Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

DIAL P FOR POPCORN

DIAL P FOR POPCORN

Especial Animação: HOW TO TRAIN YOUR DRAGON (2010)


Há filmes especiais. Há filmes que parecem surgir na tua vida em determinada altura por pura circunstância do acaso mas que, no entanto, parece mais trabalho do destino. Este "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" é um deles. E agora vou ter que contar isto para vos pôr dentro do contexto: Recentemente adquiri um gato. Eu, que sempre gostei de animais mas nunca me havia aventurado a tomar realmente conta de um. E desde que o tenho que me apaixonei perdidamente pelo bicho. De tal modo que imaginar agora a minha vida sem ele põe-me logo num semblante triste. É por isto que a narrativa e a mensagem deste filme me dizem tanto. Porque na verdade quando olho para Toothless vejo o meu gato. E vai-me ser impossível ver o filme com outros olhos, não importa quantos milhares de vezes eu repita essa visualização.


Além desta circunstância feliz, "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" marca também a primeira incursão da Dreamworks em territórios e temas mais sérios, mais adultos, como a perda da inocência com o fim da infância e a entrada na adolescência, como a perda de um amigo e como a capacidade de sobrevivência. Coincidência ou não, é hoje o filme mais criticamente aclamado e aplaudido da Dreamworks, a milhas dos dólares que a franchise "Shrek" fez entrar nos cofres da empresa de Steven Spielberg mas, para compensar, uns bons furos acima, em qualidade, do velho ogre verde.


O filme narra a história de Hiccup, um jovem guerreiro viking, caçador de dragões aprendiz, que dá de caras com um dragão ferido, o perigoso Nightfury, que ele passa a chamar por Toothless e com quem forja uma improvável e poderosa amizade que irá expor a cada um deles o mundo do outro por outros olhos. Através dele, Hiccup começa a perceber que os dragões não são os seres maquiavélicos e demónicos que o seu povo considera, mas sim animais inteligentes, afáveis e até carinhosos, se tratados de forma respeitosa. Juntos, terão que ser eles a força que faz a diferença e mudar a mentalidade do povo viking para quem os dragões são pouco mais do que objecto de caça. 


Uma das razões pela qual "HOW TO TRAIN YOUR DRAGON" resulta tão bem reside na inventiva animação do dragão Toothless. Com maneirismos próprios do nosso gato ou cão de estimação, com movimentos majestosos e com um aspecto a princípio ameaçador mas em seguida dócil e fofinho, Toothless é, sem dúvida, o primeiro motivo pelo qual nos apaixonamos pelo filme. A segunda razão é o facto da narrativa premiar Hiccup pela sua atitude gentil e amigável perante os dragões. Poucos protagonistas de histórias de acção são tão corajosos quanto bondosos, tão bravos quanto sensíveis. Ele não é atlético - é forte mentalmente. Ele é um pacifista - só se envolvendo na guerra entre vikings e dragões porque é obrigado. A sua relação com o seu dragão é das mais comoventes que eu já vi na grande tela - no fim de contas, ele é um rapaz que ama o seu animal e tudo faz por ele. Quem não se iria identificar com isso? Um pequeno milagre, este argumento de DeBlois e de Sanders. O terceiro motivo - e talvez o mais importante para que tanta criança goste do filme - são as épicas, mágicas e intensas sequências de voo e cenas de acção, do mais alto quilate em termos de animação. A Dreamworks finalmente mostra alguma evolução a este nível, com a fotografia - sob supervisão de Roger Deakins - a ser um dos pontos altos do filme. E um dos poucos filmes que posso dizer que faz bom uso do 3D.


O quarto ponto alto é a prodigiosa banda sonora de John Powell. Confesso que pouco conhecia da carreira deste compositor em Hollywood, tendo-me forçado depois de ver o filme a escutar outras bandas sonoras da sua autoria e a concluir o óbvio: apesar de ele ter trabalhos muito bem conseguidos antes, nunca atingiu o nível de brilhantismo e consistência, durante um filme inteiro, como o fez aqui. A banda sonora é entusiasmante, eleva-nos o espírito, alegra-nos ou entristece-nos em meros segundos. É absolutamente brilhante - e imensamente merecido que tenha recebido a nomeação para o Óscar. De resto, só uma pequena palavra para o elenco - e que elenco! Jay Baruchel encaixa na perfeição no corpo e no tom de Hiccup, Kristen Wiig e TJ Miller são hilariantes como os gémeos Ruffnut e Tuffnut, America Ferrera dá um toque de classe a Astrid, Jonah Hill e Christopher Mintz-Plasse, como de costume, providenciam a comédia física e mesmo Craig Ferguson e Gerard Butler destacam-se positivamente pela desinibição em aparvalhar um pouco as suas personalidades mais sérias.

De qualquer forma... Faz-me feliz que a Dreamworks tenha finalmente encontrado um filme no qual tudo aquilo que faz de positivo realmente ajuda a dar uma cor e um toque diferente a uma história invulgar e que tenha conseguido juntar um grupo imenso de gente de qualidade em torno do projecto. Não, não é tão bom como alguns Pixar - ainda assim... quão errado pode ser amar tanto um filme assim, querer abraçá-lo e jamais largar? Quero um Toothless só para mim - e isso, meus caros, diz tudo. Este filme não é perfeito, longe disso até. Mas era o filme que eu precisava na altura em que ele me surgiu e, por isso, nunca hei-de esquecer as emoções que vivenciei no dia em que o vi. "Toy Story 3" pode ser a história de sucesso do ano em termos de animação; contudo, para mim, o ano trará sempre a memória de como aprendi a treinar o "meu" dragão.

Nota: 
A-

Ficha Técnica:
Ano: 2010
Realizador: Dean DeBlois, Chris Sanders
Argumento: Dean DeBlois, Chris Sanders, William Davies
Banda Sonora: John Powell
Elenco (vozes): Jay Baruchel, Gerard Butler, America Ferrera, Jonah Hill, Christopher Mintz-Plasse, TJ Miller, Kristen Wiig, Craig Ferguson, David Tennant, Ashley Jensen



6 comentários

Comentar post