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DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

NIGHTCRAWLER, de Dan Gilroy

"I'd like to think if you're seeing me you're having the worst day of your life."

 

 

Deixem passar Jake Gyllenhaal. Por favor, deixem-no passar. Depois de me ter desiludido em Enemy (onde nem ele nem Denis Villeneuve perceberam muito bem o que estavam a fazer), o eterno Donnie Darko deixa um sério aviso à concorrência de Hollywood. Está um actor diferente, mais maduro e mais autêntico, parece-me. Uma carreira que esteve a um pequeno passo de cair num abismo sem retorno (lembro-vos que chegou a ser o Principe da Pérsia...) vê-o agora ressurgir com um novo e pungente fôlego, mais corajoso e a abraçar projectos mais ambiciosos.

 

 

Em NightcrawlerJake é a câmara que alimenta o voyeurismo humano pela tragédia, o desejo, quase febril e doentio, de ver o sangue sujar o nosso ecrã de televisão. Sozinho em Los Angeles, Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) é um homem sombrio, obsessivo, tenso, com um olhar doentio, que absorve a informação gratuita da internet e procura a sua oportunidade em cada canto obscuro. Capaz de tudo para conseguir aquilo que idealiza, Louis começa a filmar e vender os acidentes mais brutais de LA com uma câmara de qualidade duvidosa, perseguindo o rasto deixado pelo caos e pela desgraça num velho carro a cair aos bocados.

 

 

Começa e não pára. Numa asceção quase meteórica, a ambição de Louis não tem limites. E em Nightcrawler, Dan Gilroy conta-nos como uma sociedade perdida pelo caótico poder do dinheiro e do exibicionismo, premeia e alimenta a obsessão doentia de um homem sem escrúpulos. O que Gyllenhaal dá ao argumento de Gilroy é muito mais do que uma grande interpretação. A força do argumento confunde-se com o poder da personagem e ambos se tornam indissociáveis. Um filme que passou ao lado dos grandes prémios de Hollywood, mas que certamente todos acabaram por espreitar. Tal e qual como o jornalismo voyeur que ninguém admite ver, mas do qual todos sabem sempre qualquer coisa.