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DIAL P FOR POPCORN

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CONTAGION (2011)






"It's figuring us out faster than we're figuring it out."

Começo por dizer que Steven Soderbergh é dos realizadores americanos que mais admiro. Só ele para construir uma carreira que alterna entre filmes de largo orçamento, produzidos pelos grandes estúdios de Hollywood, e pelos pequenos filmes independentes que, numa fase inicial, lhe ditaram o futuro na profissão. Durante uns tempos, Soderbergh tentou conciliar ambos, realizando dois filmes no espaço de um ano e lançando-os quase ao mesmo tempo. De repente, cansou-se e parou. E o mundo do cinema despedia-se não só de um dos seus autores mais profícuos, mas também um dos mais irreverentes e talentosos. E se bem que ele nunca há de voltar aos níveis de genialidade atingidos com o seu auspicioso início "Sex, Lies and Videotape", vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1998, é sempre bom tê-lo de volta ao que melhor faz: filmes. E 2011 oferece-nos dois filmes dele, ainda por cima.

O primeiro desses a ser lançado é este "CONTAGION", que reúne um elenco impressionante de brilhantes e talentosos actores para contar a história de como uma simples infecção viral pode provocar, de forma estrondosa, uma revolução no mundo inteiro, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, o real perigo do fim do mundo pode não estar em terramotos ou dilúvios ou outros desastres naturais, mas sim numa pandemia microbiológica multirresistente, capaz de ceifar a vida a milhões de pessoas enquanto semeia o pânico e a guerra entre pessoas, entre nações, entre o mundo.



A narrativa de "Contagion" é algo que já foi contado várias vezes, por diversas perspectivas, mas sempre da mesma forma. O que faz o filme de Soderbergh tão diferente dos outros (para melhor) é o facto de abordar a situação do ponto de vista de cada personagem, da forma menos sensacionalista e mais realista possível. O filme parece funcionar até como uma espécie de documentário, tal é a sua vontade de ser levado a sério e a sua precisão a nível científico (algo que é de louvar). Comporta-se como um thriller adulto que tenta fazer passar uma amálgama de mensagens, algumas políticas, outras sociais, acerca da forma como a sociedade actual reage a este tipo de acontecimento. Procura ser minimamente assustador e impressionante. Contudo... a não ser que seja um verdadeiro misofóbico (que tem horror a germes) - que eu sou, já agora - penso que não deve recear ver este filme. Se os germes o assustam... Bem, prepare-se. O filme não ajuda nada.



O filme abre então com a chegada de Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow) a casa, onde encontra o seu marido Mitch (Matt Damon) e o seu filho Clark, já visivelmente debilitada e doente depois de uma visita de negócios a Hong Kong. A sua doença, aparentemente, não é um caso isolado, pois acontece o mesmo a uma top model ucraniana de regresso a Londres, um empregado de mesa chinês e um homem de negócios japonês. Partindo destas primeiras pessoas infectadas, a película observa o desenrolar cronológico da progressão do vírus, apresentando-nos, além de mais indivíduos que contraem a doença, o grupo de pessoas responsáveis por parar a proliferação da infecção, entre eles médicos - Dr. Orantes, especialista da OMS (Marion Cotillard), Dr. Mears (Kate Winslet), Dr. Hextall (Jennifer Ehle), Dr. Eisenberg (Demetri Martin), Dr. Sussman (Elliot Gould) e Dr. Cheever (Lawrence Fishburne), responsáveis do CDC - e figuras governamentais (Bryan Cranston, Enrico Colantoni) e ainda nos introduz uma questão pertinente sob a forma de Alan Krumwiede (Jude Law), um oportunista blogger australiano que pretende lucrar com a crise e que cria teorias da conspiração em que menciona documentos que teriam sido ocultados pelo governo acerca do vírus e do seu tratamento.



Algo a admirar em "Contagion" é a forma surpreendentemente vivaz e empolgante com que se desenrola o filme, não deixando lugar para o aborrecimento durante as suas quase duas horas de duração. Também há que elogiar Soderbergh por nunca deixar que a história de uma das personagens se sobreponha às outras, dando tempo a todas sem nunca permitir que uma ganhe proeminência. Claro que o elenco é seu aliado, pois tanta gente com talento nunca poderia dar mau resultado. Não há um ponto fraco, tal como não há (por razões óbvias, como já expliquei) ninguém que se destaque. Scott Z. Burns e Steven Soderbergh mantêm o argumento o mais simples, plausível e directo possível, sendo que o único detalhe que me recorde incomodar-me é o facto de praticamente nenhuma das personagens ter grande profundidade - algo que neste tipo de filme não choca ninguém também, por isso penso que esse será um mal menor. A banda sonora electrizante de Cliff Martinez, a edição impecável de Stephen Mirrione e a fotografia sumptuosa - a cargo do próprio Soderbergh - ajudam a manter as coisas interessantes.



O final deixa as coisas irremediavelmente resolvidas e, com tantas personagens para nos despedirmos e vermos a sua história ser encerrada, permite-se entrar em alguns clichés desnecessários e que teriam ficado melhor fora do ecrã mas, ainda assim, é um dos filmes imperdíveis do ano e uma fonte de entretenimento garantido, mais não seja porque o seu objectivo é maior do que contar uma simples história: "Contagion" tenta colocar-nos a discutir e a questionar tudo aquilo que nos foi mostrado.


Nota Final:
B

Informação Adicional:

Realização: Steven Soderbergh
Argumento: Scott Z. Burns
Elenco: Marion Cotillard, Bryan Cranston, Matt Damon, Jennifer Ehle, Lawrence Fishburne, Jude Law, Demetri Martin, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet
Fotografia: Steven Soderbergh
Banda Sonora: Cliff Martinez
Ano: 2011


Trailer:

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