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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

Previsões Óscares 2013 (I): Actriz Secundária



Já falamos da questão Meryl Streep aqui, quando abordamos as candidatas a melhor actriz. Não vale a pena demorar-me de novo no assunto - se a Academia ceder e nomear a actriz nesta categoria, será uma forte candidata a vencê-la (o mesmo aconteceria se nomeada para actriz principal). O problema da colocação de Streep acaba é por complicar a campanha de outras actrizes do elenco do seu filme, à cabeça Margo Martindale, Juliette Lewis, Abigail Breslin e Julianne Nicholson, o que é injusto, especialmente no caso da veterana actriz, vencedora recente do Emmy, que poderia ter aqui outro momento para brilhar. Outro ponto de interrogação na categoria é a colocação de Amy Adams por "American Hustle", podendo-se passar o mesmo que Streep. Seria outra forte candidata a vencer (sobretudo se Streep não fosse nomeada aqui e se Jennifer Lawrence não roubar o holofote pelo mesmo filme e conseguir a nomeação ao invés de Adams). Adams tem mesmo outra grande possibilidade de nomeação, pelo novo filme de Spike Jonze, "Her". Uma dupla nomeação (e finalmente uma vitória para a actriz) não me parece uma hipótese tão remota assim de acontecer. A terceira grande candidata da categoria é Oprah Winfrey, de volta à representação em "The Butler" de Lee Daniels que, apesar das críticas medianas do filme, tem obtido excelentes elogios à sua prestação, sendo quase ponto assente que a actriz é um dos nomes fortes para nomeação - o problema é também a sua colocação, num papel que muitos consideram maior demais para consideração como actriz secundária. Até ver, é aqui que os Weinstein a querem colocar, mas com as vicissitudes da corrida, quem sabe não mudam de ideia...


Quem também conseguiu boas críticas pela sua prestação foi Carey Mulligan, que em Cannes recebeu os típicos louros por mais uma interpretação feliz em "Inside Llewyn Davis". Algum dia ela terá de regressar ao Dolby - será este ano, depois de ignorada por forte trabalho em "Never Let Me Go" e "Shame"? Também por Cannes passou June Squibb, com boas críticas pela sua prestação em "Nebraska" de Alexander Payne - se o filme pegar entre os membros da Academia e conseguir várias nomeações, a nomeação desta veterana pode ser uma delas. Mais duas actrizes já tiveram os seus filmes vistos e o seu trabalho bem recebido: Octavia Spencer em "Fruitvale Station" e Sally Hawkins em "Blue Jasmine". A primeira parece-me ter tudo para conseguir mais uma nomeação; já a segunda, depois de ignorada por "Happy-Go-Lucky" e "Made in Dagenham" há alguns anos atrás, apoia uma interpretação de alto calibre de Blanchett, sendo obrigada a ser ofuscada durante a maioria da sua película. Muitas vezes este é o tipo de performance mais difícil de executar bem e talvez por isso acabe de novo fora das nomeadas.


A época dos festivais trará mais interpretações a jogo, entre elas a de Cate Blanchett em "The Monuments Men" (a ter, aparentemente, um óptimo ano, deverá ser por "Blue Jasmine" que o reconhecimento virá mas uma dupla nomeação como conseguiu em 2007 não se pode descartar, a Academia quando gosta dela, gosta mesmo dela), a de Penelope Cruz e Cameron Diaz (particularmente esta; o papel é supostamente fantástico) em "The Counselor", Nicole Kidman em "The Railway Man" (também a jogo por "Grace of Monaco" como melhor actriz e com melhores probabilidades lá), Laura Linney em "The Fifth Estate" (um filme que dará que falar, uma actriz triplamente nomeada), Naomie Harris por "Mandela: A Walk to Freedom" (resta saber se é co-protagonista ou mesmo actriz secundária), Kristin Scott-Thomas por "The Invisible Woman", Jennifer Garner em "Dallas Buyers Club" (outro filme que, à custa de McConaughey, vai estar debaixo de todos os olhares) e Lupita Nyong'o em "12 Years a Slave" (uma das grandes apostas do ano). Também no final do ano mais três candidatas de peso poderão revelar-se: Vanessa Redgrave em "Foxcatcher", Julianne Moore por "Carrie" e Catherine Keener por "Captain Phillips". E depois há a questão Viola Davis: a Academia deverá ter vontade, digamos, de corrigir a nega que deram à actriz em 2010. Até agora a actriz manteve-se em low profile - e fez ela bem, voltando este ano com dois bons papéis, em "The Disappearance of Eleanor Rigby" e "Prisoners". Será que algum deles lhe trará a glória? Ou pelo menos mais uma nomeação?


Muitas candidatas, cinco lugares apenas. Os festivais diminuirão a lista significativamente, até ficarem sete a dez nomes plausíveis para a época das festividades reduzir para seis, sete candidatas - como de costume. A surpresa o ano passado, como já é hábito há muitos anos, foi pouca. Como eu vejo a corrida agora, serão estas as candidatas mais fortes...

Previsão das nomeadas:
Amy Adams, "Her"
Cameron Diaz, "The Counselor"
Margo Martindale, "August: Osage County"
Octavia Spencer, "Fruitvale Station"
Oprah Winfrey, "The Butler"


"Fruitvale Station", sensação de Sundance, já tem trailer


Depois de aqui já termos falado do potencial de "Fruitvale" - agora "Fruitvale Station", título oficial - aquando da vitória em Sundance, eis que a película de Ryan Coogler recebe o seu primeiro trailer:


Entre isto, "The Butler" de Lee Daniels, "The Immigrant" de James Gray e "August: Osage County" (mais "Grace of Monaco", "Snowpiercer", "Mandela", "Grandmasters", "The Sapphires"), parece que os Weinstein vão ter mais uma bela época de prémios.


Em Sundance começou a corrida aos Óscares de 2014


Há minutos foram revelados os vencedores da edição de 2013 do Festival de Sundance, certame que decorre nas planícies do Utah no princípio de cada ano e que se dedica especialmente a filmes alternativos, independentes, com o objectivo de lhes trazer maior visibilidade. 


Com "Fruitvale" de Ryan Coogler (adquirido dias após a sua exibição pela titã The Weinstein Company, peritos da corrida aos Óscares) a vencer não só o Grande Prémio do Júri - Drama (sucedendo a "Beasts of the Southern Wild" e juntando-se a vencedores ilustres deste troféu como "Winter's Bone" ou "Precious") como o Prémio da Audiência - Drama (sucedendo a "The Sessions", sendo que "Precious" também venceu este prémio no seu ano), parece-me que temos aqui o primeiro candidato à corrida aos Óscares de 2014. Protagonizado por Michael B. Jordan ("Parenthood", "The Wire", "Friday Night Lights") e Octavia Spencer (vencedora do Óscar por "The Help"), "Fruitvale" conta a história verídica das últimas horas de vida de Oscar Grant.


Tendo em conta as críticas (vão clicando e vendo, se quiserem: Indiewire; Shadow and Act; Twitch; The Hollywood Reporter; Collider; Thompson on Hollywood) não me restam grandes dúvidas: contem com este filme para os prémios de fim de ano (até Tom Rothman o disse na entrega do prémio do júri). 

De Sundance fico com vários outros filmes na retina para acompanhar ao longo do ano (de "Prince Avalanche" de David Gordon Green a "The Spectacular Now") e, essencialmente, com esta senhora (não me importam as críticas, estou morto por ver):



Os restantes vencedores AQUI.

THE HELP (2011)




"You is kind. You is smart. You is important."



Quando penso que "THE HELP" podia ter sido o típico filme inspirador e emocional sobre a luta entre raças na véspera do movimento dos direitos civis, que se podia ter contentado em ser um filme inofensivo, bonito e optimista sobre a vida das criadas de raça negra no Mississipi dos anos 60, aquele género de filme que põe o género feminino todo de lágrima ao olho e de coração cheio e o público masculino à beira de um ataque de nervos, tal o sentimentalismo ao qual não consegue escapar, dou um suspiro de alívio. O livro de Kathryn Stockett está longe de ser perfeito (aliás, tendo em conta as reacções bastante díspares que obteve da crítica, nem sequer se pode dizer que o filme reúne consenso) e o pedido à Disney que apostasse no inexperiente Tate Taylor podia ter corrido terrivelmente mal. Felizmente, tudo se conjugou na perfeição para nos proporcionar um dos melhores filmes deste Verão, que agrada a todos, que faz pensar sem ser rigoroso na análise que faz à sociedade (nem Taylor deixa, cobrindo o filme de uma fotografia colorida, bonita e superficial que se sobrepõe à necessidade que poderíamos ter de abordar assuntos sérios, revelando uma falta de panache impressionante - mas que se percebe) e que, acima de tudo, nos presenteou com aquele que terá forçosamente de ser o melhor elenco do ano e uma das melhores interpretações femininas do ano.


Que o filme traga em si tanta faísca, tanto poder, tanta pujança deve-se em grande parte à cintilante interpretação de Viola Davis, que alcançou proeminência há três anos com um papel secundário em "Doubt" e que lhe deu a sua primeira nomeação para os Óscares da Academia. Com uma introdução daquelas e vinda esta de uma grande senhora do teatro, era de esperar que quando chegasse a sua hora de brilhar, Viola Davis entrasse com tudo. E assim foi. A sua Aibileen é a força motriz do filme, íntegra e impassiva, fazendo-nos ao mesmo tempo admirar a sua personagem e preocuparmo-nos com o seu destino. Aibileen Clark é uma ama e empregada doméstica de raça negra que já cuidou de mais de dezassete crianças de famílias brancas mas que tragicamente ainda não superou a perda do seu próprio - e único - filho. A sua vida nunca mais é a mesma quando ela aceita o desafio de Eugenia "Skeeter" Phelan (Emma Stone, a emprestar autenticidade e cor a uma personagem algo banal e estereotipada) - uma recém-graduada de Ole Miss que pretende deixar a sua marca no mundo do jornalismo e que não compreende os preconceitos dos da sua espécie para com as mulheres que de facto os criaram - de relatar o seu dia-a-dia enquanto criada das famílias brancas de Jackson, Mississipi. A ela se junta a sua melhor amiga e confidente Minny Jackson (a revelação, Octavia Spencer) que, no desespero do desemprego após confrontar a sua patroa Hilly Holbrook (uma firme e cruel Bryce Dallas Howard), vê a esperança corresponder-lhe ao arranjar trabalho junto de Celia Foote (uma incandescente e hilariante - mas de coração limpo - Jessica Chastain), uma bombástica loura que foi rejeitada, algo inexplicavelmente, pela restante alta sociedade. A estas mulheres se juntam ainda Sissy Spacek, Allison Janney e Cicely Tyson em papéis menores mas todos importantes no desenrolar da história - o filme é especialmente sagaz em conferir vitalidade e frescura a todas estas mulheres, de modo a que nenhuma acaba por parecer uma caricatura barata.


Embora a interpretação de Viola Davis não nos encha de gargalhadas como cada vez que a igualmente genial Octavia Spencer abre a boca, é-lhe permitido aqui "abrir o livro", pese a expressão: histérica, calma, temerosa, divertida, irada, ela percorre toda a palete de emoções e transforma a história de Aibileen e da sua amizade com Minny e Skeeter em algo mais, como se a sua vida e o relato de Aibileen por vezes se fundissem e se tornasse difícil compreender se o que Davis nos deixava antever das suas expressões, da sua luminosa face, das palavras que pronunciava é fruto da profundidade da sua caracterização ou são mesmo resultado das mágoas bem reais que Davis conheceu quando era mais nova.


Um retrato íntimo, caloroso, empático e emotivo de uma mulher demasiado destemida para o seu tempo, uma mulher de coração cheio de alma e amor, trazida à vida por uma actriz que é uma verdadeira força da natureza, ladeada por um elenco de imenso talento e qualidade do qual se destaca a tremendamente versátil Jessica Chastain (que está a ter um 2011 épico) e a extraordinária comediante que é Octavia Spencer, que rouba todas as cenas em que surge, "THE HELP" não procura fazer-nos pensar nem busca culpados ou vítimas. Só se preocupa em contar a verdade. Um filme longe de ser perfeito, ainda assim merece ser visualizado, mais não seja pela imagem valente e corajosa que projecta de mulheres que mesmo subjugadas nos mostram que lá por não terem nascido da raça certa não quer dizer que a sua dignidade não seja igualmente importante. 
Nota Final:
B/B+

Informação Adicional:
Realização: Tate Taylor
Argumento: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard, Allison Janney, Sissy Spacek, Cicely Tyson, Ahna O'Reilly
Banda Sonora: Thomas Newman
Fotografia: Stephen Goldblatt
Ano: 2011