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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

LES MISÉRABLES, de Tom Hooper, ganha teaser trailer


E honestamente era o melhor teaser que alguém podia ter pedido. Ao som de Anne Hathaway - que interpreta Fantine, uma das personagens chave de "Les Misérables", peça célebre e clássica da Broadway baseada no romance homónimo de Victor Hugo - enquanto esta canta de forma trágica e comovente a épica "I Dreamed a Dream" (haverá melhor clipe de Óscar que este?), os personagens principais da nova trama de Tom Hooper (vencedor do Óscar de Melhor Realizador por "The King's Speech") vão passando pelo ecrã: Hugh Jackman, Anne Hathaway, Russell Crowe, Amanda Seyfried, Samantha Barks, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham-Carter e Eddie Redmayne, entre outros.

Um musical que muitos consideram sagrado e impróprio para a grande tela, "LES MISÉRABLES" é um dos grandes projectos do ano, com muito a seu favor e contra. Se resultar, temos nele o principal candidato aos Óscares de 2012. Se não resultar... Bem, pelo menos teremos a possibilidade de ver finalmente Hathaway e Jackman (e Crowe, porque não) mostrar o que as suas vozes valem no grande ecrã. Eu já fico contente só por terem optado por Seyfried (provas dadas no cinema) e Barks (provas dadas no teatro de West End) em vez de Taylor Swift e Lea Michele, que durante muito tempo foram consideradas para os dois papéis (a segunda, possivelmente, seria uma excelente Éponine).

De qualquer forma, o trailer deixa-me bastante optimista em relação ao sucesso do filme e, mais que isso, garante-me que provavelmente Hathaway será a concorrente a bater pelo Óscar de Actriz Secundária (o que, dado o meu apreço pelo seu trabalho nomeado de 2008 - seria a minha vencedora do Óscar esse ano - me deixa bastante agradado).

E vocês, que pensam do filme? Excitados por verem LES MISÉRABLES no cinema?

CANNES 2012 - OS VENCEDORES


Michael Haneke vence a sua SEGUNDA Palma de Ouro em quatro anos (em 2009 venceu com O LAÇO BRANCO), desta feita com o filme AMOUR. Aqui fica o video da entrega do Grande Prémio do Festival de Cannes 2012. Aqui fica a lista dos vencedores da edição deste ano:




Palma de Ouro para Melhor Longa-Metragem
Amour, de Michael Haneke


Grande Prémio
Reality, de Matteo Garrone


Prémio do Júri
The Angels' Share, de Ken Loach


Caméra d'Or
Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin


Melhor Realizador
Carlos Reygadas por Post Tenebras Lux


Melhor Actor
Mads Mikkelsen (The Hunt)


Melhor Actriz
Cosmina Stratan e Cristina Flutur (Beyond the Hills)


Melhor Argumento
Beyond the Hills, de Cristian Mungiu


Palma de Ouro para Melhor Curta-Metragem
Sessiz-be deng, de L. Rezan Yesilbas



O adeus às Desesperadas e ao senhor Doutor


No espaço de quinze dias, dois dos marcos indissociáveis da televisão norte-americana da última década chegaram ao fim: "House" que terminou esta segunda-feira e "Desperate Housewives" que acabou no domingo anterior. Como vou falar dos finais das duas séries, aviso desde já que se poderão encontrar abaixo pequenos spoilers portanto, cuidado se ainda não viu:


As "Desperate Housewives" foram pela última vez desesperadas, numa despedida em estilo e que conteve tudo o que habitualmente se considera elementos fundamentais de qualquer final de série - casamentos, nascimentos e mortes. Numa despedida a fazer lembrar "Will & Grace" e "Six Feet Under", por razões distintas, as donas de casa de Wisteria Lane fizeram a vénia de despedida na ABC - depois de ter contribuído em grande parte para a ressurgência da estação no ido ano de 2004, com "Lost" e "Grey's Anatomy" - com um final tão caótico como emocionante, com as quatro donas de casa a terminarem afastadas uma das outras, com este período das vidas destas quatro mulheres a terminar e novos desafios a abraçar. Embora a série nunca tenha conseguido regressar ao brilhantismo que pautou a sua primeira temporada e ao melhor mistério que teve e apesar de ter entrado em território de telenovela mexicana nos últimos anos, com histórias inacreditavelmente ridículas e temáticas repetitivas, foi com muita saudade que me vi invadido logo que o episódio acabou, acima de tudo porque afinal acompanhei o dia-a-dia destas senhoras durante oito anos e vi-as a elas e às suas famílias crescer e não é de um dia para o outro que me vou esquecer delas. Neste episódio final, como sempre, a série alternou entre o pouco credível (o julgamento de Bree) e o sentimentalismo extremo (a morte de McCluskey), conseguindo ainda assim um término bastante competente, encerrando a história conjunta das quatro protagonistas enquanto nos lembra, na habitual moda de "Desperate Housewives" (através da poderosa voz de Mary Alice), que nada na vida é eterno e que as pessoas nos entram e saem da vida em momentos específicos e com uma razão particular, o laço perdurando mas não as pessoas. Ninguém dá lições de moral nem faz drama de fazer derramar lágrimas tão bem como Marc Cherry. Ninguém. Prova:


Também "House, M.D." se perdeu um pouco a meio do caminho.


Parte da grelha vencedora da FOX dos últimos anos, "House" era um pilar indissociável do sucesso recente daquele que era, no final dos anos 90, o quarto canal generalista, tendo coleccionado bastantes nomeações para prémios nas suas primeiras temporadas, incluindo seis nomeações para Emmy de Hugh Laurie que, infelizmente e injustamente, nunca ganhou. Em forma, "House" conseguia igualar o nível dos melhores dramas da televisão. Relembro saudosamente o brilhante (e vencedor de Emmy) episódio "Three Stories" da primeira temporada ou o não menos genial "Broken" da sexta temporada (que devia ter dado o Emmy a Laurie) ou o excitante "The Mistake" da segunda temporada. A série foi-se ressentindo aos poucos do abandono de personagens-chave como Cameron e Cuddy e após seis, sete temporadas, o formato da série não lhe permitiu fugir ao rótulo de repetitiva. As baixas audiências e a vontade de Shore e Laurie terminar a série enquanto o nível de qualidade não descendesse a pique fizeram o resto. De qualquer forma, oito anos é uma eternidade em televisão e "House", não obstante os seus altos e baixos, é uma série que irá ser relembrada, para sempre, como produto do melhor que a televisão norte-americana tem para oferecer. O final não se focou em atar grandes histórias e resolveu sim preocupar-se em arranjar forma de House e Wilson passarem os últimos meses de Wilson juntos. Um final satisfatório? Não. Um final orgânico e completamente compreensível quando pensamos nas duas personagens? Sim. A série acaba por começar como acabou: House com Wilson. E eu, apesar das minhas muitas queixas, fui ouvido na minha principal. "House" não podia terminar com a morte de qualquer um dos dois.

 
Adeus às duas séries. Obrigado por tudo.
Um dia talvez voltarei a vocês, para reviver os bons momentos que me proporcionaram. E aí, se calhar, é que vou ter mesmo saudades e me lembrar do quão mimado eu fui por vocês na primeira década do novo século. 

Trailer de THE GREAT GATSBY, de Baz Luhrmann


Depois dos sucessos "Romeo + Juliet" e "Moulin Rouge!" e o portentoso "Australia" que não ganhou grande amor nem da crítica, nem do público, eis que Baz Luhrmann está de volta para nos trazer... Mais um épico. 


Adaptando o famoso livro - e obra-prima com letras maiúsculas - de F. Scott Fitzgerald, "The Great Gatsby", Luhrmann - a avaliar pelo trailer - volta a prometer um extraordinário espectáculo visual que nos vai espantar a todos. Esperemos que desta vez o conteúdo seja também alvo do mesmo cuidado e primor que Luhrmann reserva para a arte visual que projecta na tela. Com Carey Mulligan, Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Isla Fisher e Joel Edgerton nos principais papéis, pelo menos o talento no elenco está assegurado. Resta saber se o cineasta perdeu o jeito ou se ainda tem nele o espírito do homem que nos trouxe o mais inovador musical dos últimos anos e uma das adaptações mais impressionantes de uma obra de Shakespeare que eu já vi. Temo muito por este filme, o trailer não me acalmou propriamente as minhas inquietações mas... ao menos já sei o que me espera.

Imperdível, de qualquer forma. "The Great Gatsby" chega aos cinemas norte-americanos no dia 25 de Dezembro. Por cá, só em 2013, muito provavelmente.

Trailer do novo Bond, SKYFALL, de Sam Mendes e THE MASTER, de Paul Thomas Anderson

Os exames voltam a sobrecarregar-me o tempo e o blogue acaba por sofrer as consequências do trabalho na faculdade. No entanto, hoje, não podia deixar de vir até aqui deixar-vos duas empolgantes estreias. No mesmo dia, dois dos filmes que mais desejo ver este ano, lançam as suas primeiras imagens.

SKYFALL, o novo filme de James Bond, realizado Sam Mendes (American Beauty, Revolutionary Road), apresenta as primeiras imagens de um obscuro e sortuno Daniel Craig, o melhor James Bond desde os saudosos anos do lendário Sean Connery. Daniel Craig é um actor que encarna o papel do espião britânico de uma forma muito intensa e pessoal (eu rendo-me à sua imagem como Bond), vivendo os filmes de forma tão personificada, que está, aos poucos, a deixar a sua marca nesta que é uma das mais bem sucedidas e rentáveis personagens da história do cinema. Sou um grande fan dos filmes Bond, e não vou querer perder a sua estreia em Portugal, esperada para o próximo dia 25 de Outubro.





A outra estreia é igualmente muito especial para mim. THE MASTER, de Paul Thomas Anderson (o realizador do melhor filme da última década, There Will Be Blood), no muito aguardado regresso de Joaquin Phoenix ao cinema e aos grandes filmes, com um elenco muito interessante (Amy Adams, Philip Seymour Hoffman, Laura Dern) e num filme que tem todos os condimentos para ser mais uma obra-prima. É um argumento que teve tempo e espaço para amadurecer e ser cuidadosamente aperfeiçoado, foi feita uma selecção cuidada de um elenco que, naturalmente, acabará por encaixar com enorme harmonia e um tremendo carisma, e vem da alma de um génio: Paul Thomas Anderson, um realizador diferente e muito especial. Criadores como ele, dão vida, paixão, sentimento e classe à sétima arte.


O CINEMA NUMA CENA - O MEU FILME FAVORITO

É com prazer que recupero uma das mais antigas crónicas deste blogue, esquecida pelo tempo, pelo trabalho e (admito) pela preguiça. Tentarei recuperá-la, aos poucos, elevando-a ao estatuto que o interesse e o valor dos momentos que incorpora merecem.


Quantos mais anos passam, desde a primeira vez que vi o filme, mais deliciado me sinto. Um prazer que repito sempre que posso. Tenho um devoção enorme pelo ambiente duro, desumano, cruel e desafiante de um mundo western que ficou para sempre imortalizado por Sergio Leone, o maior mestre deste género de cinema. Sei que cheguei ao ponto mais alto do meu cinema. Já aqui falei sobre ele, é verdade, mas apetece repetir-me. Apetece-me porque estamos perante uma obra-prima, sem igual, sem comparação, de uma dimensão universal, que se eternizou e que hoje continua a ser dos mais dramáticos, intensos e inebriantes filmes de que há memória.




Quem viu The Good, The Bad and The Ugly e não se arrepiou com este grandioso final? Quem não viveu intensamente aquele segundo em que os três protagonistas desta epopeia finalmente se reúnem para definir um futuro que tão desesperadamente procuraram? Esta é uma das mais marcantes cenas da história da sétima arte, algo que não tem comparação e que é imutável. Filmado por um génio, um afortunado da realização, com planos estrategicamente criados para nos transportar para a dimensão dramática da cena, que nos prende, agarra e aprisiona até ao último segundo, o fatal, o decisivo, em que o bem combate o mal e a acção atinge o seu clímax. É um momento inesquecível de cinema. É delicioso. Uma cena que é suportada por um drama magistral, em interpretações, realização, fotografia, banda-sonora. É perfeito. Tudo neste filme é perfeito. Tudo neste filme é cinema. Tudo neste filme é arte, do melhor, do mais brilhante que o alguma vez Homem fez. Se nunca o viu, corra. Veja-o. Você merece.


Antevisão: 65.º FESTIVAL DE CANNES




E chega o momento alto do meu ano cinematográfico. O mais prestigiado festival de cinema do Planeta, onde aparecem estreias exclusivas, onde todos desejam estar e cujo reconhecimento popular apenas perde, injustamente, para os prémios da Academia Americana, apresenta este ano um promissor, luxuoso e consistente cartaz.


Começo pelo júri. O presidente será o peculiar Nanni Moretti, prestigiado realizador italiano, com nome feito no festival, vencedor em 2001 de uma Palma de Ouro (com o filme La stanza del figlio) e que contará, no seu grupo de jurados, com nomes como o do respeitável realizador Alexander Payne (Sideways, The Descendents, About Schmidt), dos actores Ewan McGregor, Diane Kruger, Hiam Abbass e Emmanuelle Devos e, ainda, do estilista Jean-Paul Gaultier.


Para não me dispersar, e porque não quero dar um passo maior do que a minha perna, como amador cinéfilo que sou, vou fazer uma breve análise sobre os principais nomes em concurso para o principal prémio do festival: A Palma de Ouro. É um ano rico. 2012 será um óptimo ano cinematográfico. Com um surpreendente número de candidatos americanos e com quatro antigos vencedores da Palma de Ouro (Haneke, Kiarostami, Loache e Mungiu), poderemos contar com uma luta saudável e renhida. O Cinema Português estará, este ano, timidamente representado pela actriz Rita Blanco, que participa em Amour, de Michael Haneke e pelo produtor Paulo Branco, um dos responsáveis pelos filme Cosmopolis, de David Cronenberg


Dos principais nomes em competição, vou salientar alguns. Alguns que, acredito, não nos irão defraudar. Cannes tem, de diferente, o facto de se enganar poucas vezes. De ser, menos vezes, injusto para com os seus premiados. Quem vence em Cannes, habitualmente, vence bem, vence com justiça. Não arrisco um vencedor. Porque não tenho competência para tal, e porque não me apetece atirar um nome ao ar. Mas há filmes muito bons a estrear nesta edição. Começo por destacar os antigos vencedores. Michael Haneke (vencedor com  a obra-prima The White Ribbon) apresentará AmourAbbas Kiarostami o filme Like Someone in LoveKen Loach leva a concurso The Angels' ShareCristian Mungiu (vencedor com o brilhante 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias) apresentará Dupa Dealuri.


Entre os realizadores americanos, há grandes nomes a concurso. Cosmopolis, de David Cronenberg, naquele que poderá ser o trampolim de lançamento de Robert Pattinson para a categoria dos actores respeitados, desejados e reconhecidos, é uma das mais aguardadas estreias. O regresso de Wes Anderson  (The Royal Tenenbaums, Rushmore) traz-nos Moonrise Kingdom (o filme de abertura), com um elenco de luxo (Norton, Willis, Murray, Swinton) e cujas expectativas são estrondosas é, sem dúvidas, um dos favoritos a vencer a Palma dourada. O brasileiro Walter Salles (Central do Brasil, Diarios de Motocicleta, Linha de Passe) apresenta uma das sensações de 2012, um relaxado, juvenil e irreverente On The Road, que será garantidamente um dos sucessos de bilheteira deste ano. John Hillcoat leva a concurso outro filme carregado de grandes actores. Tom Hardy, Gary Oldman, Guy PearceJessica Chastain dão corpo a Lawless (um dos filmes que mais desejo ver, de entre este pote de luxuosas estreias).


Depois de Gomorra, que lhe valeu o Grande Prémio do Júri de Cannes, Matteo Garrone regressa a Cannes com Reality, também ele a concurso na categoria da Palma de Ouro. Com um os melhores filmes de 2011, Take Shelter, o realizador Jeff Nichols apresentará novamente um fortíssimo nome, Mud, que, pelas primeiras impressões, me deixa antever um filme igualmente poderoso e marcante. Killing Them Softly, sobre o qual já deixei aqui as primeiras imagens, também estará a concurso. Jacques Audiard, com De rouille et d'os, leva a concurso uma dupla de actores fantástica (Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts) e arrisca-se seriamente a vencer o prémio, com um filme que já espalha classe num assombroso trailer. Thomas Vinterberg (The Hunt), Yousry Nasrallah (Baad el Mawkeaa), Sang-soo Hong (Da-reun na-ra-e-suh), Sang-soo Im (Do-nui mat), Leos Carax (Holy Motors), Ulrich Seidl (Paradies: Liebe), Carlos Reygadas (Post Tenebras Lux), Sergei Loznitsa (V tumane), Lee Daniels (The Paperboy) e o veteraníssimo Alain Resnais, com Vous n'avez encore rien vu, encerram a lista de filmes em competição na Edição 65 do Festival de Cannes.


Entre 16 e 27 de Maio de 2012, a capital do Cinema estará em Cannes. E nós, amantes da sétima arte, estaremos atentos aos resultados, reacções e, principalmente, aos vencedores, da mais prestigiada das festas do Cinema.

Ninho de Cucos (II)

Aquilo que interessa num filme é a história. A opinião que temos de um filme baseia-se essencialmente na forma como as nossas experiências pessoais anteriores se associam com aquilo que nos é contado, e na maneira como essa relação é capaz de nos gerar emoções. Daí surge a importância do argumento no cinema, pois é a partir dele que este processo de sensibilização e transformação se inicia no espectador e como tal torna-se lógico compreender que o  conteúdo da história é a peça mais elementar de toda a árvore cinematográfica, enquanto que a forma constitui simplesmente o seu adorno.

O cineasta contudo é um ser humano, e como tal encontra-se condenado à fatídica maldição da nossa espécie que nos impede de reportar uma história exactamente da mesma forma que ela nos foi transmitida. Mais do que isso o cineasta é um ser artístico, e portanto vê nessa maldição uma necessidade imperiosa de acrescentar um ponto a cada conto, desvirtuando e transformando a ideia inicial bruta numa peça de arte genuína. Na verdade a forma é o resultado do trabalho do artista representando muito mais que o papel de simples adorno. A forma é, ao fim e ao cabo, aquilo que torna uma boa história num bom filme! 


Na verdade, um filme razoável, mas com bons planos de filmagem e boas interpretações, pode superiorizar-se a uma história épica cantada sem a devida pompa. O prazer de ver um filme bem filmado assemelha-se ao prazer de descobrir interesses em comum com um amigo, ou ao prazer de encontrar uma rapariga cujas formas respeitam na perfeição a sua beleza. Em suma, o estilo pode não dar corpo à história mas dá-lhe acima de tudo interesse. 

Aquilo que quero dizer é que há uma grande diferença entre um bom argumento e um bom filme. Comparemos por exemplo, Goodfellas (1990 - Martin Scorsese), um épico do cinema, com Zodiac (2007 - David Fincher) uma interessante trama protagonizado por Jake Gyllenhall. Ambos os filmes baseiam-se em histórias verídicas relacionadas com o mundo do crime (o primeiro relacionado com a Mafia, o segundo sobre um Serial Killer), já com uma extensa tradição de sucesso no universo da sétima arte. A verdadeira diferença entre um e outro está exactamente na forma como o drama se desenrola. Enquanto que o primeiro explora vários estilos de narração, apresentando os vários momentos da história numa toada sempre encadeada e cativante, o último agarra-se demais à história original levando o desenrolar da mesma para um tom demasiado morno e inconsequente (ainda que entrecortado por cenas de grande suspense), sem preocupação em dramatizar o rumo dos acontecimentos, o que não faz justiça ao argumento original e torna o filme numa desilusão!


E afinal a história não é o mais importante num filme.

Presentemente, com os avanços ao nível dos Audiovisuais, o público mostra-se cada vez mais exigente, e a holywoodização da sétima arte faz com que haja cada vez mais preocupação em satisfazer as necessidades estéticas do auditório, e cada vez menos com o enriquecimento do enredo. O estímulo visual é sobrevalorizado. E assim se justifica o crescente interesse nos HDs, 3Ds e outros Ds que por aí estejam para vir. Não que a estimulação sensorial deva ser menosprezada no cinema, mas deve ser deixada para quem a domina e percebe que esta deve ser feita de forma ponderada e desprovida da intenção de se sobrepor à qualidade da narrativa, mas antes com o intuito de valorizar e enriquecer impacto da mesma.


Avatar, por exemplo, um esforço estético a todos os níveis louvável, uma proeza magnífica ao nível da animação, não deixa de ser uma obra incompleta e obsoleta! O empenho imprimido no alcance de semelhante resultado visual não é de maneira alguma reciprocado na preocupação com a catarse da narrativa, que não passa de uma adaptação da história da Pocahontas com homens azuis e naves espaciais. Para mim ver este filme é como comer cereais sem leite ou ir ao cinema e não comprar pipocas. A desproporção entre a qualidade visual da qualidade narrativa é desmesurada, o que para mim torna o trabalho de James Cameron num desperdício de talento e recursos.

Por outro lado, temos Quentin Tarantino, um mestre nesta área, capaz de conjugar sequências de combate magnificamente coreografadas com sumarentos diálogos em enredos nunca aborrecidos, sem com isto comprometer a excelência cosmética do seu trabalho. Nem mesmo a constante obsessão com violência extrema e vistosos jarros de sangue estraga as brilhantes interpretações que sempre consegue arrancar de actores como Uma Thurman ou Harvey Keitel. Vejamos Kill Bill, um filme onde desde o início se verifica essa preocupação tarantinesca em contar uma história acima de tudo com um estilo inaudito, conseguindo sempre evitar mergulhá-la no ridículo, ao manter o espectador ligado a uma torrente de episódios visceralmente sensibilizantes. Tudo isto acompanhado sempre de uma qualidade de efeitos sonoros e visuais tão superiormente masterizados que hipnotizam o espectador a acreditar que se encontra perante um drama sem par.



E aí reside a essência do argumento que tento escarafunchar neste cortejo de parágrafos. Embora o argumento do filme seja vital para o sucesso do mesmo, a responsabilidade da qualidade (ou inexistência dela) recai sempre naquele a quem cabe a tarefa de fazer a adaptação da história original para a película final, pois o modo como o faz condiciona a forma como o auditório tem acesso ao conteúdo da narrativa, e isto, no cinema, é tudo! E assim se justifica como Tarantino consegue criar um filme de culto, mesmo com uma história vulgar ao ponto de se poder adivinhar o seu desfecho a meio da mesma. 

Agora se querem gastar dinheiro com megalomanias como Avatares, ou esbanjar boas histórias como Zodiacs, podiam era fazer um favor ao adolescente de 13 anos dentro de mim e fazer um American Pie todos os anos.

Gustavo Santos

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