O fim de uma era. É o que todos sentimos quando entrámos no cinema para ver a última e derradeira parte da saga do feiticeiro mais conhecido de todos os tempos, a história do rapaz que sobreviveu.
"HARRY POTTER AND THE DEATHLY HALLOWS, PART II" vem encerrar com chave de ouro uma das mais lucrativas
franchises de sempre e um fenómeno sem precedentes quer a nível da literatura, quer a nível das suas adaptações cinematográficas. Ajuda também que este último filme providencie uma conclusão satisfatória e que cumpre as expectativas dos milhões de fãs em todo o mundo.
Neste último capítulo, Harry Potter (Daniel Radcliffe) vê finalmente chegar o momento que tentou evitar uma vida inteira: o frente-a-frente com Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Antes disso, de acordo com as instruções que lhe havia deixado Albus Dumbledore (Michael Gambon), ele necessita de destruir os restantes Horcruxes do vil rival juntamente com Ron (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) para, de uma vez por todas, o poder derrotar. Não querendo ser mais detalhado que isto, acho que é suficiente dizer que a grande maioria das inolvidáveis personagens dos anos anteriores de Harry em Hogwarts estarão todos de volta, incluindo Professor McGonagall (Maggie Smith), Draco Malfoy (Tom Felton), Hagrid (Robbie Coltrane), Neville Longbottom (Matthew Lewis), Ginny Weasley (Bonnie Wright), Luna Lovegood (Evanna Lynch), Remus Lupin (David Thewlis), Professor Snape (Alan Rickman), Professor Flitwick (Warwick Davis), Professor Trelawney (Emma Thompson), Professor Slughorn (Jim Broadbent), Molly e Arthur Weasley (Julie Walters e Mark Williams), Bellatrix Lestrange (Helena Bonham-Carter), Lucius e Narcissa Malfoy (Jason Isaacs e Helen McCrory), Ollivander (John Hurt), Fred e George Weasley (Oliver and James Phelps), Nymphadora Tonks (Natalia Tena), Fleur Delacour (Clémence Poésy), entre muitos outros, todos de volta para uma das cenas mais formidáveis de toda a saga, de uma pujança inacreditável nos livros, bem transportada para o ecrã pelas mãos de David Yates: a batalha de Hogwarts.
Depois das experiências bem sucedidas em "Order of the Phoenix" e "Half-Blood Prince" e do pequeno percalço chamado "Deathly Hallows: Part I", um filme que para mim nunca devia ter existido, especialmente no tamanho gigante em que foi produzido, Yates explora bem os pontos fortes do argumento de Steve Kloves e esconde as suas fraquezas, bem auxiliado por uma fotografia de altíssimo nível de Eduardo Serra (se bem que menos impressionante em comparação com o seu trabalho na primeira parte deste último filme), uma direcção artística exímia do colaborador habitual (e três vezes nomeado pela saga) Stuart Craig e um imperial Alexandre Desplat, de novo em topo de forma, produzindo uma banda sonora capaz de num momento acelerar a nossa pulsação e no outro nos deixar de rastos, à beira do choro. Quanto ao elenco em si, como de costume, são os personagens secundários que brilham. O trio principal é, uma vez mais, competente, nada de mais. Cumprem bem a sua função como alavancas motoras da narrativa, dando oportunidade a Maggie Smith, Matt Lewis, Helena Bonham-Carter, Michael Gambon e especialmente Ralph Fiennes e Alan Rickman de brilhar. Durante toda a saga, Alan Rickman (que interpreta Snape) foi consistentemente o melhor de cada um dos filmes e também aqui não foi excepção, aproveitando ao máximo uma cena improvisada de
flashbacks (muito diferente da original publicada no livro, mas ainda sim contendo a mesma força e potência) para mostrar porque é, ainda hoje, um dos artistas mais valiosos do Reino Unido. Já quanto a Ralph Fiennes, só neste filme é que reparei o quão cheia de
nuance e personalidade é a sua interpretação de Voldemort. Parecendo estar genuinamente a divertir-se na pele do vilão, Fiennes é electrizante - e relembrou-me os velhos tempos em que ele a paixão que exibia enquanto uma das maiores estrelas a agraciar o grande ecrã.
O maior elogio que se pode fazer a este filme - e a toda a saga, já agora - é nunca se ter desviado do concepção original de J.K. Rowling, tendo respeitado os fãs e os livros do princípio ao fim, fazendo jus ao mundo mágico e à frutífera imaginação da sua criadora. As cenas finais deste "Harry Potter and the Deathly Hallows, Part II" são particularmente impressionantes, decorrendo com enorme fluidez, com um diálogo inteligente e sem pressa, proporcionando-nos uma despedida sentida e adequada deste grupo de personagens que aprendemos a amar incondicionalmente ao longo dos anos. Da minha parte, ficarei para sempre grato que a Warner Brothers tenha decidido arriscar e transformar obras pelas quais nutro tanto carinho uma série de filmes de que o estúdio - e todo o mundo - se possa orgulhar. Será um deleite daqui a uns anos, seguramente, rever estes filmes todos em conjunto. Hogwarts é, afinal, uma casa à qual somos todos bem-vindos (como J.K. Rowling muito eloquentemente afirmou na estreia mundial do filme).