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DIAL P FOR POPCORN

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Os Melhores de 2010, por Jorge Rodrigues

Ainda nem a meio vamos dos prémios que tenho andado a atribuir aos melhores do ano passado (espero tê-los concluído nos próximos dias) - os Dial A For Awards (DAFA) 2010; contudo, uma vez que já passou da altura de vos revelar quais são, para mim, os melhores filmes de 2010, vou fazê-lo - mas ordenados alfabeticamente. Assim retém-se o suspense para quando revelar as minhas categorias de Melhor Filme.


Finalistas:

Esta lista de filmes que aqui segue são de filmes que gostei muito mas que não consegui incluir entre os meus vinte melhores. "Exit Through The Gift Shop" poderia ser um dos vinte, mas optei por não incluir documentários porque penso que a minha avaliação deles é muito subjectiva e nunca os sei comparar bem com longas-metragens. O mesmo tenho a dizer, em menor grau, de "Last Train Home", "Wasteland", "Gasland", "Joan Rivers: A Piece of Work", "Restrepo", "Inside Job" e "Catfish". "Biutiful", "Copie Conforme", "The Edge", "In A Better World" , "Dogtooth" e "Incendies" são todos filmes estrangeiros que apreciei bastante, cada um à sua maneira, mas que também não têm qualidade suficiente para eu os colocar dentro dos meus vinte melhores. Também "Fish Tank" e "Winter's Bone" ficaram perto de entrar na lista, mas no fim de conta eu percebi que o meu amor pelos seus intérpretes é bem maior do que o filme no seu todo. Ainda assim, das melhores surpresas que o ano me trouxe. Uma obra-prima visual, "I Am Love" falha um pouco a nível da sua história, mas tem em Tilda Swinton um timoneiro de excelência. Assim, também neste caso optei por premiar a intérprete e os aspectos técnicos em prol do filme em si. "Kick-Ass" também ficou perto, mas no caso de Matthew Vaughn a verdade é que não fiquei tão enfeitiçado como outros. Gostei do que vi, mas esperava mais. Dos melhores eu espero sempre mais. O mesmo posso dizer de "Made in Dagenham", "Somewhere" e de "Never Let Me Go", que também têm diversos aspectos merecedores de elogio mas outros bem em défice. E finalmente: "The King's Speech". Era o meu #21 da lista. Foi difícil cortá-lo. Mas tive de o fazer. É deste modo que vos apresento... 


Os meus melhores filmes de 2010:
(ordenados alfabeticamente)


ANIMAL KINGDOM (r. Michod)

Uma história fascinante, personagens frescos e originais, uma família que impõe respeito e tresanda a segredos e traições. Um filme irreverente, belíssimo e um grande começo para David Michod. Jacki Weaver entrega-se por completo a 'Smurf' Cody, a matriarca desta horripilante família, um monstro com cara angelical, uma mulher que não é de confiança, uma predadora incessante. Uma formidável descoberta.

ANOTHER YEAR (r. Leigh)

Por esta altura, já estamos habituados a que tudo o que Mike Leigh faça, faça bem. Este "Another Year" volta a trazer-nos uma proeminente interpretação feminina, por uma actriz até então pouco conhecida do grande público. Lesley Manville incendeia a tela - e o espectador fica-lhe eternamente grato.
 
BLACK SWAN (r. Aronofsky)

Finalmente, um Aronofksy que vem rivalizar, em termos de popularidade, com a sua indiscutível obra-prima, "Requiem for a Dream". Sem atingir o nível deste, contudo, "Black Swan" é do mais envolvente que esteve nas salas de cinema este ano; brilhante, ousado, invulgar, com uma Natalie Portman em topo de forma, foi um prazer de ver, escutar, sentir. Vibrante, trágico, aterrorizador, louco e tóxico, "Black Swan" é imperdível.

BLUE VALENTINE (r. Cianfrance)

Mexe com as nossas emoções em sítios muito pessoais, põe-nos face a face com uma situação que decerto todos já passámos. Williams e Gosling formam um par inesquecível - que espero que se repita no futuro. Um filme surpreendente - pela positiva, claro.



FOUR LIONS (r. Morris)

Já é costume sermos todos os anos maravilhados por uma pérola cómica britânica. Depois do fabuloso "In The Loop" em 2009, este ano trouxe-nos o primeiro trabalho de Chris Morris, "Four Lions". Irreverente, irrepreensível, sem medo de desafiar convenções ou fazer troça de pré-conceitos, é uma obra-prima de desatar a rir.

HOW TO TRAIN YOUR DRAGON (r. Sanders, DuBois)

Qual não foi a minha surpresa quando me vi irremediavelmente apaixonado por este filme? Integralmente dedicado a despertar o nosso amor pelos nossos próprios animais domésticos, "How To Train Your Dragon" é mesmo o melhor filme que a Dreamworks já produziu para rivalizar com a Pixar. Inteligente, carinhoso, bonito, com cenas de acção impressionantes e muito bem executadas, com uma banda sonora de sonho, é um filme animado a sério, não só para os amantes da animação mas para todos aqueles que pretendem um grande filme.

INCEPTION (r. Nolan)

Neste momento, penso que Hollywood já aprendeu a lição: querem um blockbuster inteligente que não tem medo de desafiar a sua audiência? Chamem o Christopher Nolan. Depois de consolidar o seu valor como um mestre contador de histórias depois da sua estreia com "Memento" e depois de revitalizar de forma extraordinária uma franchise que estava em águas mortas, eis que a sua grande oportunidade de realizar algo que ele queria surge: e ele acerta em cheio. "Inception" é, em suma, uma ideia francamente original, brilhantemente explorada por um dos senhores da sétima arte no momento.

L'ILLUSIONISTE (r. Chomet)

Por vezes, a beleza das coisas está no quão singelo um momento consegue ser capturado. Chomet já o fez antes em "Les Triplets de Belleville" e volta a realizá-lo em "L'Illusioniste". Os últimos momentos do filme, em que seguimos um desapegado mágico sem nada que o prenda à sua vida antiga deixar tudo e todos e partir com fim incerto, abandonando assim subitamente a arte que tanto promoveu por tantos anos, são de trespassar o coração com uma faca. O resto do filme não é igualmente fácil de engolir - uma incrível metáfora de como tudo na vida, inclusive os gostos e as pessoas, mudam; só Chomet é que não muda o seu modo tão pouco usual de fazer animação. Um filme mais para adultos do que para crianças, mas que irá pôr todos, de igual modo, a chorar.



 LOLA (r. Mendoza)

Uma história de luta, de sobrevivência, "Lola" é mais uma peça inolvidável que Brillante Mendoza nos traz. A história de duas avós a combater para defender os seus netos é do mais precioso e enternecedor (e também triste, diga-se) que 2010 nos ofereceu. As feridas profundas nunca fecham - e a nossa mente, depois de ver este filme, também não.

MONSTERS (r. Edwards)

Fiquei estupefacto ao ver este filme. Fiquei chocado como um realizador estreante, com apenas 500,000 $ de orçamento e dois actores, decidiu filmar ilegalmente em vários países um filme artístico de ficção científica e ainda editá-lo, tratar da sua fotografia e direcção artística e pagar integralmente os custos extra de produção e ter isto como resultado. Um mundo rica e vividamente criado (uma experiência sensorial levada ao extremo), com personagens complexas e completas, que aborda uma história fascinante. Bónus: uma das melhores bandas sonoras do ano, a cargo de Jon Hopkins.


RABBIT HOLE (r. Cameron Mitchell)

Ao contrário do que meio mundo pensa, a melhor interpretação feminina do ano não está em "Black Swan". Infelizmente, como em tudo na carreira de Nicole Kidman, a sua interpretação em "Rabbit Hole" junta-se a mais uma daquelas dela que são impressionantes e inesquecíveis mas que aparentemente não são boas o suficiente para merecerem ser devidamente premiadas. Que o elenco secundário a suporte de tão brilhante forma é só mais um testemunho à qualidade que o fantástico John Cameron Mitchell juntou para o filme mais invulgar da sua filmografia até agora. Um primor. Um dos melhores filmes do ano. E que lida com um dos piores assuntos da vida humana da melhor maneira possível - a honesta.

SCOTT PILGRIM vs THE WORLD (r. Wright)

Sinceramente, depois de "Hot Fuzz" e "Scott Pilgrim vs. The World", como é que Edgar Wright não tem todos os estúdios a bater-lhe à porta e a oferecer-lhe mundos e fundos? Um realizador sempre à procura de se reinventar, buscou inspiração na banda desenhada canadiana de sucesso internacional e disto resultou o filme mais distinto, original e inventivo que eu alguma vez vi. Com algumas falhas? Decerto. Incrível de qualquer forma? Sem dúvida.



TANGLED (r. Howard, Greno)

Não era suposto eu ter gostado tanto deste novo conto de fadas da Disney, mas enfim, cá o temos. A fugir às antiquadas convenções sobre princesas em perigo, ousa ser diferente e mais divertido, com dois dos melhores parceiros de aventura que uma história destas podia ter - Maximus e Pascal - e com uma das cenas mais belas de sempre da animação e do cinema, a rivalizar com a cena da dança de "Beauty and the Beast", o clamor de Ariel em "The Little Mermaid", a introdução de "The Lion King" ou a definição da dança em "Wall-E" (estou a falar da cena das lanternas, claro), "Tangled" cumpriu o seu grande propósito: encantar.

THE FIGHTER (r. O. Russell)

Repleto de coração e humanidade num filme que fala de força e perseverança (atributos de qualquer bom filme de boxe), este está mais preocupado em focar-se nas pessoas do que no desporto em si. Ainda bem. Não dá para seleccionar só um momento deste filme que mais parece um documentário, tal é o realismo criado nas situações e nas relações. Uma enorme interpretação de Christian Bale, auxiliado por um nobre elenco de grandes actores, proporciona-nos uma das mais interessantes surpresas do ano.

THE GHOST WRITER (r. Polanski)

Como que a mostrar que o mestre do drama, Roman Polanski, está de volta, "The Ghost Writer" é, de longe, o trabalho recente que mais próximo fica das suas obras-primas dos anos 70, como "Chinatown" e "Rosemary's Baby". Uma obra estrategicamente explorada, explorada até à exaustão do mínimo detalhe, com memoráveis e sinistros cenários, que avança de forma intrigante mas excitante para um fim absolutamente tremendo: um último grande acto, uma demonstração do que vinha sendo, desde o início, inevitável: o Fantasma não é mais do que isso, uma sombra, um vulto; tão importante é que facilmente se prescinde dele. E foi isso que Polanski fez.

THE KIDS ARE ALL RIGHT (r. Cholodenko)

Um filme que surpreende pela sua familiaridade, pela generosidade com que aborda os defeitos das nossas complicadas personagens e pela forma fácil como nos proporciona uma agradável e satisfatória resolução emocional ao mesmo tempo que não foge a mostrar-nos quão adversas as circunstâncias da vida podem ser. Um elenco notável, uma realização cuidada e talentosa e uma história intrincada, pessoal e muito divertida. Uma excelente combinação.



THE SOCIAL NETWORK (r. Fincher)

"The Social Network" é, para mim, a epítome de tudo aquilo que um grande filme representa. Nos seus melhores momentos, explora quem somos enquanto pessoas, a forma como nos interrelacionamos e a forma como hoje em dia deixámos a socialização para o meio digital e que explora, particularmente, como o criador desta ferramenta magnífica que nos aproximou dos nossos amigos optou por se afastar dos dele. É um filme que usa a sua curiosidade pela tecnologia para contar uma história nada ou praticamente nada relacionada com o desenvolvimento tecnológico. As suas personagens são diferentes das de qualquer mero filme; não são movidas por um objectivo vulgar, como dinheiro ou vingança ou ganância - o seu objectivo é escapar à mediocridade, ficar na história graças à sua ideia genial, buscar a aceitação do mundo. Isto não seria possível se toda a equipa por trás, do realizador ao argumentista, dos compositores aos editores, não estivesse a trabalhar no topo da sua forma. É, por isso, que "The Social Network" é muito mais do que um simples filme; é um clássico dos tempos modernos, um ensaio exemplar da vida dos nossos dias.

TOY STORY 3 (r. Unkrich)

Em "Toy Story 3", uma história que esteve mais de dez anos em gestação culmina não explosivamente, carregada de grandes efeitos especiais ou através de uma enorme batalha, mas da forma mais perfeita que se poderia esperar: numa expressão perfeita de amor e carinho. O filme coloca os nossos conhecidos heróis em risco atrás de risco, fá-los atravessar a sua própria jornada de sofrimento e dúvida para no fim nos arrancar as entranhas e fazer-nos sentir pena e compaixão de objectos inanimados como estes brinquedos. Nunca pensei sentir-me assim. Nunca pensei que poderia manifestar estes sentimentos para com algo que não é humano; pior - para com algo que não é humano e que está no grande ecrã. Mas sentimos. E choramos. E arrepiamo-nos. E ficamos com um grande buraco no sítio onde o nosso coração costuma estar quando nos temos que despedir para sempre. Woody, Buzz, vocês são eternos. São mais do que brinquedos, mais do que personagens. Fazem o meu coração querer explodir do meu peito. São companheiros na minha jornada, na minha vida, como que a lembrar-me de maravilhosos tempos que já lá vão.

TRUE GRIT (r. irmãos Coen)

Um western puro, bem escrito, bem realizado, bem fotografado e bem editado, como já é apanágio. A juntar a isto, está uma infusão do familiar humor e ironia sarcástica que os irmãos Coen emprestam ao fabuloso romance de Charles Portis, transformando uma história curiosa de perseguição e vingança numa aventura épica ímpar, que nos relembra o quão divertido pode ser um western se bem feito, mas que também nos mostra as verdadeiras consequências de uma disputa sangrenta. Bónus: excelentes interpretações dos protagonistas Jeff Bridges, Matt Damon e Hailee Steinfeld (esta, um belo achado; a ver no que dá a seguir).

WHITE MATERIAL (r. Denis)

Isabelle Huppert como força indomável. Claire Denis, uma das maiores e melhores realizadoras da actualidade, tem de novo em suas mãos um portentoso argumento e espreme-o ao máximo. Não é tão desconcertante como "Beau Travail" ou tão desconfortável como "35 Shots of Rum", contudo é um filme magnífico por si só. Paisagens apaixonantes, mensagem apolítica, enigmática e bizarra película. Mesmo pairando a sensação de perigo eminente e revolução, Isabelle Huppert aí continua, firme, serena e impávida, como se nada a deitasse abaixo. Um filme extraordinário. Uma interpretação prestigiosa.


E agora é com vocês, caros leitores... Que filmes vos impressionaram? Que filmes pensam que deixei escapar? Que filmes acham que não lhes foi dado o merecido valor?