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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

Falemos de... Lindsay Lohan



Mil problemas pessoais depois, por onde anda o rumo daquela menina ruiva bonita que encantou os espectadores desde tenra idade e que, a meio caminho de se tornar uma das maiores estrelas em potência de Hollywood, decidiu deitar tudo a perder em troca de drogas, de álcool, de más amizades e de fracas escolhas na sua carreira?

Pois é, falemos de Lindsay Lohan. Vinte e seis anos. Uma pessoa vai-se esquecendo do quão nova Lohan ainda é, tal a gigantesca confusão que é a sua vida pessoal e profissional. Muitos já dizem ser a próxima a juntar-se ao "clube dos 27", que ceifou a sua mais recente vítima o ano passado (Amy Winehouse). Tendo em conta o panorama geral, parece-me adequado fazer essas previsões.


As mais recentes notícias de Lindsay Lohan são sobre tudo um pouco, menos sobre a sua carreira: ela é suspeita de roubo de diamantes (link), deve milhares de dólares a muita gente, inclusive ao Chateau Mormont que alberga a sua generosa quantidade de penduras (link), o seu publicista pediu a demissão (link), o pai quer interná-la numa clínica de reabilitação (link), ela falta ao tribunal (link) onde é julgada por repetidamente conduzir embriagada (link e link), mentir à polícia (link) e bater em vários carros (exemplo: link e link) e é condenada a prisão (link e até nisso ela arranjou confusão - aqui), ela discute com a mãe em plenas ruas de Los Angeles (link) e mete-se em brigas sempre que sai à noite (aqui ou aqui), falta ao trabalho inúmeras vezes (uma vez e outra...), entre outros exemplos.  O pai e a mãe também não são nada flor que se cheire (ver aqui ou aqui exemplos clássicos de gente que não devia estar habilitada a ter filhos, quanto mais celebridades como filhos). Resumindo: um desastre, a vida desta rapariga na última meia década. Os últimos dois, três anos em particular têm deixado mossa.


O que é feito, pergunto eu de novo, daquela actriz competente e até carismática que com doze anos protagonizou "The Parent Trap", que me impressionou na virada do milénio em "Freaky Friday" e "Mean Girls", que prometia muito com "Prairie Home Companion", "Georgia Rule" e "Bobby" e que até provou que o seu nome podia ser sucesso de bilheteira com "Herbie"? Será que essa actriz ainda existe? Será que a ambição dela se mantém intacta? E será que a actriz ainda quer ser actriz, ou já pura e simplesmente desistiu de tentar e agora o melhor que ela chegará a fazer é protagonizar alguns telefilmes na Lifetime? Ou será que um dia vamos testemunhar um renascimento de Lohan, à la Mickey Rourke ou Robert Downey Jr?

Que vos parece?
Eu voto que a actriz devia tentar algumas participações especiais em séries, como ela fez já em 2008 em "Ugly Betty" e voltar a cair nas graças dos espectadores (tal e qual Downey Jr. em "Ally McBeal"), porque um "The Wrestler" não surge todos os dias - nem ninguém tem vontade de se chegar à frente para trabalhar com ela, nem por uma hora que seja. Apesar de tudo, acho que ela não tem remédio. São muitos problemas para uma pessoa só lidar.

Antecipação para 2012-2013 (II)


Peço desculpa se vos desacelerar a abertura da página mas ainda assim, para ser mais fácil, optei por juntar todos estes trailers num só (gigantesco) artigo, partido em três partes, por secções de entusiasmo.

Passando à segunda parte deste gigante artigo (Parte I AQUI):

Secção 
ESPREITAREI CERTAMENTE / SINTO-ME OPTIMISTA:


CLOUD ATLAS

O trailer parece prometer algo que o filme não pode com certeza concretizar, tal a magnitude do projecto e das narrativas em intersecção. Ainda assim, não vos parece divertido ver Tom Hanks a interpretar seis personagens diferentes num só filme? E ver a mestria de Tom Twyker e os irmãos Wachowski a trabalhar em conjunto? Este filme tem potencial para ser um espectáculo abraçado efusivamente ou um desastre épico. Será divisivo, sem dúvida. Cá estarei para ver de que lado me situo.



GEBO E A SOMBRA

Já nos cinemas, mas tenho tido preguiça de ver. Manoel de Oliveira tem-me cansado, sempre a reciclar as mesmas temáticas e preocupações existenciais de filme para filme. Este parece prometer mais do mesmo, mas o retorno à língua estrangeira atiça-me a curiosidade. Hei-de comprar bilhete, disso não duvido.




LINCOLN

O novo Spielberg. E eu digo isto com a melhor das intencionalidades. Por cada "Tintin" que me surpreende, há três ou quatro "War Horse" ou "Munich" que aí vêm. Em qual das categorias cai "Lincoln"? Pela conversa dos festivais, está no meio termo dos dois, uma espécie de "Amistad", que é quando considero que o Spielberg decidiu desistir de ser um cineasta sério, não sem antes coleccionar Óscares pelo medíocre "Saving Private Ryan". Já me convenci que o Steven não volta a fazer algo tão bom como "Schindler's List". Lá verei isto também, mas sem grande expectativa. Pode ser que goste - tem o Daniel Day-Lewis afinal.



END OF WATCH

As críticas desta película protagonizada por Jake Gylenhaal puseram-me em sobressalto, de tão boas que são. Particularmente considerando que tem pairado conversa de Óscares sobre o trabalho dele e de Michael Peña. Sinto-me interessado, contudo pouco mais que isso.



SMASHED

Aaron Paul. Mary Elizabeth Winstead. Um elenco secundário interessante (Octavia Spencer, Megan Mullally, Nick Offerman). Críticas de Sundance impecáveis. Color me curious.



CHILDREN OF SARAJEVO
LORE
OUR CHILDREN
A ROYAL AFFAIR

Contingente de filmes estrangeiros de segunda linha candidatos ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Nos quatro casos, as críticas prevêem coisas boas. O meu grau de entusiasmo em relação a eles varia, mas quero vê-los a todos. Até porque os últimos três, pelo menos, estão garantidos como melhores do ano em muitas listas - e como prováveis nomeados para os Óscares no próximo mês de Janeiro.






SAFETY NOT GUARANTEED
TAKE THIS WALTZ
KILLER JOE

Estão os três juntos porque vá, confesso, já os vi aos três. Recomendo vivamente todos eles, se bem que com reservas porque não são típicas comédias (no caso do primeiro), dramas (no caso do terceiro) e comédia-drama (no caso do segundo). Exigem um bocadinho de paciência. Todavia, são os três dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.





A ver se acabo o resto da lista nos próximos dias. Agora vocês: quais destes filmes vos chamam à atenção?

TO ROME WITH LOVE (2012)


Woody Allen continua a gozar como ninguém os seus últimos anos de actividade. Novamente pago a peso de ouro para promover uma cidade europeia, repete sem quaisquer complexos a receita que o imortalizou: pequenas e insignificantes histórias de amor, satirizadas ao som de um ambiente charmoso e elegante. É preciso compreendê-lo. Já ninguém vai para uma sala de cinema à espera de ver um Annie Hall. Woody Allen já escreveu a sua página na história do cinema (e que página!). O que faz agora é pura diversão. Um passatempo para enganar a idade.


As opiniões sobre TO ROME WITH LOVE podem ser contraditórias. Compreendo isso. Cada vez é preciso mais paciência e disposição, em especial quando o espectador já viu uma boa dúzia dos seus filmes, para aceitar os trocadilhos fáceis e as opiniões mordazes do realizador, para se divertir com a ingenuidade das suas personagens, para (e aqui alguns vão-me considerar injusto) se surpreender com clichés repetidos filme após filme. 


Algo que me incomoda, neste filme e no pretensioso Woody Allen dos últimos anos, é a sua inconsequência e uma relativa impunidade (fruto da idade, mas acima de tudo resultado de uma carreira cheia de sucessos) com que constrói as suas histórias. Existe uma carta branca para as suas produções. Não existem limites e tudo o que faz é, no seu mundo e na sua cabeça, arte. Mas no mundo real e na boa-vontade dos espectadores existem limites. E por isso o seu mais recente filme é só mais uma história divertida (a espaços abusiva e pontualmente idiota). E o seu título, juntamente com o historial do realizador, resumem-no.

Nota Final: 
C


Trailer:



Infomações Adicionais:
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Ano: 2012
Duração: 112 minutos

Sons da Minha Vida (III)


Nesta rubrica, tentamos enfatizar a importância de uma boa banda sonora na composição final de um filme. Para isso, deixamo-nos de muita conversa e damos espaço à música para mostrar o nosso ponto de vista.


O compositor em destaque nesta terceira edição, inspirada pela sua vitória a semana passada nos World Soundtrack Awards para Composição do Ano e Compositor do Ano, é o espanhol Alberto Iglesias, conhecido como um dos mais frutíferos colaboradores de Pedro Almodovar, lado a lado com Penelope Cruz ou o editor José Salcedo.


Iglesias, nascido em 1955 em San Sebastián, começou a compor para películas no princípio dos anos 80, mas só viria a atingir algum estatuto de notoriedade com o início dos anos 90 e as suas colaborações primeiro com Julio Médem - que lhe renderam Goyas em 1992 ("Vacas"), 1993 ("La Ardilla Roja"), 1996 ("Tierra") e 1998 ("Los Amantes del Círculo Polar") - e depois com Pedro Almodovar, com quem começou a trabalhar em 1995 ("La Flor de Mi Secreto") e desde então nunca mais parou, indo até ao seu mais recente título, "La Piel Que Habito" (2011). As suas parcerias com Almodovar providenciaram-lhe 2 European Cinema Awards (em 4 nomeações no total) - 2006, "Volver" e 2009, "Los Abrazos Rotos" e 5 Goyas (1999, "Todo sobre mí Madre"; "2002, "Hable con Ella"; 2006, "Volver"; 2009, "Los Abrazos Rotos"; 2011, "La Piel Que Habito").

A juntar às composições fantásticas que criou em Espanha, Alberto Iglesias tem sido reconhecido nos últimos anos em terras internacionais, com 3 nomeações aos BAFTA, 6 nomeações aos World Sountrack Awards, com 4 vitórias (as 2 deste ano, por "Tinker Taylor Soldier Spy" e mais 2 em 2005 por "The Constant Gardener") e sobretudo com 3 nomeações aos Óscares, por "The Constant Gardener", "The Kite Runner" e "Tinker Taylor Soldier Spy" (pela qual eu pessoalmente considerava que merecia ter ganho).

Um compositor versátil e audaz, sem medo de tentar coisas novas e que dificilmente se repete, que mistura vários estilos e varia delicadamente entre composições mais dramáticas e poderosas e peças mais suaves, mais melódicas e subtis dentro da mesma banda sonora com muita facilidade, Iglesias só agora começa a subir em fama por Hollywood. Não me admiraria nada que, tal como Desplat, rapidamente chegue ao Óscar. E ele merece. 

Cá vos deixo com alguns exemplos dos que penso serem os melhores trabalhos de Iglesias:

"Una patada en los huevos" - LA PIEL QUE HABITO



"Bau - Raquel" - HABLE CON ELLA


"George Smiley" - TINKER TAYLOR SOLDIER SPY



"Tema de Amor Ciego" - LOS ABRAZOS ROTOS



"Justin's Death" - THE CONSTANT GARDENER



"Opening Titles" - THE KITE RUNNER





TCN Blog Awards 2012 trazem mais 2 nomeações para o DPFP




Esta semana voltamos a ter prova do quão querido o DPFP é nesta blogosfera, com mais duas nomeações aos TCN Blog Awards para juntar ao nosso honroso pecúlio. 

Depois de algumas mudanças efectuadas nesta fase de nomeações para os prémios de 2012 (que passou a ter um júri pré-designado pelo criador da iniciativa, o Miguel Reis do Cinema Notebook, a avaliar artigos, críticas e blogues e a votar nas nomeações), era pouca a nossa esperança que alguém ainda reparasse em nós, com o ano horribilis de quasi-abandono que o blogue sofreu à custa da vida académica. No entanto, fomos orgulhosamente contemplados com duas nomeações (depois da vitória em 2010 para Melhor Novo Blogue e das 3 nomeações em 2011): Melhor Artigo de Cinema, pelo texto "Ninho de Cucos (IV)", da autoria do nosso colaborador Gustavo Santos (na mesma categoria foi também nomeado o nosso ex-colaborador Axel Ferreira, a quem também endereçamos parabéns!) e Melhor Crítica de Cinema, pelo nosso escrito sobre "The Artist".

Uma nota especial para uma nomeação importante, a do Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP) - do qual os dois criadores do DPFP fazem parte - um dos candidatos a Melhor Iniciativa.

De resto, saúda-se a franca presença feminina entre os nomeados este ano e a maior variedade de blogues que apareceram este ano em várias categorias (alguns que aqui o DPFP desconhecia), prova que há vitalidade na nossa blogosfera cinéfila e que o que se faz é de bastante qualidade. Tomara o público prestar-lhe o devido reconhecimento, com mais comentários, mais feedback e mais entusiasmo pela dedicação destes fervorosos bloggers que com muito amor e sem qualquer ambição de grandeza ou reconhecimento lá vão fazendo pela vida para tornar os seus blogues em produtos apetecíveis, frequentados e diversificados. De qualquer forma: parabéns a todos os nomeados (que podem consultar aqui) e esperamos vê-los a todos em Lisboa!

Agora, um pedido habitual nestas andanças: a quem gosta do que fazemos e aprecia a nossa contribuição, pedimos que VOTE. Para votar basta irem ao sítio do Cinema Notebook (AQUI) e na barra lateral à direita votar "Ninho de Cucos (IV)" em Melhor Artigo Cinema e "The Artist" em Melhor Crítica Cinema. Ficaremos eternamente agradecidos.

Ninho de Cucos (VI)


Não sei como funciona com as outras pessoas quando têm de escrever sobre cinema, mas comigo a coisa às vezes é feia. A questão recai sobre o facto de, como qualquer outra pessoa, eu escolher os filmes que vejo com base nas expectativas que tenho deles, optando por aqueles que me parecem mais adequados ao meu gosto e assim ficar limitado a ver apenas alguns que me não irão agradar. E isto torna tudo mais difícil, porque num filme de que se não gosta é muito mais fácil objectivar as características que tornam a experiência desagradável, enquanto que num filme que nos deixa boa impressão não raras vezes torna-se difícil de articular em palavras aquele plasma de pensamentos que é responsável por essa positiva impressão. Prova disto é a facilidade com que uma pessoa atinge a típica expressão do "estou sem palavras" quando a força da circunstância exige um agradecimento ou elogio, mas quando o acaso requer uma crítica ou um insulto a torrente de vocábulos originada inunda a consciência de tal forma que a razão geralmente se afoga.


Assim decidi evitar aqui uma lamentação madalénica e aproveitar esta oportunidade para espalhar alguns elogios sobre algo que realmente aprecio. Portanto tendo em consideração o facto de as séries terem recomeçado, achei por bem tecer uns poucos de louvores à melhor série animada de que há memória: South Park! Sim os Simpsons também são porreiros sim senhor, mas não há nada melhor do que chegar a casa depois de um dia cheio de trabalho, depois de ter de aturar três ou quatro suplementos da dose diária recomendada de idiotas e ter um episódio novo de South Park à espera no computador. Não estou a exagerar. Para quem quer que tenha a mania que sabe mais que os outros, como eu, South Park é um refúgio divino, um idioma secreto que nenhum estranho pode compreender. 

Munidos de uma capacidade incrível de satirizar qualquer tema que lhes apareça pela frente, Trey Parker e Matt Stone, os criadores, argumentistas e responsáveis por quase todas as vozes do programa, redefiniram esta forma de paródia social, atingindo temas universais, sob a camuflagem de um grupo de miúdos do 4º ano representados através das formas mais primitivas que os meios de animação actuais têm para oferecer; o que por si só acaba por ser uma sátira ao fascínio pelo o belo e o perfeito que tantos cineastas idealizam como nirvana pessoal.


Tudo começou em 1995 com um orçamento de 2000 dólares para fazer um pequeno clip que servisse como cartão natalício, para enviar aos amigos e familiares. O que ninguém estava à espera é que a incapacidade de Parker e Stone obliterarem o seu génio criativo tivesse tamanha magnitude num short film com tão pouca exposição mediática. O que sucedeu foi que essa pequena animação (feita à moda da escola primária com uma câmara de filme 8mm, cartolina e cola UHU) originou um pequeno milagre através da redistribuição do filme de amigo para amigo, até ir parar aos executivos da Comedy Central que oportunamente resolveram assinar contrato com ambos para a realização daquela que é uma das mais bem sucedidas e duradouras séries animadas da televisão. Isto numa altura em que os computadores eram mais gordos que o John Goodman, e em que um download de 5mb demorava mais do que as temporadas todas do Serviço de Urgência. A verdade é que valia a pena ficar à espera para sacar o vídeo. Apesar de visualmente infantil e parco em qualidade cenográfica, "The Spirit of Christmas" exibe toda a capacidade artística dos seus criadores, num conto onde as 4 personagens principais de South Park (Stan, Kyle, Cartman e Kenny) se deparam com o dilema de "quem apoiar?" quando uma batalha entre Cristo e o Pai Natal, pela supremacia no respectivo feriado, toma lugar. Tudo isto polvilhado com miúdos esborrachados e trocas de insultos infantis entre Cartman e os seus colegas, formam uma história surpreendentemente cativante para o propósito a que estava destinada. E não deixam de acabar com uma lição final de conciliação (que aliás é uma constante na série televisiva), onde um dos rapazes, geralmente Stan ou Kyle, começa com a expressão "I've learned something today..." em que surge sempre um corolário daquilo que os rapazes aprenderam com os eventos do episódio, se bem que em "The Spirit of Christmas" não seja bem esse o caso...


Mas o que separa South Park de qualquer outra série animada não infantil é o facto de se tratar de um trabalho humorístico de opinião. Fazer comédia sem fins argumentativos é infinitamente mais fácil do que fazê-lo com capacidade crítica, e neste departamento ninguém o faz tão bem como estes senhores. Contudo, a forma como lançam as suas contundentes opiniões ou quais os temas que escolhem para alvejar, são completamente alheios às consequências que delas possam surgir. Recordo-me por exemplo do episódio em que Stan e amigos vão ver o filme do "Indiana Jones e a Caveira de Cristal" e ficam tão incomodados que resolvem dirigir-se a um advogado para apresentar queixa contra o Spielberg e o George Lucas por terem violado o Indiana. E não satisfeito com esta dura crítica, o episódio concretiza-a com desagradáveis imagens dos dois cineastas a sodomizarem positivamente o pobre arqueólogo. E como este há imensos outros exemplos da ferocidade dos criadores de South Park, especialmente nos vários episódios dedicados a criticar o fanatismo religioso e as suas ramificações. Decerto que haverá muita gente capaz de censurar este tipo de trabalho, mas com certeza também haveria quem considerasse os Monty Python um bando de palhaços espalhafatosos, e que da mesma maneira que eles se tornaram numa referência mundial, também South Park obterá o seu reconhecimento, mesmo vivendo sob a sombra do poderoso fenómeno "The Simpsons". É minha opinião, porém, que um trabalho humorístico que consegue levar à gargalhada de forma tão fácil e que é ainda capaz de imprimir um traço crítico tão forte e carismático, é digno de um estatuto tão ou mais elevado que os seus rivais da Fox.


Ainda assim, apesar de não beneficiar do mesmo reconhecimento e visibilidade de que os bonecos amarelos usufruem, South Park já teve também direito à sua saga cinematográfica, curiosamente lançada numa fase bem matinal da sua existência, mais concretamente em 1999, com boa aceitação por parte da crítica. A fita faz juz ao seu epíteto "Bigger, Longer and Uncut" pois na verdade parece muito mais tratar-se de um episódio maior e mais comprido, com um esquema narrativo em tudo idêntico ao da série, do que de uma nova vertente do franchising. Mas ao contrário do filme dos Simpsons que não retrata bem a qualidade da série, o filme de South Park traz consigo toda a irreverência e profanidade que caracteriza o estilo humorístico dos seus mentores. A história baseia-se num filme canadiano com linguagem abusiva, ao qual os 4 rapazes assistem, e cuja linguagem adoptam no seu dia-a-dia, até que os seus pais ficam chocados quando reparam. Entretanto conseguem convencer o governo a entrar em guerra com o Canadá, e quando dão por ela aparece Satanás com o seu amigo Saddam Hussein para se juntarem ao reboliço. No fim tudo termina de forma fantástica, mas o que fica do filme é a sátira à censura da liberdade de expressão e à intolerância das autoridades que categorizam os filmes, toda ela impregnada numa comédia animalescamente rude. Um filme que vale a pena ver, especialmente para quem não conhece o universo South Park.


E pronto, aqui fica a minha dose de bajulanço a Trey Parker e Matt Stone, dois tipos que fizeram a carreira apenas com os conhecimentos que obtiveram da congénere americana da nossa disciplina de EVT, e fizeram o favor de dar ao resto do planeta a satisfação de poder contar com a rude genialidade que caracteriza esta parelha. Dois colossos do género. Ao pé deles, Groening e Macfarlane são dois gaiatos...

Gustavo Santos

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