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DIAL P FOR POPCORN

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BEGINNERS (2010/11)



What happens now? I don't know.


Como é que se criou essa ideia de que há almas gémeas, este mito de que estamos destinados a encontrar alguém que fique connosco para sempre e nos complete a todos os níveis? Não sei. Contudo, não é isto, afinal, que todos procuramos na vida? Passamos os dias mergulhados num oceano de mil e uma sensações, numa amálgama de emoções, de momentos e cenas que todas juntas compõem a nossa vida, a nossa personalidade, a nossa pessoa, em busca, esperançados, da pessoa que nos transforme a nossa existência. O que ninguém nos explicou é que o ser humano não foi feito para estar junto com alguém. Crescemos com a ideia que para sobreviver temos de saber viver na solidão, ser opinativos, decididos, independentes e fortes, não importa as circunstâncias. E de repente lá vem alguém que nos põe a colocar tudo em perspectiva, que nos confunde, encanta e emociona, que nos muda para sempre e nos faz sentir como se a vida sem ela não faz sentido. Em seguida, vem a parte complicada: aquela de saber incluir quem amamos nas nossas decisões, na nossa vida. E é aí que a maior parte de nós falha. Se bem que Mike Mills tem a vantagem de estar a aproveitar uma história verídica da sua vida para nos proporcionar esta inventiva, prodigiosa e preciosa comédia romântica chamada "BEGINNERS", é impossível não notar a sua voz distintiva ao longo de toda a película, do fascinante argumento à brilhante direcção de actores, que revela que de facto estamos perante um realizador a seguir atentamente no futuro.


"BEGINNERS" alterna brilhantemente entre a comédia subtil e o toque virtuoso, despretensioso do melodrama familiar, mostrando-nos como o passado das personagens se interliga e influencia o presente e como o presente nos leva muitas vezes a questionar actos do passado, como todos nós seres humanos somos imperfeitos, confusos, ignorantes e impotentes face ao amor, à felicidade, à tristeza, à perda e à solidão - não sabemos bem o que havemos de fazer e, mais vezes do que queremos admitir, nesta sociedade verdadeiramente sociopática e de emoções amorfas e complicadas em que vivemos, tomamos as decisões erradas e acabamos por arruinar tudo.


"BEGINNERS" abre com a morte de Hal (Christopher Plummer) que, ao perder a sua esposa de mais de quatro décadas, decide confessar ao seu filho Oliver (Ewan McGregor) que toda a sua vida foi homossexual e que portanto pretende agora aproveitar esta nova oportunidade que a vida lhe dá para fazer tudo diferente. Oliver narra-nos o filme através de uma série de imagens e lirismos, seja poemas, frases icónicas da história ou pequenas narrativas pessoais acerca de si, da sua família e da sua vida. Oliver, que é um artista que trabalha como desenhador, ilustra as várias fases do filme enquanto este alterna entre o passado, os anos 50, nos quais Oliver passava a maior parte do tempo com a mãe, Georgia (Mary Page Keller), que lhe acabou por passar alguma da indiferença, passividade e natureza contemplativa com que reagia aos acontecimentos da vida, presa durante anos e anos num casamento infeliz; o período de tempo entre a morte da mãe e da morte do pai, em que observamos um deleitoso, enternecedor e até divertido retrato de um homem que nunca desistiu, mesmo aos 75 anos, de ser feliz e que, na sua intrépida curiosidade e mesmo lutando contra um cancro que lhe foi minando a vida, foi aprendendo o que é ser gay nos dias de hoje e encontra o amor nos braços de um homem imensamente mais novo que ele, Andy (Goran Visnjic); e meses depois, em que um Oliver imerso numa depressão e apatia profundas descobre novo rumo na sua vida ao se encontrar com Anna (Mélanie Laurent), uma misteriosa e encantadora rapariga que abana com os mecanismos de defesa que Oliver vinha aperfeiçoando nos últimos tempos e o obriga a, pela primeira vez na vida, correr atrás do que quer, tal e qual como o pai fez antes e que nos mostra o quão difícil é para ele, que foi ensinado toda a vida a guardar segredos, a partilhá-los com alguém.


O principal atributo de "BEGINNERS" é a franca sinceridade, honestidade e calor das personagens. Aqui não há heróis nem vilões, vencidos nem vencedores. Só um conjunto de pessoas à deriva na vida, em busca de algo que lhe dê sentido. Christopher Plummer enche o seu Hal de graça, alma e uma indelével e inexplicável alegria de viver, mesmo nos piores momentos, exibindo orgulhosamente a lição moral de que o nosso exterior nem sempre reflecte bem o que o nosso interior é, tornando impossível não nos perdermos na empatia do seu olhar, na generosidade do seu espírito, na profundidade da sua caracterização. Uma nomeação - e até uma vitória - nos Óscares seria o prémio merecido para uma interpretação tão rica, tão melíflua, tão inesquecível. Ewan McGregor é exímio na forma como diz muito com tão pouco, com uma expressão ou um olhar tão cruel e devastador como apropriado, partilhando connosco o seu sofrimento, as suas dúvidas e incertezas acerca da sua vida, o seu ressentimento mas também o seu orgulho e amor para com o seu pai por recomeçar a vida mesmo enquanto ele, paradoxalmente, perece. A melhor interpretação da sua carreira, para mim. Há que realçar também o enorme contributo das duas mulheres na vida de Oliver: Mary Page Keller tem a tarefa ingrata do filme, mas uma que cumpre com elevada distinção, ao ser capaz de dar vida à sua Georgia de forma tão realista e nua, coerentemente entrelaçando, nas nossas cabeças, a explicação de porque razão Oliver é como é e Mélanie Laurent por nunca ter entrado no caminho fácil com a sua Anna e por ter compreendido que o lado imprevisível e difícil de entender da sua personagem, aquele que consegue ser, em simultâneo, terno e sensível e indiferente e frio, é o que a torna tão única e distinta. Finalmente, falar do verdadeiro astro do filme, o cão Arthur, um extraordinariamente fiel Jack Russell com uma habilidade muito particular: a de ser incisivo na forma crítica como analisa a vida de Oliver.




Um filme que mais parece um espelho da nossa vida, que captura na perfeição o amor e a melancolia em todas as suas formas, que se atreve a abordar assuntos difíceis e o faz de forma poética, sonhadora e cativante, ao som puro e gentil da linda banda sonora de Palmer, Reitzell e Neill, "BEGINNERS" é um filme que vale a pena ver e rever - mais não seja pelo sentimento inconfundível de sair da sala de cinema após ter visto um filme completo, quase perfeito, que me mexe com as emoções, que me deixa quase em lágrimas e que me faz feliz por estar vivo e neste mundo imperfeito e imprevisível onde tudo é possível. Como apaixonar-me. Ele nunca desistiu, diz Anna na cena final do filme acerca de Hal. É isso mesmo que nunca devemos deixar de fazer. Não desistir de ser feliz.



Nota:
A/A-

Informação Adicional:
Realização: Mike Mills
Argumento: Mike Mills
Elenco: Ewan McGregor, Mélanie Laurent, Christopher Plummer, Mary Page Keller, Goran Visnijc
Banda Sonora: Roger Neill, Brian Reitzell e Dave Palmer
Fotografia:
Ano: 2010

Trailer:


LES CHANSONS D'AMOUR (2007)



Que Christophe Honoré é uma das grandes promessas do cinema francês, penso que é um facto consumado. Agora, que Louis Garrel é um dos melhores actores europeus dos últimos tempos e, sem dúvida, um dos melhores mundiais entre a sua geração, é que infelizmente não me parece ainda perfeitamente difundido por entre o público geral. E isso entristece-me. Louis Garrel é um dos actores que mais me entusiasma enquanto contracena. É, sem dúvidas, um indivíduo com uma capacidade de representar fora do normal, conseguindo personificar a personagem-modelo daquilo que é, para mim, o cinema francês: O herói solitário, o homem romântico, apaixonado, que sofre por amor, que se encontra desencaixado, desenquadrado da realidade. É essa noção de beleza harmoniosa (estética, instrumental, visual - quase poética) que eu admiro no cinema francês. A paixão pela arte.


Les Chansons d'Amour não é o primeiro filme que vejo de Honoré. Há uns anos tive a possibilidade de ver o Dans Paris (sobre o qual um dia vos falarei) e, já aí, tive uma experiência singular e marcante. Dans Paris não é um filme brilhante, não é um filme marcante, não é um filme que vá ocupar lugar entre os melhores da sua década. Mas é, isso sim, uma representação fantástica de um quotidiano, de um habitat mundano onde qualquer um se pode encaixar e viver. E, tal como em Les Chansons d'Amour, Louis Garrel brilha.


Um filme onde tudo encaixa na perfeição. Onde tudo se desenrola com uma naturalidade, um propósito intrínseco, onde as músicas de Alex Beaupain (impossível escolher a melhor) preenchem os hiatos entre os momentos da representação clássica. Beaupain faz o elenco cantar sobre amor, sobre solidão, sobre saudade, sobre a dor da perda, sobre o luto. Não vou desvendar muito mais sobre um filme que enche a alma de quem o vê. Em Les Chansons d'Amour, Honoré celebra ao amor.

Nota Final:
B+



Trailer:





Informação Adicional:

Realização:
Christophe Honoré
Argumento: Christophe Honoré
Ano: 2007
Duração: 100 minutos

BRITISH TV - MISFITS (SEASON 3)




Não tenho por hábito anunciar o regresso de séries aqui no blogue. Faço-o em casos excepcionais, quando o regresso é tão aguardado que várias semanas antes começo à procura de trailers e informações sobre a nova temporada. Misfits é um caso excepcional. Uma lufada de ar fresco numa britcom que se distingue pela sua capacidade admirável de, ano após ano, geração após geração, se renovar e trazer ideias novas para o mercado.


No entanto, ao fim de duas temporadas de grande qualidade, viciantes e electrizantes, a série criada por Howard Overman perdeu a sua principal figura: Robert Sheehan, que representava o papel de Nathan Young, era a grande alma, a figura principal e o grande motor de toda a série. Mesmo que a história não girasse à sua volta, o seu carisma, a sua qualidade enquanto actor transformavam-no no centro das atenções. Sheehan é uma natural born star e será, sem dúvidas, um dos grandes nomes da representação em Inglaterra no médio prazo. É uma perda irreparável (e porque não arriscar insuperável?) para esta série que tantas coisas novas e arrojadas trouxe para a televisão.




Em jeito de despedida, o staff de Misfits criou uma pequena despedida para a personagem de Nathan Young, numa short history intitulada de "Vegas Baby" lançada a meio de Setembro e que serve também para a apresentação de Rudy, a nova personagem que ocupou a vaga deixada por Nathan. Aqui vos deixo alguns vídeos e algumas imagens sobre aquilo que poderemos esperar desta nova temporada. Regresso está marcado para dia 30 de Outubro.

Belle du Jour, Belle Toujours!


São raras as actrizes que se conseguem transcender num grande papel, quanto mais em vários. Ainda mais raras são as actrizes estrangeiras que têm essa possibilidade. E, se tivermos em conta que até aos dias de Marion Cotillard e Juliette Binoche, foi esta a única actriz francesa a penetrar nas listas sagradas de casting de Hollywood e que isto tudo se deu logo após a Idade de Ouro do cinema norte-americano, nos anos 50 e 60, ainda mais impressionante se torna.
Que esta actriz tenha conseguido o feito de se reinventar mil vezes, de se perder em milhares de papéis, pequenos ou grandes, para maiores e menores mestres, de Honoré a Buñuel, de Polanski a Demy, de Téchiné a von Trier, de consistentemente trabalhar na plenitude dos seus talentos e capacidades e mantendo intocável a beleza marcante que a imortalizou é uma prova do gigantesco brilho, carisma e talento da aniversariante Catherine Deneuve, que comemora - notem bem - 68 anos de idade!


Tenho que admitir desde logo que não sou um completista da filmografia de Deneuve, embora gostasse muito de o ser. Do que vi, não há um filme em que o misticismo, a aura de mistério, a beleza fulgurante, o sorriso que emana simpatia e calor, não estejam presentes. As minhas interpretações favoritas dela são em "Repulsion" de Roman Polanski, em "Les Parapluies de Cherbourg" de Jacques Demy, em "Dancer in the Dark" de Lars von Trier, "Ma Saison Préférée" de André Téchiné, "Un Conte de Nöel" de Arnaud Desplechin e finalmente - e obviamente - na obra-prima de Luis Buñuel, "Belle de Jour".


 A inesquecível interpretação dela em "Belle de Jour", em particular, funciona como um ensaio de condensação das qualidades de representação de Deneuve. Hipnótica, sensual, electrizante, misteriosa, enigmática, uma verdadeira mulher de sonho, a lembrar Jane Fonda em "Klute", Nicole Kidman em "Eyes Wide Shut" ou Anne Bancroft em "The Graduate", Catherine Deneuve entrega-nos uma performance inspirada, algo que dela ainda não tínhamos visto. Brilhante.

Portanto... Parabéns Catherine Deneuve! Que celebre muitos! E que continue sempre a surpreender-me, como fez o ano passado em "Potiche" de François Ozon. Que interpretação.


E vocês, qual consideram ser a melhor interpretação de sempre da enorme Catherine Deneuve?

INCENDIES (2010)

Aproveitando a Estreia Nacional de um dos Melhores Filmes de 2010, decidi recuperar a crónica que escrevi, há uns meses atrás, sobre Incendies, o nosso Filme da Semana.




"Dead is never the end of history"


Um dos meus filmes favoritos de 2010 merece, aqui, todos os meus elogios. É uma história criada com criatividade e ambição. Misturar temas tão controversos com aqueles que sustentam o argumento de Incendies, não é fácil e demonstra uma grande coragem por parte de toda a equipa que imaginou, criou e produziu este filme.



Tudo começa com a morte de Nawal Marwan (Lubna Azabal). Na leitura do seu testamento, os seus filhos gémeos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (Maxim Gaudette), são confrontados com uma dupla surpresa: Jeanne deverá entregar uma carta ao seu pai, que ambos julgavam falecido, e Simon deverá entregar uma carta ao seu irmão, do qual ambos nunca tinham ouvido falar.


Encarando aquele como apenas mais uma ideia lunática da sua mãe, Simon recusa-se a cumprir o último desejo da sua mãe. Apenas Jeanne aceita o desafio. Com base numa fotografia muito antiga da sua mãe e, graças ao auxílio do seu professor de matemática, parte em direcção ao médio oriente, local onde a sua mãe nasceu e cresceu, e onde uma dura e inesperada verdade a espera.
Ao mesmo tempo, vai-nos sendo contada a história da vida de Nawal Marwan. Uma mulher de ideais fortes, de uma coragem inabalável, que luta contra as su as adversidades, contra a injustiça enraizada na sua sociedade e que está decidida a encontrar o seu filho, que se vira forçado a abandonar enquanto jovem, devido a uma paixão proibida que desgraçara a sua vida e a sua família.


Numa edição perfeita, em que três tempos cinematográficos se misturam e envolvem com mestria e intenção, é nos contada esta apaixonante história, que nos prende às suas personagens, aos seus sentimentos e às suas vivências. Com uma banda sonora de apenas três músicas, nunca Radiohead se encaixou tão bem num filme.


Nota Final:
A-



Trailer:





Informação Adicional:
Realização: Denis Villeneuve
Argumento: Denis Villeneuve
Ano:
2010
Duração:
130 minutos

JOSÉ E PILAR (2010), por João Samuel Neves



"A Pilar, que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar."


José e Pilar. Porque José Saramago não seria Saramago sem Pilar. Porque Pilar del Río não seria Pilar sem Saramago. Um documentário fantástico, editado, filmado e produzido com imensa paixão, que explora com perspicácia a infinita imaginação de um dos maiores e mais sagazes pensadores dos tempos modernos. Um homem diferente de todos os outros, com uma visão singular do mundo e da religião, sem medo de tocar nos tabus das sociedade e de abanar os alicerces que sustentam a inabalável fé que muitos têm por Deus e pelo Cristianismo.


José e Pilar é uma honrosa e dignificante despedida de Saramago. Ao longo de todo o documentário (filmado entre 2006 e 2008) vemos um Saramago cada vez mais debilitado fisicamente. Paradoxalmente a esta deterioração exterior, facilmente percebemos que o génio continua lá. Que o humor mordaz e lacerante, que as expressões politicamente incorrectas maturaram com a idade e tornaram-se cada vez mais oportunas. Vemos um Saramago que, sentado no seu computador, produz e cria a uma velocidade improvável para os seus debilitados 85 anos. Vemos um Saramago que percorre o mundo, é adorado, admirado e procurado em qualquer ponto do Planeta. Um Saramago que não se cansa. Um Saramago que não se rende ao passar do tempo. Um Saramago que um Portugal (e Cavaco Silva) obtuso e retrógrado nunca soube acolher e compreender.


Mas José e Pilar tem mais para ver. Neste filme/documentário, o leitor poderá perceber a profunda intimidade de um casal, à partida, improvável. E, também neste documentário, o leitor perceberá que, ao lado de um grande homem, se encontra sempre uma grande mulher. E Pilar é uma grande mulher. Uma mulher que certamente deixará orgulhosa qualquer leitora que tenha a possibilidade de ver José e Pilar. É ela (como certa vez o próprio Saramago a rotulou) o seu Pilar. Em momentos de dificuldade, Pilar nunca deixa Saramago, e o amor que existe no casal respira-se em toda a película. É esta relação tocante que o realizador Miguel Gonçalves Mendes explorou de uma forma sublime. É o melhor de um filme onde o humor de Saramago nos diverte e entretém, onde a fotografia e a edição carregam o filme de uma tensão e um ambiente que envolvem o espectador e o colocam em Lanzarote, no mesmo espaço (físico e temporal) de Saramago.


Um digníssimo representante de Portugal na categoria de Melhor Filme Estrangeiro nos Oscars deste ano. Um dos melhores documentários que alguma vez vi. Um grande filme Português.


Nota Final:
A-


Trailer:




Informação Adicional:
Realização: Miguel Gonçalves Mendes
Argumento: Miguel Gonçalves Mendes
Ano: 2010
Duração: 125 minutos

Trailer de THE DESCENDANTS, de George Clooney




Pela mão de Alexander Payne, realizador de Sideways (2004) e About Schmidt (2002) - dois filmes que recomendo vivamente ao leitor, chega-nos um dos mais badalados e esperados filmes norte-americanos do ano. Confesso que a mim, tanto o trailer como a descrição do imdb.com

A land baron tries to re-connect with his two daughters after his wife suffers a boating accident.

não me convenceram. O papel de George Clooney, considerado um dos mais fortes para a estatueta dourada de Melhor Actor Principal, é o género de interpretações que lhe fazem falta na carreira: o do homem solitário que carrega os males de uma vida plena de injustiças e momentos amargos. Não é o registo em que mais gosto de o ver (continuo a achar que nasceu para dizer "Nespresso, What Else?"), mas o passado de Alexander Payne obriga-me a dar-lhe uma oportunidade.

ONE DAY (2011)



"Whatever happens tomorrow, we'll have today. I'll always remember it."

Não é difícil explicar ao espectador comum sobre que género se debruça o novo filme de Lone Scherfig, que muito mostrou com o seu primeiro filme, o espectacular "An Education". Um híbrido entre as comédias românticas modernas e os clássicos dos anos 50 e 60, com a adição de sotaques britânicos, "ONE DAY", baseado no livro com o mesmo nome de David Nicholls e por ele adaptado para cinema, não evita que as comparações com o filme anterior de Scherfig e em particular as expectativas relativamente altas que o brilhantismo da obra literária adivinhava nos deixem ficar desapontados.


"ONE DAY" abre a 15 de Julho de 1988 em Edimburgo e mostra-nos como se conhecem, pela primeira vez, a idealista e sonhadora Emma Morley (Anne Hathaway) e o divertido e prático Dexter Morgan (Jim Sturgess). Visitamos sempre esse dia, que é conhecido em Inglaterra como o St. Swithin's Day, no decurso de vinte anos para ver como as vidas de Emma e Dex se intersectam e decorrem, enquanto ambos se descobrem a eles mesmos e um ao outro. O primeiro grande problema que tenho com o filme - e com o livro - é só os podermos encontrar neste dia, todos os anos. Todos os grandes eventos da sua vida - infinitamente mais interessantes do que o que nos é oferecido pelo filme em si - passam fora do ecrã e com isso perdemos muito do pano de fundo da vida destes dois personagens. Além disso, não parece minimamente estranho que todos os anos o 15 de Julho comece ou acabe com um evento de significativa importância? E pessoas entram e saem da sua vida de forma algo aleatória que, apesar de conseguirmos entender o porquê do seu surgimento e desaparecimento, nos deixam um amargo de boca de não sabermos a história toda e muitas perguntas por responder a que o filme parece tentar fugir. Entre estas pequenas personagens secundárias, ressalvo Allison (Patricia Clarkson), mãe de Dexter, luminosa e enternecedora nos breves minutos que surge em cena.
Anne Hathaway acaba por arruinar o que era uma personagem perfeitamente acessível no livro. A Emma Morley de Hathaway passa de esperta a irritante, de irónica a aborrecida e de teimosa a amuada. É difícil aceitar que Dexter consiga sequer suportá-la, quanto mais ser amigo dela no início. Nem vamos falar do sotaque que tem mais variações que as cores do arco-íris. Já Jim Sturgess faz o que pode com um personagem que já era horroroso no livro. Devo dizer que fiquei bastante impressionado com a profundidade emocional que ele conseguiu retirar de um personagem oco e vazio de conteúdo tal como estava escrito, que é mau e desrespeitoso - um verdadeiro cabrão na essência da palavra - para todos com que contacta.



Penso que parte do problema de "ONE DAY" é querer levar-se muito a sério, tendo-se como um filme definidor de toda uma geração, como um filme que vem revolucionar a estrutura pálida das comédias românticas de hoje. Nada disso. O engenhoso sistema de só mostrar um dia em cada ano é divertido no início mas facilmente cansa e deixa-nos ver as suas falhas. O romance, além de óbvio e inevitável - problema patológico muito comum aos romances de hoje - parece ser adiado para lá do que é razoável. E uma realizadora tão competente como Scherfig e um escritor com talento como Nicholls não podem ser tão amadores ao ponto de como resultado final terem um filme repartido em duas partes imensamente desequilibradas. A primeira parte é praticamente insuportável. A segunda parte é agridoce e melíflua demais. Claro que a transformação de Dex tem tudo a ver com esta disparidade mas ainda assim a primeira parte do filme devia conseguir muito mais.


Talvez também o problema resida no facto de eu não ser o público-alvo deste tipo de filmes. Não tenho dúvidas que encantou e satisfez o muito público feminino que se deslocou aos cinemas. Agora eu preciso de mais. Mais substância e menos pretensiosismo. Ainda assim, admito que para o que habitualmente a comédia romântica nos oferece, "One Day" sempre tem estilo e frescura, uma banda sonora lindíssima de Rachel Portman que nos transporta para outro mundo e uma história de amor que sempre dá para nos fazer sonhar. Se não tivermos amanhã, ao menos tivemos o dia de hoje. E que diferença, às vezes, um dia faz. Que o digam Emma e Dex.

Nota Final:
B-/C+

Informação Adicional:
Elenco: Anne Hathaway, Jim Sturgess, Patricia Clarkson, Rafe Spall, Romola Garai, Ken Stott
Realização: Lone Scherfig
Argumento: David Nicholls
Fotografia: Benôit Delhomme
Banda Sonora: Rachel Portman
Ano: 2011

Trailer:




CONTAGION (2011)






"It's figuring us out faster than we're figuring it out."

Começo por dizer que Steven Soderbergh é dos realizadores americanos que mais admiro. Só ele para construir uma carreira que alterna entre filmes de largo orçamento, produzidos pelos grandes estúdios de Hollywood, e pelos pequenos filmes independentes que, numa fase inicial, lhe ditaram o futuro na profissão. Durante uns tempos, Soderbergh tentou conciliar ambos, realizando dois filmes no espaço de um ano e lançando-os quase ao mesmo tempo. De repente, cansou-se e parou. E o mundo do cinema despedia-se não só de um dos seus autores mais profícuos, mas também um dos mais irreverentes e talentosos. E se bem que ele nunca há de voltar aos níveis de genialidade atingidos com o seu auspicioso início "Sex, Lies and Videotape", vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1998, é sempre bom tê-lo de volta ao que melhor faz: filmes. E 2011 oferece-nos dois filmes dele, ainda por cima.

O primeiro desses a ser lançado é este "CONTAGION", que reúne um elenco impressionante de brilhantes e talentosos actores para contar a história de como uma simples infecção viral pode provocar, de forma estrondosa, uma revolução no mundo inteiro, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, o real perigo do fim do mundo pode não estar em terramotos ou dilúvios ou outros desastres naturais, mas sim numa pandemia microbiológica multirresistente, capaz de ceifar a vida a milhões de pessoas enquanto semeia o pânico e a guerra entre pessoas, entre nações, entre o mundo.



A narrativa de "Contagion" é algo que já foi contado várias vezes, por diversas perspectivas, mas sempre da mesma forma. O que faz o filme de Soderbergh tão diferente dos outros (para melhor) é o facto de abordar a situação do ponto de vista de cada personagem, da forma menos sensacionalista e mais realista possível. O filme parece funcionar até como uma espécie de documentário, tal é a sua vontade de ser levado a sério e a sua precisão a nível científico (algo que é de louvar). Comporta-se como um thriller adulto que tenta fazer passar uma amálgama de mensagens, algumas políticas, outras sociais, acerca da forma como a sociedade actual reage a este tipo de acontecimento. Procura ser minimamente assustador e impressionante. Contudo... a não ser que seja um verdadeiro misofóbico (que tem horror a germes) - que eu sou, já agora - penso que não deve recear ver este filme. Se os germes o assustam... Bem, prepare-se. O filme não ajuda nada.



O filme abre então com a chegada de Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) a casa, onde encontra o seu marido Mitch (Matt Damon) e o seu filho Clark, já visivelmente debilitada e doente depois de uma visita de negócios a Hong Kong. A sua doença, aparentemente, não é um caso isolado, pois acontece o mesmo a uma top model ucraniana de regresso a Londres, um empregado de mesa chinês e um homem de negócios japonês. Partindo destas primeiras pessoas infectadas, a película observa o desenrolar cronológico da progressão do vírus, apresentando-nos, além de mais indivíduos que contraem a doença, o grupo de pessoas responsáveis por parar a proliferação da infecção, entre eles médicos - Dr. Orantes, especialista da OMS (Marion Cotillard), Dr. Mears (Kate Winslet), Dr. Hextall (Jennifer Ehle), Dr. Eisenberg (Demetri Martin), Dr. Sussman (Elliot Gould) e Dr. Cheever (Lawrence Fishburne), responsáveis do CDC - e figuras governamentais (Bryan Cranston, Enrico Colantoni) e ainda nos introduz uma questão pertinente sob a forma de Alan Krumwiede (Jude Law), um oportunista blogger australiano que pretende lucrar com a crise e que cria teorias da conspiração em que menciona documentos que teriam sido ocultados pelo governo acerca do vírus e do seu tratamento.



Algo a admirar em "Contagion" é a forma surpreendentemente vivaz e empolgante com que se desenrola o filme, não deixando lugar para o aborrecimento durante as suas quase duas horas de duração. Também há que elogiar Soderbergh por nunca deixar que a história de uma das personagens se sobreponha às outras, dando tempo a todas sem nunca permitir que uma ganhe proeminência. Claro que o elenco é seu aliado, pois tanta gente com talento nunca poderia dar mau resultado. Não há um ponto fraco, tal como não há (por razões óbvias, como já expliquei) ninguém que se destaque. Scott Z. Burns e Steven Soderbergh mantêm o argumento o mais simples, plausível e directo possível, sendo que o único detalhe que me recorde incomodar-me é o facto de praticamente nenhuma das personagens ter grande profundidade - algo que neste tipo de filme não choca ninguém também, por isso penso que esse será um mal menor. A banda sonora electrizante de Cliff Martinez, a edição impecável de Stephen Mirrione e a fotografia sumptuosa - a cargo do próprio Soderbergh - ajudam a manter as coisas interessantes.



O final deixa as coisas irremediavelmente resolvidas e, com tantas personagens para nos despedirmos e vermos a sua história ser encerrada, permite-se entrar em alguns clichés desnecessários e que teriam ficado melhor fora do ecrã mas, ainda assim, é um dos filmes imperdíveis do ano e uma fonte de entretenimento garantido, mais não seja porque o seu objectivo é maior do que contar uma simples história: "Contagion" tenta colocar-nos a discutir e a questionar tudo aquilo que nos foi mostrado.


Nota Final:
B

Informação Adicional:

Realização: Steven Soderbergh
Argumento: Scott Z. Burns
Elenco: Marion Cotillard, Bryan Cranston, Matt Damon, Jennifer Ehle, Lawrence Fishburne, Jude Law, Demetri Martin, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet
Fotografia: Steven Soderbergh
Banda Sonora: Cliff Martinez
Ano: 2011


Trailer:

[ESPECIAL] CONTAGION

Na Estação de Metro do Cais do Sodré, o Filme da Semana no Dial P for Popcorn, Contagion (cuja crónica publicaremos aqui em breve), teve direito a uma publicidade muito especial e bastante apropriada à temática do filme. Uma ideia original e inteligente, que certamente vai chamar até ao cinema publico que, de outro modo, passaria ao lado deste filme.




Relembro que esta ideia também foi explorada noutras metrópoles, como é exemplo este billboard no Canadá.

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