Bem-vindos a mais uma rubrica semanal aqui no Dial P for Popcorn - "O Cinema Numa Cena" tenta mostrar as nuances de uma interpretação fora-de-série numa cena pivotal do seu filme. Esta semana temos o grande Javier Bardem em "No Country for Old Men" (2007).
Peço desculpa por só agora estar a pegar nesta rubrica que é originalmente de Domingo mas outros assuntos pendentes (Inception) obrigaram a que tivesse de deixar todo o meu blogging para hoje. Mas cá vamos então. Como sabem, a retrospectiva dos Óscares vai servir para fazer um pequeno balanço das cerimónias, desde o ano mais recente (2009) para trás, avaliando os seus pontos bons e as coisas mais fracas. E é precisamente por 2009 que começamos.
A Surpresa: várias, na grande maioria desagradáveis, mas a maior terá sido, sem dúvida, o feito de "Up!" - ser o primeiro filme animado a ser nomeado para Melhor Filme desde "Beauty and the Beast" (1991) e ser o segundo do género em toda a história da Academia não é para todos. E é bastante merecido.
A Inclusão Mais Notória: poderíamos fazer aqui relevância ao elevado número de filmes de pequena dimensão a fazer parte dos 10 nomeados, como Precious, A Serious Man e District 9, mas se formos a ver a maior inclusão foi mesmo a de JeremyRenner como Melhor Actor. É que apesar de muitos acharem meritória e até mesmo possível, poucos queriam apostar em seu favor. O que é certo é que o eventual grande vencedor da noite acabou por conseguir dar um empurrãozinho ao seu actor na lista.
A Exclusão Mais Significativa: mas alguém estava à espera de tanto mau-trato ao "Nine" e ao "Invictus"? É que nunca imaginei. E então os dois grandes candidatos fora da principal categoria? Já para não falar do shut-out feito a "The Lovely Bones" também? O ano não estava a favor.
O Mais Merecido: Jeff Bridges, também conhecido por "The Dude" dada a imortalidade que essa sua interpretação adquiriu, venceu Melhor Actor por "Crazy Heart", um papel bem abaixo da qualidade do intérprete mas mesmo assim suficiente para gerar uma campanha bastante favorável à sua vitória. A noite dar-nos-ia ainda mais dois excelentes vencedores na forma de Mo'Nique e Christoph Waltz. Os três mereceram mesmo os prémios todos que ganharam.
O Mais Imerecido: há algumas vitórias que me irritaram, mas essas são mencionadas apropriadamente mais à frente. O vencedor mais imerecido (mas que não deixa de ser minimamente bom) foi "El Secreto de Sus Ojos", que criminalmente venceu uma categoria onde existiam três filmes como "Un Prophète", "The White Ribbon" e "La Teta Asustada".
O Desnecessário: já sabemos o quão slut a Academia consegue ser com algumas das suas estrelas e por muito mau que um filme seja, elas, só pelo poder do seu nome e o estilo do papel, aterram na lista à mesma. É claro que me estou a referir a Helen Mirren e a Morgan Freeman principalmente, mas também a Stanley Tucci, Matt Damon e Maggie Gylenhaal, que apesar de conseguirem a sua primeira nomeação (Damon venceu um Óscar mas como argumentista; como actor foi pela primeira vez nomeado) tiveram interpretações bastante más nos seus respectivos filmes.
O Incompreensível: se houve decisão mais idiota por parte da Academia... por muito excelente que tenha sido Cruz em "Nine"... Será que ninguém reparou numa das melhores interpretações do ANO, via MarionCotillard? Enfim.
A Desgraça: já se passaram 27 anos desde que Meryl Streep venceu um Óscar (em 1982, por "Sophie's Choice"). Ainda assim, não se vê ninguém nos mídia que durante estes 27 anos tenha decidido fazer campanha para Streep vencer o seu terceiro. Contudo, estão sempre prontos a fazer campanha por qualquer actriz rasca que por aí ande que os espante. Mais um ano, mais uma nomeação para Streep, por uma brilhante interpretação como Julia Child em "Julie & Julia". Ela já não deve saber o que há-de fazer para ganhar outro, uma vez que viu o seu troféu fugir para SandraBullock, uma actriz abaixo do medíocre que conseguiu um papel mediano em "The Blind Side". E como se já não bastasse, ainda conseguiu sacar uma nomeação para Melhor Filme. Haverá justiça no mundo?
O Pesadelo: mas essa não foi a pior vitória da cerimónia. A pior foi mesmo a derrota de "Up in the Air" na categoria de Melhor Argumento Adaptado. Um argumento inteligente, adequado à situação que vivemos, com caracterizações das personagens estupendas e cheias de complexidade, perde para uma miséria de argumento que foi de longe (ao lado da edição - ironicamente, também aí "Up in the Air" não nomeado mas "Precious" sim) a parte mais fraca do filme "Precious". Geoffrey Fletcher subiu ao pódio no que devia ter sido o momento de Reitman (as confusões que ele o seu parceiro Sheldon Turner originaram devem ter custado caro).
A Melhor Vitória: Sem dúvida, "Logorama" para melhor curta-metragem animada. É brilhante.
O Duelo da Noite: "The Hurt Locker" vs. "Avatar" foi um duelo (fictício, quase) criado pela imprensa e criado pelos Globos de Ouro (que estupidamente decidiram vomitar prémios ao filme do sr. James Cameron, só porque fez 2 milhões de dólares...) com dois filmes medíocres a chegar à cerimónia como os favoritos. Já disse e repito, não premiar filmes que viram clássicos (casos mais recentes: There Will Be Blood em 2007, Rachel Getting Married em 2008, Up in the Air em 2009) é um erro do qual se arrependem mais tarde (todo o mundo fica chocado quando descobrem que filmes como Citizen Kane, Brokeback Mountain ou The Thin Red Line não ganhou o Óscar, por exemplo). Enfim, vamos ao duelo da noite - se é que houve duelo: como já era de prever, "The Hurt Locker" passeou-se pelo Kodak Theatre e levou 6 prémios, só perdendo coisas que obviamente não tinha capacidade de ganhar: Renner (Actor), a banda sonora e - o que mais estupidamente me chocou - a fotografia (onde é que "Avatar" tem fotografia se é tudo gerado por CGI?! De qualquer forma, esse prémio, se não fosse para Avatar, iria sempre para "Inglorious Basterds").
E pronto meus caros, é isto. Domingo temos a retrospectiva de 2008. Só deixar umas notas finais:
Qualidade da cerimónia - B
Qualidade dos nomeados - B
Qualidade dos apresentadores (Steve Martin e Alec Baldwin) - B-
Estreou esta semana Inception, o novo filme de Christopher Nolan.
Antes da review deste filme, coloco aqui o meu Top sobre os filmes que já vi deste realizador:
1.º - Memento 2.º - The Prestige 3.º - The Dark Knight 4.º - Batman Begins 5.º - Insomnia
Memento será muito provavelmente o seu melhor filme de sempre, independentemente dos filmes que venha a fazer (e neste ponto, espero sinceramente estar errado, porque seria muito bom sinal!). Durante a próxima semana tentarei ver Inception e assim que poder, faço aqui a minha review. Sintam-se à vontade para discordar do Top ;)
Depois de ONDAS DE PAIXÃO (1996) e DANCER IN THE DARK (2000), eis que o génio de Lars von Trier surge em alta mais uma vez em DOGVILLE. Ancorado por mais uma magnífica interpretação de Nicole Kidman na sua fase mais áurea — tendo mesmo viajado para a Dinamarca no dia seguinte a receber o Óscar — DOGVILLE rouba inspiração a Brecht e a Wilder para criar uma fábula contra a americanização e, mais que isso, uma alegoria interessante sobre a crueldade e egoísmo da condição humana.
Von Trier reinvigora as suas temáticas habituais de opressão e realismo com uma radical abordagem à história, inventando um cenário despido, com as paredes das casas da pequena aldeia onde a narrativa decorre simplesmente desenhadas a giz. Este efeito de alienação, foi amplamente discutido e aplicado por Brecht no seu teatro por obrigar o espectador a focar-se nos temas e ideias em discussão ao invés dos cenários ou do ambiente. A crítica está lá, como sempre, acutilante, agressiva e ousada, bem ao estilo do provocateur dinamarquês. John Hurt, que narra o conto, apresenta-nos Grace (Kidman) que ao fugir das autoridades dá de caras com a pequena aldeia de Dogville, nas Rocky Mountains, nos anos 30. Quando os cidadãos da isolada e retrógada pequena comunidade não a recebem da forma mais calorosa, Tom (Bettany), filósofo e filho do médico da aldeia, vê-se obrigado a interceder por ela, pedindo que lhe seja dado abrigo e uma oportunidade. Grace, buscando ardentemente a aprovação dos seus pares, sujeita-se ao seu escárnio, discriminação e escravidão, ganhando esforçadamente o afecto e admiração de todos ao longo do tempo perdendo a sua identidade e personalidade até se tornar definitivamente um deles. Mal sabia ela que quando dados do seu passado se revelassem a tortura e opressão aumentaria e aquela pequena e dócil comunidade revelaria a sua real personalidade. Desde o mais mesquinho ao idealista Tom, cada um assume as suas cores verdadeiras e todos, da sua forma, condescendem e maltratam Grace.
DOGVILLE nem sempre consegue executar as ideias e ambições a que von Trier se propõe. Nem sempre o seu conceito resulta na prática e partes do filme parecem esforçar-se para encaixar e muito depende da capacidade que o espectador tenha para analisar criticamente e absorver o que está a ser exposto em ecrã. Não deixa nunca de ser uma obra viva, elegante, experimental e incrivelmente original. A exposição do dinamarquês sobre a injustiça que reina na sociedade contemporânea, violenta, desumana, fechada e antipática, em que muitas vezes julgamos os outros pela sua aparência e não damos oportunidade a quem é diferente de nós, é pertinente, actual e justificada. O seu voraz apetite para introduzir missivas contra os americanos, apesar de desnecessário, não retira valor ao resultado final do filme. Desafiador e profundo, DOGVILLE deve ser comemorado, porque além de uma obra-prima singular, de cunho indelével do cineasta dinamarquês, procura algo mais: fazer o espectador pensar criticamente, para variar.
por João Samuel Neves
"This is the sad tale of the township of Dogville. Dogville was in the Rocky Mountains in the US of A, up here where the road came to its definitive end, near the entrance to the old abandoned silver mine. The residents of Dogville were good honest folks, and they liked their township. And while a sentimental soul from the East Coast had once dubbed their main street Elm Street, though no elm had ever cast its shadow in Dogville, they saw no reason to change anything. Most of the buildings were pretty wretched, more like shacks, frankly. The house in which Tom lived was the best, though, and in good times, might almost have passed for presentable. That afternoon, the radio was playing softly, for in his dotage, Thomas Edison senior had developed a weakness for music of the lighter kind."
Assim começa Dogville, ao som da voz de um Narrador que nos acompanha por todo o filme, servimdo de elo de ligação entre os vários momentos e as várias fases que este filme atravessa.
Após um Prólogo de introdução e apresentação da pequena aldeia de Dogville, a acção (leia-se, a chegada de uma estranhae misterosa mulher, Grace) inicia o primeiro de nove capítulos, nos quais a história se vai desenvolver.
Marcado pelo seu característico cenário (digno do seu realizador, Lars von Trier), o filme é todo ele criado à volta das relações inter-pessoais que se estabelecem entre Grace e os restantes membros da aldeia. De entre estes sobressai Tom, filho de um médico na reforma, aspirante (falhado) a escritor e rapaz que se julga dotado de um dom superior que lhe alimenta ideias infelizes e projectos falhados. Entre estes, está a integração de Grace na comunidade. Fico-me por aqui em relação a Dogville, esperando ter criado algum interesse neste fantástico filme sobre aquilo que é o ser humano e sobre as consequências que a falta de valores, a inveja ou a gula, acabam por ter, não só em quem pratica como também em quem os rodeia.
Na minha opinião, 10/10 (A). Um óptimo argumento e realização levados a cabo por Lars Von Trier (A) e uma óptima interpretação não só de Nicole Kidman (A) como também de Paul Bettany (B) e de Stellan Skarsgård (B).
Frase: "There's a family with kids. Do the kids and make the mother watch. Tell her you'll stop if she can hold back her tears. I *owe* her that."
Trailer:
Informações Adicionais: Direcção: Lars Von Trier Argumento: Lars Von Trier Produção: Vibeke Windelov Fotografia: Anthony Dod Mantle Desenho de Produção: Peter Grant Tempo de Duração: 177 minutos Ano de Lançamento (França): 2003
"All About Eve" foi o grande vencedor da noite dos Óscares em 1951, arrecadando 6 estatuetas (de entre as suas 14 nomeações no total), incluindo a de Melhor Filme. Infelizmente, nenhuma das suas protagonistas femininas, Anne Baxter e Bette Davis, ambas gloriosas no filme, conseguiram vencer Melhor Actriz, naquele que foi um ano atípico nesta categoria, com também Gloria Swanson, divinal em "Sunset Boulevard", a perder o prémio para Judy Holliday ("Born Yesterday") que era sem dúvida alguma a pior das cinco nomeadas.
Esperemos que a vossa fome por cinema seja aqui saciada por nós, também dois indivíduos para quem o cinema, mais que alimento para a alma, é alimento para a vida. Não dá para imaginar a vida sem ele.
E foi com esse intuito, de darmos a conhecer mais e melhor cinema, que decidimos enveredar neste projecto que esperemos que corra bem.
E agora, tal e qual uma estação de televisão revela a sua programação, também nós vamos revelar aqui qual é a nossa agenda semanal (ou, pelo menos, aquilo que temos programado fazer por semana):
SEGUNDA
Notícias
Trailers
Comentários sobre filmes vistos no cinema nessa semana
TERÇA
Projecto: Pessoas que fizeram a década
Projecto: Personagens inesquecíveis do cinema
QUARTA
Estreia da semana
Filmes Estrangeiros
QUINTA
Recomendações da semana
Música... no cinema
Filmes Portugueses
SEXTA
Dia de televisão: crítica de séries e notícias
Projecto: IMDb Top250
SÁBADO
Recomendamos sempre um filme Oscarizado e um filme relativamente desconhecido que achamos interessante ver
Projecto: Melhor Filme (1929-2009) (sempre à terceira semana de cada mês)
DOMINGO
Retrospectiva: Óscares
Previsões: Emmy, Oscar, Globos de Ouro (sempre à segunda semana de cada mês)
Concluo com uma final palavra de apreço a todos aqueles que nos ajudarem e nos divulgarem, para dotar este blog de alguma referência dentro do género em Portugal.