Como um fã absoluto do filme de estreia do dramaturgo Kenneth Lonergan, “You Can Count On Me”, podem contar que estava esperançado que a sua obra seguinte, “Margaret”, fosse igualmente excelente. Não me desiludiu. É definitivamente uma pena – e uma vergonha para distribuidores pelos Estados Unidos da América fora – que este filme tenha passado quase despercebido do público, tendo aparecido e saltado fora dos cinemas norte-americanos num piscar de olhos. Não fosse o aviso da Boston Society of Film Critics e este filme tinha-me passado completamente ao lado.
Passo a explicar: o filme passou por infernais problemas de desenvolvimento, com guerras entre distribuidoras, com a distribuidora do filme a falir, com anos e anos a passar até que Lonergan conseguisse juntar dinheiro suficiente para reaver o filme e com a problemática mania de perfeição de Lonergan a meter-se ao barulho também, editando o filme vezes sem conta. Scorsese, amigo pessoal de Lonergan, viu uma versão antecipada do filme - chegou até a trazer Thelma Schoonmaker com ele para ajudar a editar a película - e ficou maravilhado, considerando-o uma obra-prima perfeita. Lonergan não era da mesma opinião e editou. E editou de novo. Tanto editou que o filme falhou o prazo imposto pela editora – que o queria lançar nos festivais o ano passado – e acabou esquecido por todos. Felizmente, conto-me entre os sortudos que viu o filme – e que o admira por tudo aquilo que tenta ser e sentir, mesmo que não suceda na sua plenitude. É um filme de uma beleza sem precedentes, de uma pureza e sentimento ímpares, de um poder difícil de explicar. “MARGARET” é único.
Com uma interpretação fantástica de Anna Paquin – a sua Lisa é ao mesmo tempo irreverente, destemida, precipitada, instintiva e desesperante, personificando o volátil estado de espírito de alguém que não é já uma jovem, contudo não é ainda também uma mulher. Lisa é filha de pais divorciados, uma mãe actriz com quem não tem grande conexão e um pai que adora, mas que não lhe dá a devida atenção e prefere manter distância. Lisa é, apesar de rebelde, uma jovem inteligente e interessada no mundo que a rodeia, que surpreendentemente se vê de repente a mãos com um evento traumatizante, que desperta na outrora despreocupada adolescente um misto de luto e revolta que a faz pensar para onde caminha a sua vida – e a vida de todos à sua volta, numa Nova Iorque pós-11 de Setembro onde o trágico incidente ainda faz sentir a sua marca.
O acontecimento – que engloba para além de Lisa um condutor interpretado soberbamente com igual parte confusão e esternecimento por Mark Ruffalo e uma pobre pedestre interpretada por Allison Janney – leva Lisa a embarcar numa jornada para que seja feita justiça, empurrada pela consciência de que o que se sucedeu partiu dela, apesar da culpa não ser propriamente da mesma. O problema é que Lisa nunca consegue encontrar uma resolução satisfatória que a faça sentir melhor com ela própria e por isso assume uma personalidade alternativa proporcional à raiva que sente. O filme é um estudo interessantíssimo de como a nossa consciência individual do mundo em que existimos é o que faz girar o próprio mundo. E é acima de tudo pertinente na medida em que se propõe a analisar o que está de errado no mundo da perspectiva de uma adolescente de 17 anos, marcando bem a diferença entre ser jovem e ser jovial. A inocência de Lisa vai sendo destruída pouco a pouco, à medida que o mundo que Lisa achava que conseguiria subverter à sua vontade e empenho vai sucumbindo aos poucos e poucos. No final, a nossa adolescente, com uma vida confortável e simpática, sem grandes problemas, assume que a sua vida nunca mais vai ser a mesma. Como recuperamos de uma situação destas? “Margaret” é isto. É um filme que dá voltas e voltas a um ritmo incomum (correndo o risco de se tornar até redundante), fortalecendo cada camada de narrativa com mais complexidade e beleza, tentando explicar como às vezes o que sucede na vida de uma pessoa não tem sentido nenhum, mas ainda assim as coisas acontecem e como a mais insignificante das acções pode ter imprevisíveis consequências.
Trágico e profundo, o argumento de Lonergan pega nas nossas noções de sociedade, de família, de relações, de maturidade, de compaixão, de responsabilidade e transcende-as num filme que é mais peça de arte que um sucesso cinematográfico. Lonergan não pretende fazer cinema. O próprio sabe que este o resultado final deste filme nunca o deixará satisfeito. Porque o que o filme pretende alcançar é muito maior do que uma simples película. É o universo, é a vida, concentrada numa história, numa experiência vulgar como tantas outras. As suas melhores cenas são viscerais, cruas, reais, filosóficas, inesquecíveis. Entre elas encadeiam-se muitos momentos que não funcionam muito bem (alguns deles, nada bem, como um encontro romântico entre Lisa e o seu professor, interpretado por Matt Damon), mas por cada dez cenas dispensáveis, temos uma cena como a discussão entre Lisa e a mãe (a extraordinária J. Smith-Cameron) que fazem o filme parecer tão melhor do que realmente é. O final catártico e eléctrico vende bem o filme. E assim, sem esperarmos, voltamos a apaixonar-nos pelo filme no seu todo. E as falhas perdoam-se. Não é uma obra-prima, mas Lonergan sim, é um mestre.
Nota:
A-/B+ (9/10)
Informação Adicional:
Realização: Kenneth Lonergan
Argumento: Kenneth Lonergan
Elenco: Anna Paquin, Jeannie Berlin, J. Smith-Cameron, Matt Damon, Mark Ruffalo, Matthew Broderick, Jean Reno, Kieran Culkin, Allison Janney, Kenneth Lonergan, Krysten Ritter, Rosemarie DeWitt
É só e apenas isto. Mesmo eu preferindo que ganhasse Viola Davis, não posso deixar de ficar extasiado com a vitória da mulher mais admirada do mundo.
[Fonte: IMDb]
Meryl, és única. És grande. Finalmente aí tens o terceiro. E, tal como em 1983, estavas de dourado e de braço dado com o Don. Já estava destinado.
Amanhã volto com uma apreciação mais a fundo da cerimónia, de Billy Crystal e dos vencedores e vencidos. A ver se encerramos a temporada de 2011-2012 em grande. É que os filmes do novo ano já estão aí à porta.
Estamos a poucas horas do início de mais uma cerimónia dos Óscares. Este ano não há liveblog aqui no Dial P For Popcorn, podendo acompanhar a nossa opinião na nossa conta do Twitter.Para já, deixo-vos com as minhas previsões dos vencedores (aviso já que não sou fonte consistente para aqueles que gostam de fazer apostas, porque tanto tenho um ano de muito acerto como erro muito; sou um verdadeiro guru iô-iô). Se estiverem interessados na ordem pela qual os prémios são distribuídos, podem consultá-lo AQUI.
Vou acabar por ter uma noite bastante satisfatória, porque pela primeira vez em muito tempo não estou de costas voltadas com o vencedor de Melhor Filme (não acho que “The Artist” seja o melhor dos nomeados, mas, no fim de contas, o meu favorito – “Moneyball” – nunca foi realisticamente previsto como vencedor, daí que aprecio a vitória da bela película a preto e branco), qualquer uma que vença Melhor Actriz me vai deixar contente (seja ela Meryl Streep, Viola Davis ou Michelle Williams) e vou adorar o discurso de Melhor Actor, seja ele proferido por Dujardin, Clooney ou Pitt.
Decidi arriscar um pouco nalgumas categorias, porque afinal, qual é a piada de prever os Óscares se não apostarmos nalgumas decisões polémicas? Na de Argumento Original, porque acho que o estatuto de favorito de “The Artist” permite, tal como a “The King’s Speech” ou “The Hurt Locker” em anos passados, bater a escolha consensual dos prémios dos críticos, Globos e afins. Ainda assim, não consigo perceber como é que os votantes conseguem resistir a votar em Woody Allen pelo seu melhor filme em anos.
Em Guarda-Roupa, a corrida a cinco está a tornar difícil perceber qual o vencedor. “The Artist” poderá facilmente sair vencedor aqui, sendo o favorito a ganhar Melhor Filme, mas “Jane Eyre” é a escolha sensata da categoria. Cuidado ainda com Sandy Powell (“Hugo”) que pode muito bem também triunfar, ou “Anonymous”, porque não há coisa que esta categoria ame mais que realeza.
Em Edição apostei em “The Artist” também porque é o favorito para Melhor Filme e nesta categoria, mais do que todas as outras, o vencedor leva quase sempre os dois prémios. Contudo, não esquecer que defronta Thelma Schoonmaker (“Hugo”), uma das pessoas mais queridas pela indústria cinematográfica.
Filme Estrangeiro é outra categoria difícil de prever. "A Separation" é sem dúvida um enorme filme, mas nesta categoria muitas vezes a qualidade - e mesmo a quantidade de prémios vencida - pouco significa. E depois nos nomeados temos um filme polaco sobre o Holocausto, que tresanda a Óscar. Não sei. Aposto no seguro ("A Separation") mas temo que o pior possa acontecer.
As categorias de Som, finalmente, parecem ter sempre tendência para não irem ambas para o mesmo filme. Prevejo uma divisão entre "Hugo" e "War Horse", mas não sei quem fica com qual. Se "Hugo" for verdadeiramente adorado, ganha as duas. Não sei que decidir aqui. Vou com o meu instinto.
Acerto nas previsões: 15 | 24 (63%) sem alternativas, 23 | 24 (96%) com alternativas
Melhor Filme
“The Artist”
Melhor Realizador
Michel Hazanavicius, “The Artist”
Melhor Actor
Jean Dujardin, “The Artist”
Melhor Actriz
Viola Davis, “The Help”
Meryl Streep, “The Iron Lady”
Melhor Actor Secundário
Christopher Plummer, “Beginners”
Melhor Actriz Secundária
Octavia Spencer, “The Help”
Melhor Argumento Original
“The Artist”
“Midnight in Paris”
Melhor Argumento Adaptado
“The Descendants”
Melhor Fotografia
Robert Richardson, “Hugo”
Melhor Direcção Artística
“Hugo”
Melhor Maquilhagem
“The Iron Lady”
Melhor Guarda-Roupa
“Jane Eyre”
“The Artist”
Melhor Edição
“The Artist”
(“Hugo”)
"The Girl with the Dragon Tattoo"
Melhor Banda Sonora Original
“The Artist”
Melhor Canção Original
“Man or Muppet” – “The Muppets”
Melhor Edição de Som
“Hugo”
Melhor Mistura de Som
“War Horse”
“Hugo”
Melhores Efeitos Visuais
“Rise of the Planet of the Apes”
“Hugo”
Melhor Filme Animado
“Rango”
Melhor Documentário
“Hell and Back Again”
“Undefeated”
Melhor Filme Estrangeiro
“A Separation”
Melhor Curta-Metragem, Documental
“Saving Face”
Melhor Curta-Metragem, Animação
“A Morning Stroll”
“The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore”
Dentro de dias pretendo começar as minhas premiações de cinema e televisão para o ano de 2011. Tenho filmes que lamento não ter visto, infelizmente (entre eles "Alps", "Shame", "Weekend", "Margaret", "Pariah", entre outros), filmes que ainda pretendo ver ("Hugo" e "Le Havre", por exemplo) e filmes que não quero, pura e simplesmente, ver (como o novo "Transformers" ou o mais recente "Twilight"). Este ano, juntarei aos prémios de cinema os prémios de televisão, nos moldes do que havia feito em 2010 (não sei se terei tempo para uma crítica extensiva de todas as séries que acompanhei no ano transacto; esperemos que sim mas não prometo nada).
Espero que do meu certame de filmes premiados surjam várias sugestões para leitores que não têm podido acompanhar a cobertura (pobre, ainda assim) da corrida aos Óscares deste ano e, acima de tudo, vou tentar ao máximo nomear e falar de filmes mais desconhecidos, alguns destes estrangeiros, que desta forma possam ganham maior audiência. Eles bem merecem. Espero também conseguir cativar a vossa atenção para algumas séries de inegável qualidade que são mais desconhecidas cá pelo território português.
Com isto quero então pedir: há algum filme (ou série) que pensam que eu tenho que ver antes de compilar os meus prémios? Alguma sugestão que me queiram fazer?
Há um ano, os premiados foram estes - AQUI. Se têm interesse em espreitar todos os nomeados, é só clicarem neste link AQUI que vos levará ao separador dos Dial A For Awards de 2010, de onde "The Social Network" saiu vencedor, com cinco vitórias.
Little girls shouldn't be told how pretty they are. They should grow up knowing how much their mother loves them.
A 15 de Janeiro de 2012, precisamente cinquenta anos depois, o nome de Marilyn Monroe volta a ser mencionado numa cerimónia de entrega de prémios. Michelle Williams vence a categoria de Melhor Actriz - Comédia/Musical pela sua interpretação como Marilyn Monroe em "MY WEEK WITH MARILYN", relembrando - e bem - no seu discurso que vencera o prémio que o astro que interpretou havia vencido também (aliás, o único prémio que a indústria cinematográfica lhe conferiria) em 1960, por "Some Like It Hot". O que é, para mim, mais peculiar é que Michelle Williams tenha vencido o troféu cinquenta anos depois da última aparição ao vivo de Marilyn Monroe, que recebeu o Globo de Ouro para Melhor Estrela Feminina do Cinema, um prémio nos dias de hoje extinto. Monroe viria, de forma infame, a falecer cinco meses depois, em Agosto de 1962. Tinha 36 anos. Não conseguiria imaginar uma forma mais bonita de Monroe ser homenageada do que esta, se bem que acredito que tenha sido acidental.
Voltando ao filme. Foi dito que ninguém conseguiu, consegue ou conseguirá encarnar Marilyn Monroe. É, de facto, uma tarefa hercúlea, efectuar o malabarismo entre a doçura, a sensualidade, a graciosidade, a ingenuidade, o brilho, o talento e a beleza, todas as qualidades que compunham Marilyn Monroe. Ninguém será mais bonito que ela, ninguém alguma vez será mais sensual. Não há no cinema outra como ela - e nunca mais irá haver. Marilyn Monroe surgiu e pereceu como um astro cintilante, um cometa que nos veio iluminar esta Terra por um muito curto espaço de tempo. Com o seu falecimento, o mito permaneceu. Contudo, o que é de valorizar em Marilyn Monroe - e que muito poucos, no seu tempo ou mesmo contemporaneamente, se lembram - é que Monroe era uma representação, um último acto da peça que narrava a vida de uma jovem, Norma Jean, que se entretinha a fingir que era outra pessoa, esta Marilyn Monroe, uma deusa do amor e da sexualidade, que por sua vez decidiu entreter-se a fingir que era uma talentosa actriz, capaz de desaparecer no papel quando a personagem era certa. Assim, retratá-la torna-se impossível. Ou quase. Porque aqui se introduz na equação Michelle Williams, uma das maiores (quiçá a maior) actriz da sua geração, uma mestra na incorporação dos papéis que aceita, um verdadeiro camaleão que habita o íntimo das suas personagens e as faz brilhar. E, tal como a original, a sua Marilyn Monroe brilha. Aliás, ela cega com o seu brilho. Williams pode não ter o andar correcto, pode não ter as formas corporais exactamente iguais, mas a sua Marilyn é indubitavelmente tão ou mais carismática e impressionante quanto a original. A sua interpretação não parece nem um pouco forçada. Claro que ajuda que Williams esteja na verdade a mostrar-nos não como Marilyn era mas a forma como o seu mito é projectado nas nossas mentes nos dias de hoje; ela mostra-nos, essencialmente, como Colin Clark a via (e, por consequência, como a grande maioria de nós a vê, com uma presença tão forte, charmosa e constante que é não dá para nos rendermos a ela). É por isto também que a abordagem de Williams aos momentos de insegurança, de raiva, de angústia de Marilyn Monroe são tão poderosos. Desumanizando a personagem nos momentos mais icónicos, mas cobrindo-a de uma fragilidade e sensibilidade muito palpáveis nos momentos em que ela se encontra mais só, Williams mostra-nos que finalmente chegou a um patamar de excelência só ao nível das maiores actrizes de sempre, como Meryl Streep, Katharine Hepburn, Bette Davis ou Ingrid Bergman.
Para nossa infelicidade, é uma pena que o filme não perdure tão bem na memória quanto a interpretação da sua protagonista. Tal como a própria Marilyn Monroe,"MY WEEK WITH MARILYN" não sabe muito bem o que quer, alternando entre o inconsequente melodrama, a comédia leve e o romance histórico, sem qualquer rumo e fio narrativo, conferindo muito pouco background às personagens para podermos expressar qualquer emoção acerca do que lhes acontece. O filme é baseado no livro de memórias de Colin Clark (Eddie Redmayne, um actor a quem reconheço talento mas que me incomoda solenemente, aqui traído pela parca profundidade que a sua personagem tem), que trabalhou como assistente de produção para "The Prince and the Showgirl", um filme realizado e protagonizado por Sir Lawrence Olivier (Kenneth Branagh, num casting óbvio mas que resulta na perfeição) e para o qual convidou, sem dúvida para trazer mais reconhecimento à produção, Marilyn Monroe (Williams) para ser sua co-protagonista, um filme que assim juntaria a mais famosa estrela de cinema do mundo e aquele que era reconhecido como o maior actor de então.
O filme, famigerado por imensos problemas de produção, ficou também famoso pela dificuldade de entendimento entre Olivier e Monroe, ora porque o primeiro não entendia o propósito do Método - Monroe, quando se apresentava no set, era acompanhada pela sua professora de representação, Paula Strasberg (Zoe Wanamaker), esposa do inventor do Método, que constantemente alterava ordens dadas por Olivier - ora porque Monroe não era, digamos, a maior profissional. Entre inúmeros ataques de raiva, sessões de choro, indisposições e fugas, Monroe enfureceu Olivier a ponto de este querer cancelar a rodagem do filme. Por entre as gravações, vamos sendo dados a conhecer mais e mais sobre quem era esta famosa mulher que tinha o mundo aos pés e vamos percebendo que a vida galante dela não correspondia bem ao que ela esperava. O elenco inclui ainda Julia Ormond no papel de Vivien Leigh (pouquíssimo impressionante, ainda para mais se tivermos em conta o quão fascinante era a original Leigh), Judi Dench como Sybil Thorndike (nada a acrescentar sobre o papel, tão pouco marcante que é) e Emma Watson como uma costureira por quem Colin sente grande afecto.
Apesar das muitas falhas e problemas que a película de Simon Curtis tem, chegamos a um ponto em que falar de "MY WEEK WITH MARILYN" é falar de Kenneth Branagh e Michelle Williams. Se desta última já falámos imenso, há que discutir os méritos do primeiro. Uma interpretação notável de Branagh, que apesar de não ter o estóico aspecto de Olivier compensa pela vitalidade e voluptuosidade que confere à personagem, copiando a voz cortante e ríspida, conseguindo ao mesmo tempo reter a elegância e o ar irresistível do original, personificando sem mácula o desespero e esgotamento de um homem - só por acaso a maior lenda do cinema britânico - testado por uma novata ainda por deixar a sua marca no mundo do cinema e, pior do que isso, imune ao seu charme. Soberbo. Olivier, claro, detestaria esta representação. Duas nomeações aos Óscares bastante merecidas e, na verdade, o prémio merecido para este filme, que pouco mais almejava. Não apresenta nada de novo sobre o ícone, mantendo apenas viva a ideia do mito de Monroe. Há que lhe agradecer por mais uma grandiosa interpretação de Williams. E isso, para mim, já é mais que suficiente.
Nota Final:
C+
Informação Adicional:
Ano: 2011
Realização: Simon Curtis
Argumento: Adrian Hodges
Elenco: Michelle Williams, Kenneth Branagh, Eddie Redmayne, Judi Dench, Emma Watson, Julia Ormond, Toby Jones, Dougray Scott
Banda Sonora: Conrad Pope (e Alexandre Desplat - "Marilyn's Theme")
Bem-vindos ao Crítica Dupla, um segmento que fazemos algo irregularmente aqui no Dial P For Popcorn, em que eu e o João nos debruçamos sobre um filme sobre o qual estamos bastante divididos, sobre um filme e a sua sequela, sobre um filme e o seu remake... Bem, penso que já perceberam. O objectivo é proporcionar uma discussão saudável, sem controvérsia, dos méritos do filme (ou dos filmes) de acordo com cada um de nós. Esta semana, o filme em foco é "MONEYBALL", de Bennett Miller, que originou opiniões bastante díspares cá no DPFP.
MONEYBALL, por Jorge Rodrigues:
"MONEYBALL" poderia tentar ser mais um filme sobre o triunfo no desporto, cheio de grandes cenas inspiradoras e elevadoras do espírito humano, que culminaria com uma enorme vitória ou abundante prosperidade ou uma lição de vida aprendida. Os grandes filmes que envolvem desporto (desde "The Fighter" a "Rocky", de "Field of Dreams" a "Remember the Titans") são todos assim. Felizmente, "MONEYBALL" optou simplesmente por ser uma poética homenagem a Billy Beane e aos Oakland Athletics, que independentemente de terem vencido ou perdido, contrariam o ditado que para a história só ficam os vencedores, deixando uma marca indelével, revolucionária, no jogo que tanto amam. Além disso, "MONEYBALL" procura contar ainda uma história mais particular, a da forma como Billy Beane consegue reinventar o jogo que ele era suposto ter dominado, vinte anos antes, e provar a todos que um jogador é mais que um número, é mais que estatística.
Com um diálogo absolutamente vívido e electrizante, igual partes profundo e inteligente - ou não fosse este mais um produto das mãos de Aaron Sorkin, contratado para polir o argumento escrito pelo também Oscarizado Steven Zaillian - que coloca - e bem - o foco não no desporto em si mas nas pessoas que o fazem, com caracterizações muito autênticas que ganham colorida vida nas mãos do talentoso elenco que Bennett Miller tem à disposição, desde um cintilante Philip Seymour Hoffman, uma elegante Robin Wright, uma encantadora Kerris Dorsey, um divertido Jonah Hill e, sobretudo, um extraordinário Brad Pitt, o verdadeiro coração do filme. A auxiliar o poderoso argumento está uma fotografia exemplar de Wally Pfister e uma edição brilhante de Christopher Tellefsen, que condensa o filme de forma exímia, conferindo-lhe um ritmo excitante de seguir. Há que elogiar ainda o trabalho de Bennett Miller ("Capote"), que contribui imenso para o sucesso do filme embora quase não se note, sendo que é nos pequenos detalhes que se nota o seu trabalho. É um trabalho ingrato enquanto realizador, ter que mostrar e não deslumbrar. Mas era o que o filme aqui precisava. E ele cumpriu na perfeição.
Finalmente, toda a gente sabe que Brad Pitt é um dos melhores actores americanos das últimas décadas, arrancando excelentes interpretações de quase todos os seus papéis. Infelizmente, a sua beleza, carisma e a sua fama acabam por ofuscar um pouco o seu talento. Em "MONEYBALL", não há essa preocupação. Despido de quaisquer preconceitos em ser visto como um zé-ninguém (algo que Pitt já não se deve lembrar de ser, dado o seu estatuto de mega-celebridade) derrotado pela vida, o seu Billy Beane sabe, melhor do que ninguém, o risco que corre ao apostar em Peter Brand (Hill), que nunca sequer praticou basebol na vida, para ajudá-lo a dar a volta à injustiça que é o jogo, contratando jogadores que nenhuma equipa queria e, através de um sofisticado sistema estatístico, ganhar pontos através de habilidades particulares que cada jogador tem. Estas decisões controversas e polémicas garantem-lhes a fúria de todos, incluindo a sua equipa de observadores, os comentadores de televisão e da rádio e o treinador, Art Howe (Hoffman), um homem da velha guarda. Pitt desaparece no papel - em 2011 fê-lo novamente noutro papel, em "The Tree of Life" - conferindo a Billy Beane uma graciosidade, um genuíno e humano sentido de estar na vida que é incomum nas suas outras interpretações. Este Billy Beane é uma criação completa, cheia de alma, força e coração (reunindo todas as qualidades de Brad Pitt enquanto actor num só indivíduo).
Um filme tão irreverente como o seu protagonista, "MONEYBALL" não busca respostas, nem procura fazer o espectador sentir-se melhor pessoa por ter visto o filme. Não é um filme com um final feliz. É um filme com um final real. Billy Beane seguiu o seu instinto - aquela palavra que tanto o perturbava inicialmente - como se soubesse que esta revolucionária mudança que estava a tentar implementar fosse realmente a sua última oportunidade de glória. O seu sucesso não foi total - não conseguiu mudar a face do jogo para sempre. Ainda assim, provou que com pouco se pode fazer muito, transformando a sua equipa, das mais pobres da Liga, numa força a ter em conta pelas equipas ricas, basicamente ignorando tudo aquilo que até então lhe tinham ensinado sobre o jogo e as suas regras. Um filme a espaços emocionante, a espaços reflexivo, meditativo, "MONEYBALL" foi uma das boas surpresas do ano, rico, substancial e profundo, a história de um homem imperfeito que só agora descobre finalmente o seu rumo. Mais vale tarde que nunca.
Nota Final:
A-
MONEYBALL, por João Samuel Neves:
Previsível e entediante. Assim é "MONEYBALL". Provavelmente fazendo justiça ao desporto que representa (o basebol) onde só quem gosta percebe o sentido do jogo e saboreia cada um dos seus demorados momentos (desde os preparativos às jogadas propriamente ditas). Podia pontuá-lo com uma nota pior, sem dúvida, mas há pontos positivos que vale a pena ressalvar e que merecem ser tidos em conta. Desde logo, o ambiente do filme. Foi aquilo de que mais gostei e o que me permitiu aguentar o filme até ao seu final. Sente-se a excitação e a intensidade de quem é amante deste desporto. Percebe-se porque é que o desporto é pensado e encarado com enorme responsabilidade e profissionalismo, dá-nos um cheirinho do trabalho hercúleo de gestão e organização de um equipa de alto nível. Coloca-nos dentro da acção e junto dos seus protagonistas.
Desse ponto de vista, "MONEYBALL" é um bom filme. Tem também boas interpretações, com Brad Pitt e (especialmente) Jonah Hill que apimentam a história e lhe dão mais alegria, vida e realismo. Mas depois tem alguns aspectos menos positivos. É tremendamente previsível. É possível perceber-se, desde os primeiros 10 minutos, aquilo que será o filme. E isso, para mim, é algo muito negativo, em especial num filme sobre desporto, em que a emoção e a imprevisiblidade nos alimentam até ao clímax final. A própria história em si (um manager de uma equipa com dificuldades que consegue, graças a um inovador esquema informático, revolucionar a forma como se encara e pensa o jogo) é algo que cativa pouco quem não gostar realmente deste jogo. No final, "MONEYBALL" é um filme jeitoso de 2011. Mas não vai entrar no meu top-10. Nem sequer no meu top-20.
Nota Final:
C
Informação Adicional:
Ano: 2011 Realizador: Bennett Miller Argumento: Steven Zaillian, Aaron Sorkin Elenco: Brad Pitt, Jonah Hill, Chris Pratt, Robin Wright, Philip Seymour Hoffman Banda Sonora: Mychael Danna Fotografia: Wally Pfister
Nostalgia. Um sentimento tão familiar e genuíno, igual parte agradável e desconcertante, inerente à realidade humana. Um sentimento que parece ter estado bastante patente ao longo do cinema de 2011, de "Hugo" a "Midnight in Paris", e que parece encontrar o seu expoente máximo em "THE ARTIST". É uma pena que se tenha tentado fazer de "The Artist" a obra-prima que ele não é, que se tenham criado expectativas ridiculamente altas em torno do filme para, no fim, estas saírem defraudadas e se passar a odiar, de forma também exagerada, um filme que mais não quer do que mostrar o quanto está apaixonado e nos quer apaixonar por outra era, por outro tipo de cinema. É um filme enamorado consigo próprio e, nos seus melhores momentos, enamorado com o próprio cinema a que faz homenagem. Infortunadamente, é também um filme incrivelmente previsível e abundante em redundância que o torna, de facto, um mau espécime para servir de porta-estandarte ao ano da celebração do cinema clássico por excelência.
Filmado integralmente a preto e branco e quase inteiramente mudo, "The Artist" abre inteligentemente com a instrução "Please be silent behind the screen", nos bastidores do cinema onde está a decorrer a exibição inaugural da nova película de George Valentin (Jean Dujardin), "A Russian Affair". Minutos de tensão e suspense seguem o final da projecção, seguidos de alívio e congratulações ao escutar tão estrondoso aplauso. Este tipo de piada subliminar repetir-se-á ao longo de todo o filme, com maior sucesso numas ocasiões que noutras, mas nunca correndo o risco de exagerar.
A história de "The Artist" segue a linha de "A Star is Born" e, em menor grau, de "Sunset Boulevard", com o grande actor da era silenciosa a cair em desgraça com o advento dos filmes falados, ao mesmo tempo que a naïve estreante que outrora ele ajudou no princípio de carreira ascende na hierarquia da fama. Num primeiro encontro epicamente romântico, Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma apaixonada pelo cinema, vê o seu sonho tornar-se realidade ao transformar-se numa sensação da noite para o dia depois de surgir abraçada ao seu ídolo George Valentin numa foto de jornal. Atraente, divertida e cheia de potencial, daí ao estrelato foi um passo e, de um dia para o outro, a sua carreira sobe estratosfericamente, enquanto a de Valentin, que se recusa a acreditar que a forma de arte que lhe era tão querida esteja a desaparecer, declina. A melhor comparação que vi fazer a este filme, na verdade, foi com outro nostálgico filme sobre um homem que se vê subitamente ultrapassado e que passivamente aceita que a sua arte, outrora tão apreciada, seja hoje descartada por uma indústria - e um mundo - em constante evolução: o belíssimo "L'Illusioniste", de Sylvain Chomet. Ambos se servem de um personagem que diz com uma expressão tanto ou mais do que o que diria se pudesse falar. Ambos os filmes acabam por dolorosamente aceitar o destino do seu protagonista.
Que em "The Artist" este semblante de auto-comiseração resulte tão bem se deve a Jean Dujardin numa cintilante interpretação. Dujardin fornece a Valentin uma dose bem reforçada de magnetismo, magia e carisma mas também de vulnerabilidade e sensibilidade que o tornam impossível de resistir. Bejo, muito criticada pela fraca dimensão da sua personagem e pelo pouco esforço requerido, foi para mim uma revelação: a meu ver, o filme não funcionaria tão bem se Peppy não fosse o vulcão de positivismo e simpatia que é. E é preciso uma actriz incrivelmente convincente nesse papel para em poucos minutos criar empatia suficiente para querermos que esta seja bem sucedida e não a amaldiçoarmos pelo destino de Valentin.
Um cinéfilo inveterado e um mestre da pastiche, Hazanavicius sente-se em casa neste tipo de filmes, como o mostra a sua fascinante direcção, carregada de criatividade, inspiração e audácia. Hazanavicius nunca deixa o seu filme-dentro-de-um-filme alcançar a promessa das cenas iniciais, com o seu incapaz argumento a deixá-lo ficar mal na segunda metade do filme, em que a inovadora e calorosa auto-reflexão crítica a que se propõe é trocada por uns bem conseguidos momentos de sentimentalismo que o filme, entretanto, fez por merecer.
Emotivo e enternecedor, infecciosamente alegre, "The Artist" merece ser celebrado, mais não seja porque, talvez sem o próprio filme se aperceber disso, procura replicar no espectador de hoje, de forma incrivelmente astuta, a reacção que o espectador dos anos 20 deverá ter tido quando, ao fim de tanto tempo sem som, os filmes decidiram finalmente ganhar voz. Um pormenor que hoje em dia pode parecer insignificante, mas que depois de mais de hora e meia privado de som, faz toda a diferença. Se "The Artist" fosse somente um exercício estético redundante de imitação, de simulacro cinematográfico, carregado de clichés e inconsequência, seria ainda assim um maravilhosamente belo e bem executado. Como é, ao som da esplêndida banda sonora de Ludovic Bource, que literalmente tece o pano de fundo do filme (e sem a qual este não subsistia), "The Artist" é uma visão luminosa, entusiasmante e positiva sobre a evolução no cinema, na arte, na vida. Mais deslumbrado que deslumbrante (como bem relembra o Flávio Gonçalves na sua crítica ao filme), concordo, até porque o considero irremediavelmente demasiado elogiado; um enorme e sincero prazer, de qualquer forma.
Nota Final:
B+
Informação Adicional:
Ano: 2011
Realizador: Michel Hazanavicius
Argumento: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, Missi Pyle, James Cromwell, John Goodman, Penelope Ann Miller
"Citizen Ruth". "Election". "About Schmidt". "Sideways". Este é o pesado legado que "The Descendants" teria de enfrentar e, como é óbvio, era impossível que fosse corresponder às expectativas de alguém que tem Alexander Payne em elevadíssima consideração e que toma todos os seus filmes como quase perfeitos no conceito e na execução.
"THE DESCENDANTS" conserva, ainda assim, alguns dos toques mágicos de Payne, saindo-se bastante bem com o local escolhido para a rodagem do filme (fotografia excepcional de Phedon Papamichael), com lindas e exóticas planícies havaianas, impacto auxiliado por uma banda sonora absolutamente inspirada que nos transporta facilmente para o ambiente acolhedor, pacato, quente dos trópicos. As interpretações são também bastante sólidas, se bem que estereotipadas: a personagem de Shailene Woodley nunca consegue soar a honesta ou genuína, a personagem de George Clooney tem graves problemas de caracterização - e, por muito que eu admire a qualidade e o talento de Clooney, resta-me sonhar com o que seria esse papel com um actor diferente, porque estou francamente farto que Clooney empreste fragmentos da sua verdadeira personalidade fora dos ecrãs aos filmes que faz - e mesmo Judy Greer tem de emprestar credibilidade a um dos piores personagens secundários que há memória este ano em filmes candidatos aos Óscares.
O problema principal do filme reside no seu argumento, uma pálida comparação em relação aos anteriores filmes de Payne: um argumento confuso, que não sabe bem o que quer, que nem é inteligente nem emocionante, que soa mais a pretensioso do que a autêntico, que transforma quase todas as personagens em indivíduos unidimensionais terrivelmente irritantes e insuportáveis, que espuma falsidade e procura, em vão, um equilíbrio (inexistente) entre o melodrama e a comédia. Preza-se - merecidamente, diga-se - Payne por criar situações e problemas intelectualmente estimulantes dos eventos mais banais do nosso dia-a-dia e com isso construir filmes dotados de razão e empatia, comédias para adultos que sabem conservar bem o toque dramático para deixar uma impressão final memorável do filme.
Em vez disto, em "The Descendants", o que temos é uma rábula de um homem de meia-idade - Matt King (Clooney) - em crise depois de ser informado que a sua mulher, em coma, será desligada das máquinas e que é obrigado a lidar com os diversos membros da família e providenciar suporte, de várias formas, a todos. Pelo meio, descobre a infidelidade da mulher através da filha mais velha, Alex (Woodley) e parte em busca do paradeiro do homem com quem a mulher o traiu, Brian Speer (Matthew Lillard), com a família toda atrás - a filha mais nova, Scotty (Amara Miller) e o abominável namorado da filha mais velha, Sid (Nick Krause). Consequentemente, arrasta para a confusão a mulher de Speer, Julie (Greer), tudo isto enquanto tenta resolver um negócio que tornará a sua família milionária.
A começar pela inglória e horrorosa narração de Clooney que empresta ao filme, logo nos minutos iniciais, toques de falsa emoção, continuando com o diálogo enfadonho e exageradamente melancólico ou irónico, consoante o caso, com personagens mal escritas que não parecem nunca pessoas verdadeiras, com problemas reais com os quais seja fácil criarmos empatia e familiaridade, com uma história que decide que o seu impacto emocional deve residir no desvendar da infidelidade e na forma como Matt lida com a situação, sem nunca nos dar qualquer hipótese de perceber como era o relacionamento dele com a mulher antes do coma, portanto nunca proporcionando forma de o espectador investir nessa relação, esperando somente que simpatize com o protagonista quando este, numa das últimas cenas, chora ao despedir-se da mulher e terminando na tentativa ridícula de santificação do protagonista ao longo de todo o filme através desta jornada de suposta auto-realização, luto e convalescença que este atravessa, nunca perdendo uma oportunidade de apontar todos os erros que a mulher cometeu mas esquecendo-se que na narração inicial Matt é o primeiro a admitir que cometeu muitos erros no seu casamento.
É realmente um testemunho à qualidade de Clooney como actor que ele saia deste filme intocável e com a melhor interpretação da carreira, cheia de nuance e personalidade, mesmo que não resista em imprimir o seu cunho pessoal na personagem (à semelhança do que fez em "Michael Clayton", "Up in the Air", "The Ides of March", "Ocean's Eleven" e muitas outras das suas personagens Clooneyescas), finalmente mostrando mais abertura e complexidade emocional do que é costume. Shailene Woodley deixou-me de água na boca, pois está muito bem, trazendo mais ao filme do que a sua personagem merecia, tal como Judy Greer, da qual sou enorme admirador há muitos anos (desde "15 Going on 30"), que arrasa a sua grande cena. Robert Forster e Nick Krause cumprem eximiamente os seus papéis de antagonistas do filme, um como o inexorável adolescente idiota e desbocado e outro como o velhote reformado, teimoso e de língua afiada.
Apesar de tudo, tal como o outro produto de George Clooney deste ano ("The Ides of March"), "THE DESCENDANTS" tem muito a recomendar. É um filme modesto e generoso sobre a fragmentação da família, sobre o valor do amor fraterno e paternal, sobre a forma como reagimos às adversidades na vida. É, no fundo, uma celebração da nossa humanidade, dos nossos erros e imperfeições. Se bem que as falhas o deixam, no fundo, saber a pouco, é um filme que em nada compromete a excelente carreira de Alexander Payne, um filme com alguns bons momentos e que, mais não seja, proporciona uma simpática sessão de cinema a quem o for ver.
Nota Final:
B-/C+
Informação Adicional:
Realização: Alexander Payne
Argumento: Jim Rash, Alexander Payne, Nat Faxon
Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Judy Greer, Robert Forster, Beau Bridges, Matthew Lillard, Amara Miller, Nick Krause
Foram revelados hoje os nomeados para a cerimónia deste ano dos Óscares, a ter lugar no dia 26 de Fevereiro, apresentada por Billy Crystal. Como é hábito, a categoria de Melhor Música foi a confusão de sempre, Melhor Filme quase conseguia ter dez nomeados de novo (e continuo a achar que "The Girl with the Dragon Tattoo" deve ter ficado mesmo perto de ser o décimo), Melissa McCarthy acaba por conseguir um Emmy e uma nomeação para o Óscar à custa de "Bridesmaids", o melhor filme do ano - "A Separation" - consegue outra nomeação além de Melhor Filme Estrangeiro, Meryl Streep e Viola Davis afinal estão bem mais iguais do que parecia, com "The Help" a ficar mal nas nomeações (só 4, 3 para actrizes), Demían Bichir rouba o lugar a Michael Fassbender e a Leonardo DiCaprio, Melhor Direcção Artística fez asneira grossa este ano a excluir o melhor candidato ("Tinker, Taylor, Soldier, Spy") e a nomear sentimentalismo bacoco ("Midnight in Paris"), entre outras coisas. Comentário mais extensivo terá de ter ficar para amanhã ou quinta, para já deixo-vos com os nomeados e com uma lição que há muito já devíamos ter aprendido: não há hipótese, a Academia gosta mesmo de filmes que puxam ao sentimentalismo e ao coração. Todos os filmes nomeados para Melhor Filme são desse tipo. Algo positivo a sair disto tudo: Gary Oldman é, a partir de hoje, um nomeado para os Óscares.
Quanto às minhas previsões, um ano parco em surpresas mas que eu tentei espicaçar com algumas previsões loucas. Resultado: 67% (80 em 119) sem alternativas, 98 em 119 com alternativas (82%).
MELHOR FILME "The Artist" "The Descendants" "Extremely Loud & Incredibly Close" "The Help" "Hugo" "Midnight in Paris" "Moneyball" "The Tree of Life" "War Horse"
MELHOR REALIZADOR Michel Hazanavicius, "The Artist" Alexander Payne, "The Descendants" Martin Scorsese, "Hugo" Woody Allen, "Midnight in Paris" Terrence Malick, "The Tree of Life"
MELHOR ACTOR Demián Bichir, "A Better Life" George Clooney, "The Descendants" Jean Dujardin, "The Artist" Gary Oldman, "Tinker, Tailor, Soldier, Spy" Brad Pitt, "Moneyball"
MELHOR ACTRIZ Viola Davis, "The Help" Glenn Close, "Albert Nobbs" Rooney Mara, "The Girl with the Dragon Tattoo" Meryl Streep, "The Iron Lady" Michelle Williams, "My Week With Marilyn" MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO Kenneth Branagh, "My Week With Marilyn" Jonah Hill, "Moneyball" Nick Nolte, "Warrior" Christopher Plummer, "Beginners" Max Von Sydow, "Extremely Loud & Incredibly Close"
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA Bérénice Bejo, "The Artist" Jessica Chastain, "The Help" Melissa McCarthy, "Bridesmaids" Janet McTeer, "Albert Nobbs" Octavia Spencer, "The Help"
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO "The Descendants" "Hugo" "The Ides of March" "Moneyball" "Tinker, Tailor, Soldier, Spy"
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL "The Artist" "Bridesmaids" "Margin Call" "Midnight in Paris" "A Separation"
MELHOR DIRECÇÃO ARTÍSTICA "The Artist" "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2" "Hugo" "Midnight in Paris" "War Horse"
MELHOR FOTOGRAFIA "The Artist" "The Girl with the Dragon Tattoo" "Hugo" "The Tree of Life" "War Horse"
MELHOR GUARDA-ROUPA "Anonymous" "The Artist" "Hugo" "Jane Eyre" "W.E."
MELHOR EDIÇÃO "The Artist" "The Descendants" "The Girl with the Dragon Tattoo" "Hugo" "Moneyball" MELHOR MAQUILHAGEM "Albert Nobbs" "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2" "The Iron Lady"
MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL "The Adventures of Tintin" "The Artist" "Hugo" "Tinker, Tailor, Soldier, Spy" "War Horse"
MELHOR MÚSICA ORIGINAL "Man or Muppet" ("The Muppets") "Real in Rio" ("Rio")
MELHOR EDIÇÃO DE SOM "Drive" "The Girl with the Dragon Tattoo" "Hugo" "Transformers: Dark of the Moon" "War Horse"
MELHOR MISTURA DE SOM "The Girl with the Dragon Tattoo" "Hugo" "Moneyball" "Transformers: Dark of the Moon" "War Horse"
MELHORES EFEITOS VISUAIS "Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2" "Hugo" "Real Steel" "Rise of the Planet of the Apes" "Transformers: Dark of the Moon"
MELHOR FILME ANIMADO "A Cat in Paris" "Chico and Rita" "Kung Fu Panda 2" "Puss in Boots" "Rango"
MELHOR DOCUMENTÁRIO "Hell and Back Again" "If a Tree Falls: The Story of the Earth Liberation Front" "Paradise Lost 3: Purgatory" "Pina" "Undefeated"
MELHOR FILME ESTRANGEIRO "Bullhead" "Monsieur Lazhar" "A Separation" "Footnote" "In Darkness"
MELHOR CURTA-METRAGEM, DOCUMENTAL "The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement" "God is the Bigger Elvis" "Incident in New Baghdad" "Saving Face" "The Tsunami and the Cherry Blossom"
MELHOR CURTA-METRAGEM, ANIMAÇÃO "Dimanche/Sunday" "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore" "La Luna" "A Morning Stroll" "Wild Life"
MELHOR CURTA-METRAGEM, LIVE ACTION "Pentecost" "Raju" "The Shore" "Time Freak" "Tuba Atlantic"