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DIAL P FOR POPCORN

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DAFA 2010: Melhores Argumentos




Bem-vindos à primeira edição dos Dial A For Awards, a cerimónia de prémios de cinema do nosso blogue, Dial P For Popcorn. Iremos revelar, categoria a categoria, os nossos seis nomeados e três vencedores entre aqueles que foram, para nós, os melhores filmes de 2010.


Numa tentativa de terminar estes prémios ainda este mês (meu Deus, sou péssimo para prazos!), vou tentar revelar 2-3 categorias por dia. As duas próximas a anunciar estão relacionadas com algo vital para o sucesso de um filme. Sem um bom argumento, por muito bons que sejam os actores ou por muito visionário que seja o realizador, é (quase) impossível que o filme seja tão bom quanto poderia ser. Este ano trouxe-nos vários exemplos de qualidade para serem nomeados, mas nem todos o podem ser. Assim sendo, passo a anunciar os meus nomeados para Melhor Argumento Original:




ANIMAL KINGDOM
ANOTHER YEAR - #3
BLUE VALENTINE
INCEPTION
THE KIDS ARE ALL RIGHT - #1
TOY STORY 3 - #2


Não fogem muito dos meus 20 filmes favoritos do ano, como se percebe. ANIMAL KINGDOM surpreendeu-me pela forma como nos conta uma história sem nunca exagerar nalgumas situações que seria fácil escorregar para tal, pela forma inteligente como confere reviravoltas meio inesperadas, pela riquíssima caracterização das suas personagens e por ser um filme - e um argumento - tão maduro tendo em consideração que é a película de estreia do seu realizador/argumentista. Bónus: a avó Smurf. Brilhante toque de génio. ANOTHER YEAR só vem comprovar que Mike Leigh é um mestre da escrita. Desta vez, este argumento parece vir mais de dentro que os seus anteriores, como se a mensagem que Leigh quer passar é uma que ele aprendeu recentemente. Todas as personagens desta história têm a sua própria história a contar, o seu próprio passado a revelar. E nenhuma é mais interessante que a outra. O que torna o argumento, no seu todo, um processo fascinante de desvendar. O argumento de BLUE VALENTINE parece orgânico, natural, avança e recua no tempo de forma sublime para nos mostrar o evoluir de uma relação sempre destrinçando bem a situação das personagens numa e noutra altura e o que as move então e agora.  INCEPTION é algo diferente de tudo aquilo que vimos este ano. Alterar a linearidade do tempo e do espaço e conseguir explorar tão bem a dicotomia fina entre a percepção e a realidade, entre o que é o sonho e o que é verdadeiro, expondo as nossas concepções e noções de realidade e imaginação a paradoxos, brincando com a ilusão da mente humana e a natureza insidiosa das ideias (como muito bem disse Pete Hammond na sua crítica na Variety), não é para todos. Fazer da mente, do sonho, um puzzle metafísico, metafórico, não é para todos. Nolan conseguiu-o. THE KIDS ARE ALL RIGHT tem, para mim, o argumento original mais perfeito do ano. Delineia as relações entre as personagens de forma impecável, a caracterização de cada é imaculadamente efectuada e as motivações de cada bem exploradas. Pelo meio, encontramos um texto cheio de situações propositadamente engraçadas que não foge ao humor com assuntos delicados e sérios. Resumidamente, uma estrutura perfeita para uma comédia invulgar. Finalmente, estive numa luta interior para decidir como categorizar TOY STORY 3; depois de muito ponderar, decidi considerá-lo um argumento original, se bem que seja um que tem grande ajuda dos outros dois que o precederam para ajudar à choradeira e à nostalgia ao longo do filme. Apesar de tudo isto, não há como não elogiar o texto inteligente que escreveram para concluir a mais excelente trilogia do cinema moderno. Continua a tradição da Pixar de fazer escolhas inteligentes e divertidas em todos os seus filmes, de criar personagens inesquecíveis (Ken, Lotso) e de escrever diálogos puramente hilariantes.

Quanto aos meus nomeados para Melhor Argumento Adaptado:



HOW TO TRAIN YOUR DRAGON
RABBIT HOLE - #2
THE GHOST WRITER - #3
THE SOCIAL NETWORK - #1
TRUE GRIT
WINTER'S BONE


As cenas de acção são potentes, mas é nas cenas mais enternecedoras que o argumento de HOW TO TRAIN YOUR DRAGON se revela, mostrando uma qualidade no diálogo, na exploração da caracterização das personagens (tão atípico dos outros títulos da Dreamworks) e na criação de um dos melhores animais de estimação que há memória que me chocou positivamente. TOY STORY 3 pode ter sido o mais inteligente, TANGLED o mais divertido e L'ILLUSIONISTE o mais sentimental, mas o que mais apela ao coração é este. RABBIT HOLE já era, só por si, uma valente peça. A adaptação cinematográfica desta pelo próprio autor, David Lindsay-Abaire, tem o condão de conseguir manter todo o seu poder na transição do teatro para o cinema e ainda explorar outras pequenas histórias que no teatro não teriam tanta atenção. Um argumento de qualidade inegável que consegue ser sério e bem-disposto sem nunca exagerar na dose e que nos trouxe personagens completas, maduras, sinceras, honestas. THE GHOST WRITER é outro que não perde pitada da sua qualidade ao passar de livro para filme. Polanski viu bem o potencial que o livro, com a sua caracterização detalhada de todas as personagens menos de uma - o Fantasma - tinha para se transformar num drama/thriller excelente, com imensos twists, que nos prende até ao fim - tinha. Com o dobro das páginas de um argumento normal, Aaron Sorkin cria uma obra-prima de um argumento,  pura poesia verbal, imensamente citável, inesquecivelmente tragicomédico, que obriga os seus actores a darem tudo de si para fazerem transcender este simples texto num diálogo grandioso e imponente. Não importa o que me digam, dentro de cinquenta anos este argumento vai ser considerado um dos dez mais valiosos de sempre. Também ajuda, digo eu, que em THE SOCIAL NETWORK toda a gente tenha trabalhado a 200% para nos proporcionar esta experiência especial de ver um argumento transformar-se em tanto mais.  Falta-me falar de mais duas adaptações literárias: TRUE GRIT conserva todo o espírito da obra de Charles Portis, ao qual se soma o típico e indelével estilo literário dos irmãos Coen - tudo junto dá um western clássico muito melhor que o seu antecessor de 1969. WINTER'S BONE é adaptado de forma maravilhosa por Granik e Rossellini para o ecrã, mantendo toda a tempestuosidade e o peso da narrativa.

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