amo do ano. 


A ver o que o ano novo me traz. Se possível, mais optimismo. Mais felicidade e alegria nos meus filmes, se puder ser. Menos depressão e solidão, se bem que esses são sempre os melhores temas, porque o drama se faz da catarse e a catarse só vem dos problemas sérios. Bem, pensando melhor: que 2013 venha. E venha carregado de filmes, de cenas, de momentos, de melodias, de interpretações que eu possa ardentemente abraçar e apreciar, vezes sem conta. Que 2013 seja um ano memorável. 

Feliz Ano Novo.

Jorge Rodrigues




A Angústia do Blogger Cinéfilo conta com DPFP na 2ª edição



Pois é, meus caros, a grande iniciativa A Angústia do Blogger Cinéfilo no Momento do Penalty, do blogue CINEdrio do Luís Mendonça, está de volta para uma segunda edição e, depois de um período de candidaturas e transferências feroz, eis que as equipas se encontram em regime de pré-época antes do início deste belo torneio interblogues.


Nesta segunda edição temos várias caras novas, a começar pelo DPFP, que este ano também entra no certame. Juntamente com a equipa da casa e a do DPFP, temos ainda equipas do Rick's Cinema, do Keyzer Soze's Place, do O Narrador Subjectivo, do A Sombra do Elefante, do Caminho Largo e do Shut Up and Watch the Movies. Podem consultar todas as equipas - bem como o regulamento da competição -  AQUI.

Por cá, a DPFP FC espera contar com o vosso apoio e votos para, com jeitinho, chegar à fase final do torneio e, quem sabe, trazê-lo para terras de Coimbra. Depois da Académica ganhar a Taça de Portugal, por que não sonhar? 

Voltaremos na próxima semana com mais novidades sobre o torneio e, sobretudo, com a lista de confrontos dos oitavos-de-final (sorteio na próxima sexta-feira) e aí faremos uma análise mais detalhada à "concorrência".

Abaixo vos deixo com a constituição da DPFP FC:


Treinador: Luis Buñuel. Não podia ser outro. Para mim, não há melhor treinador que este. Se Mourinho fosse realizador, seria, para mim, este senhor. Provocador e prevaricador por natureza, célebre por não temer criticar a sociedade e a política do seu tempo, nunca se sabe que decisão tomará a seguir. Para muitos um génio, para outros um louco. Controverso e surreal.  Consistente. Completo. Impressionante.

Guarda-Redes: Steven Soderbergh. Uma escolha pouco consensual, que teve um percurso muito auspicioso no início de carreira mas que conseguida a aclamação crítica se deixou relaxar. Apesar de falhar de vez em quando, é fiável e equilibrado, cumprindo sempre. Com uma aposta firme nele, pode ser grande de novo. O meu Van der Sar. 

Lateral Direito: Mike Leigh. Consistente, organizado, de uma categoria e respeito indiscutíveis. Apesar de veterano, qual Javier Zanetti, aguenta-se em campo como poucos devido à sua brilhante ocupação do espaço e qualidade na decisão. 

Lateral Esquerdo: Alain Resnais. Senhor de muitas guerras e com uma carreira bem longa, este continua a ser um dos gigantes do meio futebolístico, que apesar de meio enferrujado continua a merecer temor da oposição. O meu Paolo Maldini. 

Defesas Centrais: Michael Haneke e Lars von Trier. Uma dupla temível, capaz de aterrorizar e torturar qualquer adversário. Sem medo de ir às canelas, de jogar sujo, de fazer doer, que olha nos olhos de qualquer um. Sabem o que fazem em campo e usam bem o seu ar provocador e enigmático para aparecer na grande área contrária a cabecear para golo. Uns centrais a fazer lembrar uma combinação de Cannavaro e Thuram, cada um ao seu estilo, eficazes a limpar, certinhos a defender e ferozes a lançar o ataque. São poucos os que se atrevem a enfrentá-los. Impenetráveis, dão segurança e seguram a equipa. 

Trinco: David Fincher. Eficiente, operático, obsessivo, meticuloso. É o cérebro, o líder que controla as acções da equipa e fá-lo com precisão e detalhe irrepreensíveis. O meu Redondo. 

Médio Box-to-Box: Abbas Kiarostami. A complementar um médio-defensivo daquela categoria, tinha que haver um médio box-to-box igualmente excelente. Passe de fino recorte, o naturalismo e simplicidade com que desempenha o seu papel em campo são marcas distintivas. Acima de tudo, o que mais surpreende é a capacidade de autorreflexão que confere ao seu jogo, que o leva a estar no local certo à hora certa, enchendo o campo. Muito crítico consigo mesmo, nunca fica satisfeito e quer sempre fazer mais. O meu Ballack. 

Médio Ofensivo (nº 10): Paul Thomas Anderson. A minha contratação mais cara, digamos, cujo valor está a subir fruto da aclamação crítica que tem recebido nos últimos anos. Mas penso que vale a pena, pois Anderson, apesar de jovem, é tão-só o jogador mais talentoso da sua geração, exímio e quase perfeito no que faz, como se fosse um profissional com muitos anos de experiência. Ambicioso e destemido, é ele que inspira e empurra a equipa para a vitória, como só ele sabe. É um prodígio e tem tudo para ser um Baggio, um Maradona, um Zidane, um Platini ou um Messi. 

Extremo/avançado, direito: Terry Gilliam. Imaginação, originalidade como poucos, com a dose certa de bizarro e fantástico para confundir mesmo o mais persistente dos adversários. Passa com facilidade pelos defesas (o que o diverte imenso), porque estes nunca sabem o que ele vai fazer a seguir. Pouco valorizado, é a minha arma secreta, o meu Futre. 

Extremo/avançado, esquerdo: Pedro Almodovar. Só o perfume da bota deste senhor diz tudo. Romântico, criativo, poético, Almodovar é como se fosse o meu Figo. Nem sempre agrada a todos, mas uma coisa é certa: que o moço tem um talento inato para encantar o espectador, isso tem. 

Ponta de Lança: Todd Haynes. Pode não ser o ponta-de-lança mais concretizador, pode não ser o mais adorado e pode não ser o que ganha mais dinheiro mas, qual Benzema, mostra uma classe ímpar no seu jogo colectivo e impressiona pela sua irreverência, coragem e criatividade. Os guarda-redes adversários temem-no, porque já sabem que se não marca, ele assiste quem vai marcar.


ANNA KARENINA (2012)



Pouco há a dizer sobre a história de “Anna Karenina” que já não tenha sido dito sobre as inúmeras adaptações cinematográficas e televisivas. Todo o mundo sabe que o clássico de Tolstoi aborda a sociedade aristrocrática da Rússia do século XIX e a rigidez das suas regras e costumes, contando através da história da bela Anna Karenina, tragicamente condenada a sofrer por amor, como era viver na alta sociedade de então e, bem mais que isso, como era o ambiente político-social da sua Rússia. O que importa frisar, então, nesta adaptação de “Anna Karenina”, é que se trata da terceira colaboração entre Joe Wright e a sua musa, Keira Knightley (que voltam a trabalhar juntos após “Atonement” e “Pride and Prejudice” terem feito de um e outro, respectivamente, importantes figuras do cinema contemporâneo). 


Pragueado por problemas financeiros, “Anna Karenina” obrigou Wright a inventar na concepção da história e fazer algo mais experimental, mais ambicioso, mais arriscado (daí a dividida opinião acerca do filme). Wright propõe que “Anna Karenina” se passe dentro de um teatro – tornando literal a expressão “a vida é um teatro”, em que nós, humanos, somos como um elenco – espectadores da vida dos outros, protagonistas da nossa, muito conscientes de que outros nos olham e nos julgam pelo que fazemos (assim é a sociedade) – tal qual como se fôssemos meras peças de um jogo de xadrez, que nos movemos infindavelmente até que, por fim, a cortina se fecha para nós de vez. Anna Karenina pensa que pode fintar as regras. Pense de novo. As escolhas que fazemos ditam o nosso destino. E assim é para a nossa pobre heroína. 


A produção artística de Sarah Greenwood merece aqui uma ressalva, ao criar múltiplos mundos e a fazer enorme uso do espaço e, sobretudo, do ambiente confinado que lhe é dado, conseguindo conferir ao filme a mesma ilusão de quasi prisão, de clausura, de claustrofobia que Anna Karenina também mostra estar a atravessar (ajudada pelos corsetes bem apertados de Jacqueline Durran). Wright encena esta peça de forma apaixonante, precisa, mas fluída, brincando com este mundo que lhe é oferecido, criando alguns momentos verdadeiramente encantadores, trazendo vivacidade, amor, vitalidade e, finalmente, tragédia a esta peça. A atmosfera que Wright origina com uma simples mudança de cenário é infindável – aquela cena da valsa ainda hoje me assombra. A sagacidade do realizador vê-se também noutra forma de abordagem da história, ao focar-se não só no triângulo entre Anna, Vronsky (um terrível Aaron Johnson) e Karenin (um formidável Jude Law, pena o pouco tempo de ecrã), mas também em mais dois casais, como que a servir de exemplo contrastante para com o que se passa com Anna: o seu infiel irmão Stiva (o brilhante Matthew MacFayden) e sua esposa sofredora Dolly (Kelly MacDonald) e o jovem casal idealista e apaixonado, Levin (Domnhall Gleeson) e Kitty (Alicia Vikander, um achado de 2012). 


Outro elemento digno de nota é Dario Marianelli, também ele de regresso para uma quarta colaboração com Wright. Arriscaria dizer que Wright não faria o filme sem ele – até porque o compositor elaborou toda a música para o filme antes da filmagem, para que Wright pudesse coreografar certas cenas ao som da música. Marianelli, que merecia uma menção aos Óscares pela fantástica música de “Jane Eyre” o ano passado, volta a estar em grande. O mais ténue ranger de cordas desperta mil sentimentos e emparelha na perfeição com a face de Keira Knightley, mais uma vez a encaixar como uma luva num filme de período (a sua especialidade, de “A Dangerous Method” a “The Duchess”), mais uma vez impossível de não admirar. Quando Anna perde o controlo, a fragilidade que Keira exibe desarma o mais sisudo dos seus críticos. Se justiça houvesse, esta interpretação suscitaria mais falatório. 


Colocando de parte os nossos sentimentos acerca do filme, uma coisa, penso eu, fica clara, tanto para quem odeia como para quem apreciou “Anna Karenina”: é a imensidão do génio e intelecto de Joe Wright, que demonstra aqui, ao seu quinto filme, a versatilidade e diversidade do seu arsenal de talentos enquanto realizador. Quando ameaçado com cortes no orçamento, permitir-se a si mesmo criar do nada esta ideia tão absurda e louca quanto potencialmente interessante está ao alcance de muito poucos. Safar-se já era um êxito; fazê-lo da forma como o faz, com aquele que é para mim e até agora, o seu melhor filme, é merecedor de um fortíssimo aplauso.



Nota Final:
B/B+

Informação Adicional:
Realizador: Joe Wright
Argumento: Tom Stoppard
Elenco: Keira Knightley, Matthew MacFayden, Jude Law, Kelly MacDonald, Alicia Vikander, Domnhall Gleeson, Aaron Johnson-Wood, Olivia Williams, Ruth Wilson, Emily Watson
Fotografia: Seamus MacGarvey
Música: Dario Marianelli

LIFE OF PI (2012)



"So, which story do you prefer?"

“Brokeback Mountain”. “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. “Sense and Sensibility”. “The Ice Storm”. “Lust, Caution”. E agora “Life of Pi”. Quem mais poderia ser dono desta filmografia cheia de qualidade e diversidade? Ang Lee, uma vez mais, chega a um projecto na altura certa. Antes do mestre asiático se chegar à frente, uma década passou com vários a tentarem adaptar o romance épico de Yann Martel. O último a tentar havia sido Jean-Pierre Jeunet (famoso por “Amélie”), que declarou a película impossível de filmar. Introduzam na equação “Avatar”, o advento do 3D e claro Ang Lee. Estamos em 2012 e “Life of Pi” é uma realidade. Confesso que achava impossível que um filme pudesse ser tão belo e precioso e ao mesmo tempo parecer tão natural, sensível, real. É este o grande dom de “Life of Pi”, esta pureza, esta capacidade de transcender as barreiras desta arte, que faz dele um miraculoso e poético prodígio, uma ode ao cinema. 


Apesar de uma primeira hora difícil de digerir, a segunda metade do filme faz valer imenso a pena, com o visionário realizador a proporcionar-nos momentos inesquecíveis, de ficar completamente arrebatado. Por entre alguma confusão nas ideias que nos pretende transmitir e a necessidade – inerente, pelos temas abordados pelo filme – de evitar tornar-se num longo sermão bíblico sobre o valor da fé na religião e na vida, Lee pega em “Life of Pi” e em tudo aquilo que o filme pretende ser e troca-lhe as voltas, fazendo da viagem do jovem Piscine “Pi” Patel (Suraj Sharma, numa interpretação cheia de vitalidade e carisma, sem a qual seria impossível este filme ter sucesso, complementada na perfeição tanto por Irrfan Khan como a versão adulta de Pi como por Ayush Tandon como Pi mais novo) a bordo de um pequeno barco no meio do Oceano Pacífico, acompanhado pelo seu tigre Richard Parker (majestosamente animado com CGI e 3D) e da sua luta pela sobrevivência o pilar no qual o filme reside. Entretenimento e arte confluem assim para criar um dos mais originais e fascinantes filmes que vi este ano, que nos relembra do poder transcendente e fantasioso que o cinema tem, ao transportar-nos para outros locais, para outras realidades. 


Auxiliado pelo soberbo trabalho do director de fotografia Claudio Miranda (não é por acaso que a fotografia do filme me lembrou a simplicidade e beleza de “The Curious Case of Benjamin Button”, pelo qual Miranda foi nomeado ao Óscar; espero que repita este ano) e pela fluída e relaxante banda sonora de Mychael Danna (que espero que mereça uma nomeação aos Óscares este ano), Ang Lee empresta a sua mestria e estética apurada para transformar as limitações da obra literária que deu base ao filme em forças (o poderio visual, neste caso, fortalece sem dúvida o que se imagina lendo) e fazer de “Life of Pi” um dos melhores do ano e acima de tudo um dos mais pertinentes e audazes filmes dos últimos anos, sobre a viagem de um homem que procura reobter algo em que acreditar. 


Tal como com “The Tree of Life”, no que uns vêem um exercício aborrecido sobre religião e fé, eu vejo um filme ambicioso e importante, um que combina filosofia, teologia, psicologia e espiritualidade e, no fundo, nos dá a nós a missão de escolher o que retiramos da história que nos é contada.

Nota Final:
B+

Informação Adicional:
Realização: Ang Lee
Argumento: David Magee
Elenco: Suraj Sharma, Ayush Tandon, Irrfan Khan, Rafe Spall, Tabu, Adil Hussain, Gerard Depardieu
Fotografia: Claudio Miranda
Banda Sonora: Mychael Danna


Boas festas!


O pessoal do Dial P For Popcorn deseja a todos um óptimo Natal, com muita felicidade e festa junto dos vossos! E que a quadra vos traga bons filmes, que também é preciso!


AMOUR (2012)




Atrevo-me a dizer-vos que, enquanto Michael Haneke produzir cinema, arrisca-se seriamente a conseguir títulos, honras e unânime reconhecimento por esse mundo fora. Onde o cinema chegar, a magia de Haneke vai chegar. Amour é a prova viva de que com dois acordes se faz uma canção de amor intemporal. É a prova viva de que com poucas palavras se consegue escrever uma obra-prima. Amour é a prova de que o verdadeiro amor tem pouco a justificar. É intrínseco e naturalmente perceptível por um público suficientemente maduro para o entender. Amour é uma jogada de Haneke que tem tanto de irreverente quanto de clássico.


Uma paradoxo baseado num eterno e profundo amor. Esta é a premissa do filme premiado com a Palma de Ouro de Cannes em 2012 (a segunda para a Haneke nas últimas quatro edições do festival). Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal octogenário que desfruta do prazer dos últimos anos de vida. Na Paris que nos habitou romântica e cultural, são um casal feliz com aquilo que a vida lhes deu. Tudo parece belo e idílico, até que um trágico acontecimento abala a homeostasia do casal. Anne sofre um acidente vascular cerebral que lhe paralisa metade do corpo e que a atira, de forma brutal e impiedosa, para a dependência do marido. A partir deste momento, que marca um volte-face em todo o filme, assistimos ao dia-a-dia de um casal que luta por se manter à tona da água. Assistimos à luta diária, estóica e silenciosa, de um homem a quem roubaram a felicidade e a companhia de uma vida. Assistimos à luta diária, estóica e dolorosa, de uma mulher atraiçoada pelo destino. 


Com uma brutal interpretação por parte dos dois protagonistas (em especial de Emmanuelle, com uma personagem assombrosa), todo o filme se passa num acolhedor e familiar apartamento parisiense, onde não se sente o realizador, onde o espectador faz parte da própria arquitectura do espaço físico do filme, vivendo e percebendo a história na primeira pessoa. É um dos melhores filmes deste ano. E (mais uma vez) a prova de que, na Europa, não há ninguém ao nível de Michael Haneke.

Nota Final: 
A


Trailer:



Informação Adicional:
Realização: Michael Haneke.
Argumento: Michael Haneke.
Ano: 2012
Duração: 127 minutos

"Ninho de Cucos" leva prémio nos TCN Blog Awards 2012


Ontem decorreram em Lisboa, no Auditório Rainha Santa Isabel no Centro Cultural da Casa Pia de Lisboa,  os TCN Blog Awards 2012. Aproximadamente setenta pessoas reunidas para se proceder à entrega de prémios aos melhores da blogosfera cinéfila e televisiva. Três horas volvidas num ápice, foi uma vez mais uma cerimónia excitante e divertida, conduzida por um enérgico e bem-disposto Manuel Reis (órfão do companheiro que vos escreve este ano, que teve de abdicar dos deveres de apresentação graças à Faculdade - uma vez mais, essa não perdoa) que deu bem conta do serviço a solo e com a intervenção de caras bem conhecidas como Luísa Barbosa ou Paula Neves. Só uma lamentação: a falha de som nas curtas-metragens "Assim Assim" de Sérgio Graciano e "Black Mask" de Filipe Coutinho. Merecíamos ter tido melhor sorte pois seguramente valeria a pena tê-las visto.

Do certame vencedor este ano, é minha obrigação realçar o vencedor de Melhor Artigo de Cinema, já que esse prémio veio cá para Coimbra, para eu entregar ao nosso Gustavo Santos, pela sua rubrica "Ninho de Cucos". Este reconhecimento, que muito nos apraz a nós no DPFP, é tão-só mais uma prova do talento indesmentível deste nosso colaborador a quem endereçamos os maiores parabéns! 

Aproveitamos para congratular todos os nomeados nesta e nas restantes categorias e os outros vencedores. Para o ano há mais e contamos lá estar de novo, esperemos que com a prometida mudança de cenário para outra cidade, sugerimos Coimbra ou Porto, pode ser?

Abaixo fica a lista completa de vencedores (quem quiser ver a cerimónia, pode fazê-lo aqui):

Melhor Crítica de Televisão
"House - episódio Everybody Lies", por Mafalda Neto, TV Dependente

Melhor Crítica de Cinema
"O Cavalo de Turim", por Tiago Ramos, Split-Screen

Melhor Entrevista
"Entrevista a Jonathan Rosenbaum", por Miguel Domingues, À Pala de Walsh

Melhor Site/Portal de Cinema/Televisão
Magazine HD

Melhor Artigo de Televisão
"RTP 2 - Sentimento de Revolta", por Rui Alves de Sousa, Companhia das Amêndoas

Melhor Artigo de Cinema
"Ninho de Cucos (IV)", por Gustavo Santos, Dial P for Popcorn

Melhor Novo Blogue
Hoje vi(vi) um filme (Inês Moreira Santos)

Melhor Iniciativa
Ficheiros Secretos - 10 anos, Imagens Projectadas

Melhor Blogue Individual
Close-Up (Catarina d'Oliveira)

Melhor Blogue Colectivo
TV Dependente

Blogger do Ano
Nuno Reis, Antestreia

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